domingo, 30 de janeiro de 2011

• Novidades Blindgirls! [2]

Vamos direto ao assunto: Estou escrevendo um novo livro, que se chama Os Setians.
Aqui vai a Sinopse do primeiro livro da série ( Khnurn e Ákila - 1ºVolume):






Sinopse


Destinados a massacrar os descendentes de Seth e vingar a Deusa Ísis, os Setians vão encontrar mais um motivo para lutar... O Amor.

Khnurn, guerreiro de grande credibilidade entre os clãs dos Setians, foi encarregado por uma Tyet a cuidar e consagrar seu clã Viperines (Serpente). Líder de uma das últimas linhagens de Ísis, Khnurn se vê na obrigação de manter a sobrevivência de seus oitos guerreiros e destruir definitivamente o seu maior inimigo, os decadentes. Nada, nem ninguém poderia arrancar esse destino de suas mãos...

Ákila, membro do clã dos Guardiões (Escorpião), passou a vida em uma missão suicida, ser uma guerreira de Ísis, representando seu amado clã. Infelizmente mulheres não eram aceitas. Como meio de alcançar seu desejo, Akila se alia ao guerreiro mais consagrado do clã, Bennu. Sendo uma das companheiras de Bennu, Akila se compromete à causa e luta junto a seu amante. Como sacrifício se priva de seu alimento primordial, energia sexual, e se mantém ligada apenas a um companheiro. E nada a impediria de ter o que mais desejava...

Conheça a histórias dos Setians. Guerreiros de Ísis, reencarnação de forças antigas e poderosas, que se alimentam de energia alheia e sangue, destinados a destruir os descendentes de Seth, deus egípcio que traiu a deusa Ísis e foi morto futuramente por Horus. Em busca de vingança seus sacerdotes lançaram pragas aos seus seguidores e os tornaram em almas perdidas, os descendentes de Seth, os decadentes. A guerra começa. Mas não é apenas a luta que tem a função de salvar os guerreiros de Ísis da extinção, a procriação também. Lançadas por Ísis a terra, as Femis, vem à procura de seu guerreiro para lhe dar a maior dádiva que um Setian pode ter, um filho.


- - - >Pra quem curti  Irmandade da Adaga Negra, Senhores do Submundo, Sentinelas... esse é seu livro. Se não conhece, vem saber um pouco sobre. Enjoy a Comunidade Os Setians.

• Novidades Blindgirls!

Eu já falei sobre os capítulos finais, agora vou falar da nova comunidade Epifania!



Terminei Redenção, mas não vou deixar vcs de castigo por muito tempo. Como disse no poste anterior vou postar os capítulos só na comunidade. Então se vc quiser saber das novidades, enjoy!

Pra quem quiser mais uma forma de contato aqui vai duas:

. O Perfil da Saga (orkut)

. O Tumblr da Saga


P.s.: Agradece e MUITO a Gabi do Livros e Citações (segue meninas. muito boa as frases) por ter feito o Tumblr. Amei. E lindo. PERFEITO!

• Redenção - Últimos Capítulos



Eu sei. Eu sei. Demorei pra postar, mas I´m back, baby!  Por força maior decidi postar os capítulos finais só no orkut, mas não tive tempo de anunciar no Blog. Bem. . . Os Capítulos finais estão aqui:

Boa Noite, Boa Viagem

Redenção

Mas avisando: Para ler tem que ser membro da Comunidade Blind. Então Enjoy!

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Comunicado Oficial:

Infelizmente devido ao vestibular no final do ano eu terei que me ausentar durante o final desse mês de novembro ate dia 14 de dezembro. 
Com esta informação, os dois últimos capítulos de Redenção e o epílogo de Epifania serão digitalizados apenas no final do mês de dezembro.  Ou seja, no natal vai ter presentes pra todas vcs.      




Obrigada, Kyara Layne. 

domingo, 3 de outubro de 2010

Capítulo 26 - *Verdades Veladas:


Eu não sabia o que pensar. Eu mal sabia o que sentir. Eu apenas corria. Corria entre os corredores, me escondendo dos principados, me esgueirando, fugindo, indo ate Sura. Ela estava sendo protegida, havia vários deles pelo caminho, mas eu consegui passar a todos sem ser percebida. Um único pensamento em mente. Não foi ele, não poderia ser. Talvez por isso eu consegui ser tão precisa, tão cautelosa, atravessar todo o Instituto sem ser vista. Eu fui sorrateiramente do jardim a parte frontal do Instituto. Eu nunca tinha ido ate lá, era sempre ela que vinha a mim, mas eu sabia onde ficava. Ficava próxima a entrada, na parte mais distante das salas e das áreas de treino, mas bem próxima ao perigo que estava se instituindo aqui. Eu tinha quase certeza que Sura não estaria em seu quarto. O Conselho provavelmente a tiraria daqui o mais rápido possível, considerando o perigo que ela corria. Ela era uma das mais velhas dominações e mais poderosas, um alvo valioso para  a Corte. Porém eu tinha que tentar. Talvez ainda não tivesse tempo de tê-la tirado do Instituto, talvez ela ainda estivesse se preparando para ir ou mesmo decidido ficar, contra as decisões do Conselho. Não havia ninguém no corredor estreito ou mesmo perto a porta. Fui ate a porta em passos contados e escutei a voz de Sura. Eu estava certa, ela ainda estava aqui, mas não sozinha.
- O que esta acontecendo aqui, Sura?
A voz soou ameaçadora e seca. E eu sabia bem quem a pronunciava.
- Eu não tenho mais nada a dizer Victor, agora saia do meu quarto...
Houve um riso curto, descrente.
- Você acha que toda essa história me convence? Você acha que eu vou acreditar no que a Bianca disse? A Luisa pode odiar o Instituto, mas ela odeia mais eles do que tudo isso. Ela preferiria morrer a se envolver em toda essa guerra novamente, você sabe disso Sura. Agora, me diga o que esta acontecendo aqui...
- Ela já se envolveu quando decidiu voltar pra cá Victor. E eu não me importo com que você acredita, eu só quero que você saía.
O silêncio perdurou por um tempo. Tempo suficiente para me dizer que as coisas estavam tensas.
- Eu não vou sair daqui ate você me dizer o que realmente esta acontecendo... Porque você esta mentindo Sura? O que você e o Lucius escondem de mim?
- Eu não escondo nada Victor, eu já te disse isso. Agora, por favor, saía do meu quarto.
A voz de Sura ficou mais tendenciosa. A última frase não soou mais como um pedido e sim uma ordem. Mas isso não afetou Victor, na verdade ele ate riu.
- O que você acha que é pra mentir assim... Eu conheço cada detalhe seu, cada olhar, cada gesto, cada mentira – ele degustava as palavras agradado com o silêncio de Sura – cada segredo que se esconde por debaixo da sua pele. Sua falta de fé em mim sobre isso me ofende.
- E você ainda se vangloria, Victor. Previsível. Se você me conhecesse tão bem saberia o que esta acontecendo aqui, mas as coisas mudaram, eu mudei. Nada é como antes. Não confunda o passado com o presente, Victor. Eu já esqueci tudo... Pensei que você também já tivesse. – sua voz mais distante agora, dizendo que ela estava cansada de discutir.
- Você esqueceu? Eu não acho – houve uma pausa, entre um respirar e outro - Você não mudou nada, meu anjo, eu posso ver em seus olhos, nesses lindos grandes olhos verdes, que você me ama, que você sempre vai me amar.
- Não Victor... Eu não te amo mais, não depois de tudo. Eu te amei com todas minhas forças, mas não mais.
- Você mente pra mim – a voz de Victor alterada, mais grossa e desesperada – Você mente sobre isso, sobre a Luisa, sobre a Claire, sobre tudo. Desde que eu conheci a Claire, eu sei que tem algo que você esconde. Eu provei o sangue dela, senti o gosto tão familiar pra mim, eu sei o que ela é...
- Você fez o que?!
Sura, que parecia tão controlada, gritou com força, fúria. Ela parecia não acreditar no que acabava de escutar. Um frio arrepio se estendeu por minha nuca.
- Porque você a escondeu do Conselho, Sura? O que você planeja fazer com ela? O que há de tão especial nela?
Um estrondo forte se fez na porta, fazendo me afastar um pouco, mas continuei no mesmo lugar.
- Você sugou o sangue dela? – ela diminuiu seu tom de voz, mas eu pude sentir por detrás de cada palavra a raiva – Você esta a usando... Usando sem se importar com as conseqüências, você sabe o que pode acontecer se o Conselho descobrir e você não se importou. Eu não vou deixar você fazer isso a ela, fazer o mesmo...
- Que eu fiz a você.
Eu pude ouvir o ressentimento na voz de Victor, como uma dor profunda, cheia de arrependimentos. Aos poucos eu entendi o que aquilo poderia significar e por pior que possa ser, eu me senti traída.
- Eu não vou permitir isso Victor, você não vai usá-la mais. Eu o mato antes que você possa fazer algo.
- Me matar? - Victor agora estava sendo como sempre fora, irônico e frio – Não há como você me matar, eu morri no dia em que você me deixou.
- Deixei você?! – a raiva de Sura aumentando gradualmente – Você me abandonou, Victor, só você! O que você acha que aconteceu depois? Eu já estaria morta se não fosse Lucius. O único culpado foi você.
- Eu fiz o que era necessário.
- Da mesma forma que você esta fazendo com Claire, certo? Magoando-a, manipulando pra conseguir o que quer...
- Porque você se preocupa tanto com ela? Se eu estou a usando? Sim, eu estou. E estou me fodendo pra isso ou pra ela. Mas e você que se diz tão preocupada com bem estar dela? Você a usou de uma forma pior, mentiu pra ela, escondeu a verdade...
- Eu só estou a protegendo...
- Protegendo? – ele riu baixo – Você acha que ela também vai achar isso quando souber a verdade? Que um dos seus amiguinhos é um principado do Conselho? Quanto tempo você acha que ela vai demorar pra descobrir sobre o Jeremi? Duas semanas, três dias? Depois desse ataque eu não duvido nada que ela já não saiba...
- Ela vai entender... Com o tempo.
- Aquela garota estúpida ainda nem suspeita de nada. Nem depois do dia do baile, quando você tentou esconder ele de mim, ou mesmo quando eu dei várias dicas... O seu melhor amigo é apenas mais um executador, mais um segurança tentando descobrir coisas pro Conselho. Pelo menos isso serviu de alguma coisa pra mim, nosso acordo, seu sangue...
Eu não ouvi nada depois disso. Meu coração se contraiu no peito, eu senti a dor aumentar, crescer, me controlar, me cegar. Abri a porta sem me importar, eu só precisava ver o rosto de Victor, o rosto de Sura. Os olhos dele foram subitamente a mim, assim como os de Sura. Eles tinham as expressões em branco, não acreditando que eu estava aqui. Sorri, de forma amarga. Andei ate Victor, seus olhos impenetráveis, vi Sura se contrair um pouco com a minha aproximação. Cheguei perto, querendo ver dessa vez, ver em seus olhos a verdade.
- A garota estúpida agora sabe a verdade.
Seus olhos azuis se estreitaram, parecendo quererem me ler, sua mandíbula contraída, as narinas abertas. Ele estava me testando.
- Um pouco tarde, você não acha?
Eu tive que rir. Eu podia vê-lo agora, o grande filho da puta que ele era.
- Tarde? Nunca é tarde, Victor.
Eu não disse nada por um tempo, apenas encarando seus olhos azuis intensos. Por quê? Porque ele me manipulou assim? Eu nunca pedi nada alem do que ele pretendia me dar, nosso acordo, eu estava disposta a dar sem que eu precisasse me envolver em tudo isso. Mas ele mentiu, como todo mundo parecia estar acostumado a fazer comigo. Eu não tinha o direito de me sentir assim, não depois de tudo que aconteceu ontem à noite, mas me senti rasgar por dentro, uma dor latente furando cada pedaço da minha sanidade. Eu queria gritar, bater, fugir, mas ao invés disso eu apenas despejei minha dor nele.
- Eu confiei em você, confiei em você como eu nunca fiz com ninguém. Eu nunca pedi mais, Victor, eu estava disposta a te dar as minhas memórias sem que você precisasse fazer tudo isso, me seduzir, me fazer acreditar que havia algo. Mas você preferiu o caminho mais fácil...
Ele riu, e ao ver o seu sorriso débil eu pude sentir uma ferida maior se fazer em mim.
- Usando você? Quem usou quem ontem à noite, en Claire? Não pense que pode me enganar ou me pedir algo em troca, você gostou tanto quanto eu de ser usada e me usar...
- Você acha isso? – me aproximei, apenas a centímetros, olhando em seus olhos, colhendo as verdades – Eu nunca, nunca menti sobre o que eu sentia sobre o Lucius. Mas no dia em que você me disse que havia amado alguém e que era para eu esquecer, deixá-lo ir, eu me entreguei ao que você me disse. Eu realmente tentei esquecê-lo. Durante esses dois meses a única coisa que vivi foi você, eu fui estúpida o bastante para gostar de você. Eu acreditei que você realmente havia amado, que o amor da sua vida estava morta, e que você fosse capaz de me fazer amar de novo, mas estava errada. Você não é capaz de amar ninguém, Victor, ninguém alem de si mesmo.
Ele apertou mais os dentes, os olhos frios, a expressão demoníaca, o real vampiro.
- Por mais que eu tentasse – ele disse entre dentes, segurando sua raiva – você nunca o esqueceria, não use isso como desculpa.
Desviei meus olhos dos dele.
- Eu sei disso Victor... Mas então porque dói? – voltei a olhá-lo, apertei minha garganta como se a dor e a angustia me sufocasse – Porque dói tanto?
Ele não disse nada ou fez. Afastei-me quando vi seu olhar. Eu não poderia sentir mais nada por ele, ele era nada para mim, eu mal o conhecia. Tinha que me afastar, tirar esse medo de mim.
- Eu conheço seus medos Victor e usaria todos contra você... Você me ensinou isso, lembra? Quero você fora da minha vida, Victor. E se você não fizer o que eu estou dizendo e vou expor você ao Conselho, independente das conseqüências...
A tensão se expandiu no pequeno quarto. Eu ameacei Victor e por incrível que pareça, ele hesitou.
Voltei-me para Sura, que observava a cena, mas ela não disse nada. Ela não era tão diferente de Victor, ela me escondeu tantas coisas. Sobre Jeremi, sobre Victor, sobre Lucius. Agora tudo parecia se encaixar, o dia que ela saiu do Instituto, o “acidente da avó” de Jeremi, as conversas constantes de Victor com Sura. Eles tinham um passado, um passado escuro que eu não conhecia, mas que eu estava envolvida.
- Você mentiu para mim Sura, logo você...
Ela não estava mais na defensiva, tinha a expressão séria, o corpo rijo em seu vestido longo vermelho.
- Não fale algo sobre o que você não sabe Claire.
- Você tem razão Sura. Eu não sei. Eu nunca sei. Mas eu acreditei em você, acreditei em você para me guiar, me dizer o que fazer e você só me deixou mais confusa, perdida. E pra que? Porque você mentiu? Você foi a pior de todos.
Limpei meu rosto devido a lagrima que descia. Ela não disse mais nada, apenas me encarava. Eu não poderia continuar ali.
- Aonde você vai Claire?
Sura disse preocupada, mas não me impediu de sair. Eu precisava ir. Ir para outro lugar. De novo, como sempre. Eu não poderia confiar em ninguém. O que o Lucius sabe? Ele não me diria. Os pensamentos perdidos. Eu não sabia o que fazer. Jeremi. Sim, o Jeremi me diria. Eu o faria dizer. Ele me devia isso. Enfermaria. Ele estaria ali. Claro! Eu tinha que ir a enfermaria, agora. Precisava saber do que eles diziam e Jeremi me diria isso. Andei através dos corredores, sem me importar se alguém me veria ou não. Atravessei os corredores, notando os olhares, ninguém me impediu de ir. Estranhei, mas continuei. Onde eu estava indo? Enfermaria. Ela sussurrou para mim. Andei, com a dor ainda em meu peito. Eu podia sentir a dor aumentar, a náusea em minha garganta. Isso não estava certo. Meu pulso ardeu, segurei o grito. Todos me olharam quando entrei no quarto principal da enfermaria. Pude reconhecer o rosto, não um, dois. Sam estava deitado sobre uma das macas, em meio a tantos outros, enquanto Jeremi estava ao seu lado, com o rosto tenso, as mãos sobre Sam. Ele estava preocupado, eu tinha que ir ate ele. Não! Venha a mim Claire. Escutei a voz, mas não pude reconhecer de onde ela vinha. Continuei a andar, indo ao corredor onde estavam os outros quartos. A dor aumentou mais, me segurei em uma das janelas tentando me recuperar. Minha visão falhou uma, duas vezes. Você esta perto irmã. Estou aqui! Bianca. A náusea aumentou ainda mais. Bianca estava aqui. Em um dos quartos. Eu pude ver o quarto, as sombras saindo através da porta. Elas sorriam a mim agora. De novo não. Aqui não! Arrastei-me sobre meus pés. Precisava ir ate ela. Meu pulso dilatou mais uma vez. As sombras se alastrando sobre as paredes, escondendo as janelas como cortinas escuras, negras. Não poderia ser, não ela! Cheguei à porta com o medo em meu corpo e em minha mente. Entre... Dobrei a porta para ver o que era inevitável. Minha irmã, sem asas. A imagem desconexa. Eu podia ver minha irmã, como sempre fora, com uma calça jeans suja de terra, sua blusa preta fundida a sujeira de seu corpo, mas não só isso. Havia manchas extensas, que iam dos seus pés descalços ate seu rosto branco, um degradê marrom com tons vermelhos vivos, principalmente em suas mãos. Sangue, era sangue. Retrocedi alguns passos, mas a porta atrás de mim se fechou. A olhei novamente. As sombras se desprendendo e preenchendo o quarto, dessa vez diferente, densas e mais escuras, negras se arrastando entre a cama e o chão, a mesa de canto e a cadeira, e nela, entre seu cabelo loiro e seu pescoço delongado, entre suas pernas e seu colo, entre seus dedos e sua pele. Pele branca, eu poderia ver suas finas veias através de sua pele branca, transparente, morta. Suas mãos embrenhadas de sangue, não havia mais unhas e sim garras, unhas grandes, capazes de rasgar qualquer pele, carne ou osso. Olhei a parede querendo encontrar suas asas ou vestígios dela, mas não havia nada, nada, alem da mistura brusca entre o negro e o vermelho. Vermelho que estava em suas mãos, sua pele e olhos. O azul de seus olhos desfoques, contornados por uma linha grossa e densa vermelha, preenchendo cada vão branco. E seu olhar. Seu olhar frio, distante, morto e assassino. Não disse nada, não poderia dizer. Não acreditava, eu não podia, não deveria. Não ela! Não minha irmã! Ela encontrou meus olhos, ainda sentada tranquilamente em sua cadeira branca, com um sorriso em seus lábios.
- Finalmente... Você pode me ver.
Queria correr, correr disso tudo. Por quê? Porque comigo? Ela me disse aquelas palavras com orgulho, mas só o som de sua voz me arrepiava, me enojava. Tentei sair, ir ate ela ou correr dela, mas meus pés estavam presos ao chão, como ervas daninhas, sugando, chupando, extraviando. Desta vez não houve duvidas ou imagens desconexas, eu a via como ela realmente era ou é. Demônio.
- Não... apenas, não.
Seu sorriso aumentou e então ela se levantou. Seus passos ajustados, sem medo, feliz? Ela parou em frente a mim, com os olhos fixos.
- Ouw irmã... – sua expressão com um toque divertido – o quão estúpida você é?
Estúpida o bastante para ter acreditado em você. Mas ao em vez disso eu não disse nada, eu não conseguia. Sua mão veio de encontro ao meu rosto, mas eu me afastei.
- Shiii... Não tenha medo Claire, eu não vou te fazer mal. Não ainda.
Então sua mão suja de sangue e morte me tocou. Cada terminação nervosa se estalando sob minha pele, minha respiração falha, a dor se instalando por todo meu corpo e meu pulso parecendo sangrar, rasgar.
- Minha irmã, minha pequena Claire... Sempre tão fraca, cega.
- Foi você... Foi você que os matou.
Eu podia sentir o aperto em minha garganta, as lágrimas por vim, mas eu não conseguia chorar. Eu me negava a isso.
- Sim, eu os matei... – ela sorriu, parecendo sincera – Eu pensei, pensei que já soubesse Claire, que já tinha me visto no baile, mas você é tão frágil. Você preferiu ver o que queria, não a verdade...
Desviei meus olhos dos dela, mas ela segurou meu rosto com as duas mãos, querendo me fazer olhá-la, me abrigar a isso.
- Olhe para mim, Claire... Olhe o que eu me transformei, o que eu sou.
Sua voz mais descuidada dessa vez, com raiva e dor. Então eu a olhei, seus olhos vermelho-azuis.
- Você é minha irmã, Bianca... Então porque eu deveria saber? Se eu não acreditasse em você, em quem mais eu acreditaria?
- Eu não sei se você é ingênua ou burra, eu só sei que minha irmã você não é, não deve ser... Eu só odeio você, por tudo que você é, tudo que se tornou... Tão dependente, frágil, burra, fraca, fraca, fraca.
Suas unhas se aprofundando em minha carne, alastrando o veneno de suas palavras. Eu não conseguia dizer nada, me sentindo exatamente como ela me descrevera.
- Mas eu não vim a que pra te dizer o óbvio... – ela se afastou, com uma calma assustadora, como se estivéssemos tendo uma conversa normal – Eu te chamei aqui pra me despedir.
Eu a olhei assustada. Ela iria fugir.
- Despedir?
O choque indo, dando lugar a dor, a raiva, fúria.
- Não! Você não vai. Deixar que o Lucius e a Luiza levem a culpa? Você esta louca se acha que eu vou deixar isso acontecer!
- Eu não acho, eu tenho certeza...
- Eu não sou a única estúpida nesse quarto...
- Porque eles não acreditariam em mim e sim em uma executadora vingativa e um anjo exilado. Eu sou um anjo aos olhos dele, a síntese de tudo o que já foi perfeito.
- Eles não acreditariam em você depois de eu dizer o que eu vi!
- Acreditar em você?! A garota que esta apaixonada, que transou com o assassino, que seria capaz de fazer de tudo por ele... Eu não acredito nisso...
Eu perdi a noção do espaço e do perigo, me aproximei, sem medo, sem dor.
- Eu os faria acreditar, talvez eles não te acusassem, mas não a deixariam ir.
- Você tem certeza?
Eu não respondi, ela pode ver através dos meus olhos que eu seria capaz de fazer pelo homem que eu amava.
- Eu realmente espero que você não faça isso, Claire. Se não eu serei obrigada a matar cada pessoa que você ama, primeiro suas amiguinhas, depois Jeremi, Sura e finalmente Lucius... E não pense que eu não sou capaz, eu sou tão forte e mortal como eles, alem do mais eu nunca estou sozinha.
- Então porque você não faz isso agora? Mate os, me mate!
Ela riu, debochada.
- Você acha que eu não quero. Matar você é tudo que eu espero... mas eu sigo ordens. E eu não sou burra de cometer esse erro, tudo ao seu tempo.
Ficamos assim, nos olhando, e eu não podia acreditar em que via. Minha irmã, que eu sempre amei, querendo me matar.
- Agora eu acho que vou indo...
Seu corpo deslizou com graciosidade, seu rosto agora sem nenhuma expressão, atuando para todos que estariam fora deste quarto. Eu a impedi um segundo antes de ela ir, segurando a pele asquerosa de seu braço, olhando seus olhos vermelhos de lado.
- Não pense que eu deixarei isso assim.
Ela me olhou de cima em baixo, com nenhum medo aparente.
- Claire... O que você seria capaz de fazer pelo homem que ama?
Sua voz profunda, cheia de provocações e ameaçadora. Eu pude ver nela a real sugestão da sua pergunta. Ela o mataria... A pergunta era se eu o deixaria morrer para que ninguém mais se machucasse com essa historia. Eu não poderia responder essa pergunta, mas ela parecia já saber a resposta.
- Bem... Eu também.
Então ela se foi, como uma brisa fria, sussurrando nomes de morte, minha própria morte, a morte de Lucius. Eu continuei ali, olhando as sombras se esvaindo, indo junto a ela. Eu vi a parede branca se desfazendo do escuro negro que era alma dela agora. Minha irmã. Aquela que viveu comigo ate  os meus sete anos. Cuidou de mim como uma irmã mais velha ate ela ser levada. E mesmo assim eu sempre tive a esperança de um dia reencontrá-la e reencontrei. Desde o primeiro dia que eu a vi, na sala da enfermaria, neste mesmo quarto depois de eu ter saído do coma, eu sabia que ela estava diferente. Mas não assim. E eu ainda a amava, por mais distante que ela estava de mim, depois de tudo que ela fez, ela era minha única família. Eu nunca conheci minha mãe ou meu pai, a única coisa que eu sabia deles era que eles tinham morrido em um incêndio e que eu havia ido parar no orfanato de São Joaquim, mais nada. Então, agora, minha irmã tinha sido arrancada de mim. Eu não a conhecia, talvez eu nunca conhecesse. Mas quem eu realmente conhecia? Parecia que ninguém. Apenas Lucius. Eu tinha que acreditar nisso. Ele não me trairia, não ele. Eu tinha que sair daqui, encontrá-lo, ver seu rosto, ficar entre seus braços. Ele saberia o que fazer. Atravessei o pequeno corredor praticamente correndo. Choquei-me com olhares duvidosos e desconfiados. Não tinha tempo, tinha que ir. Mas algo, não, alguém me impediu. Jeremi.
- Você ta bem?
Eu vi seu rosto, sujo, alguns machucados, algumas cicatrizes, seu cabelo um pouco bagunçado e seus olhos cor de mel. Mas quem ele era, eu não saberia dizer.
- Não...
Tentei me desvencilhar dele, dar as costas e sair da enfermaria, mas ele não deixou.
- Fala comigo...
- Não! Não me toque!
Debati-me entre suas mãos e consegui sair. Pude ver, no seu olhar, que ele deveria saber o que eu sabia agora. Não falaria com ele agora. Talvez nunca. Seus olhos, suas mãos quentes, seu ar preocupado. Por quê? Saí e corri. Corri nos corredores, entre os principados. Lucius. Apenas Lucius. Eu nunca pensei que as coisas poderiam mudar tão rapidamente. Eu tive a noite mais feliz, completa, perfeita que eu poderia ter, mas agora, agora tudo desmoronava. Passei pela parte externa, no jardim, não querendo ver ninguém mais. Passei as piscinas e fui direto para seu quarto. A porta estava levemente aberta, então ele ainda estava...
- Luisa?
Perdi o ar quando a vi ali, sentada a mesa redonda, com o rosto entre suas mãos. Ela não estava tão diferente de mim. Ele subitamente me olhou quando adentrei ao quarto. Eu não sabia o que dizer ou fazer. Suas roupas estavam limpas, mas não seus olhos. Estavam foscos, tristes, perdidos. Pude ver que em cima da mesa havia um copo com um liquido marrom-dourado. Provavelmente uísque. Mas ela não parecia bêbada, apenas confusa.
- Claire... Não fique parada aí. Eu não mato... Pessoas.
Ela riu da sua própria desgraça. Como de costume, ela ainda estava sendo ela.
- Você sabe onde o Lucius esta?
Eu hesitei um pouco ao perguntar, mas não havia tempo para isso. Ela não respondeu, apenas sorriu para mim. Sádica.
- Eu costumava ser igual a você Claire... Eu acreditava em tudo em que eles diziam, eu dediquei minha vida por isso. Agora, é como se nada tivesse valido à pena. Uma Instituição que se acha acima das leis humanas não deveria ser levada a sério. Mas aqui estou, sendo acusada de novo por eles. Desta vez não haverá redenção...
Não pude dizer nada. Eu não sabia do que ela falava.
- Agora eu entendo Claire. Eu nuca poderei tê-lo. Mesmo que você morra, desapareça... É a você que ele vai amar, sempre. Eu só te peço uma coisa. Não o machuque mais, tudo bem?
Então ela estava desistindo. Eu nunca pensei que ela um dia iria, mas aqui estava ela fazendo exatamente isso.
- Eu sinto muito Luisa.
- Não sinta... Eu não sinto.
Ela bebeu mais uma dose do seu uísque e apontou para o quarto de Lucius, com os olhos ainda em mim.
- Ele esta ali.
Apenas acenei e fui ate lá. A dor aos poucos esvaindo. Ele estava perto, de novo. Ele me ajudaria. Abri a porta com receio e eu o encontrei no mesmo lugar onde eu havia o deixado.
- Lucius?
Encarei sua figura. Ele segurava uma mochila com algumas roupas e armas. Ele me olhou com os olhos fugazes e continuou a fazer o que estava fazendo. Eu olhei aquela cena sem entender. Ele estava fazendo as malas?
- Que você ta fazendo?
Ele fechou a mochila e a colocou sobre os ombros, ainda sem responder. Andou ate a mim e atravessou o pequeno espaço de mim ate a porta, sem me olhar nos olhos.
- Onde você esta indo?
Ele continuou a andar, indo ate a Luisa.
- Tudo pronto?
- Sim.
Ela tirou uma sacola da cadeira ao lado, que eu não tinha visto antes, e se levantou. Deu um último gole em seu copo e olhou para mim.
- Ate mais Claire – olhou Lucius – Eu te vejo lá fora.
Saiu, me deixando a sós com Lucius. Ele não me encarou a principio. Parecia com medo.
- O que esta acontecendo aqui Lucius?
- Eu tenho que levar a Luisa antes...
Aproximei-me e o virei para mim.
- Fale comigo olhando em meus olhos Lucius. Agora me fale o que esta acontecendo...
- Eu vou sair agora, levar a Luisa para um lugar segura. Eu vou voltar...
- O que? – disse aflita – Não Lucius! Eu preciso conversar com você.
- Não agora Claire. Agora eu preciso ir.
- Mas eu preciso conversar com você...
- Não Claire! Você não entende? Isso tudo é minha culpa! Agora a única coisa a fazer é consertar meus erros...
Retrocedi alguns passos. Sua culpa? O que ele queria dizer com isso? Todo mundo, todos, estão mentindo pra mim. Baixei minha cabeça com medo de encará-lo. Ele se apressou a cortar o espaço que estava entre nós.
- Olhe para mim Claire – ele apertou um dos meus braços enquanto sua outra mão acariciou meu rosto – Não tenha medo. Eu vou voltar, menos de duas horas e eu estarei de volta, então nós conversaremos. Agora eu não tenho muito tempo, eu preciso ir.
Ele me evolveu em seus braços e me puxou para cima, alcançando minha boca. Beijou-me, contaminou cada centímetro do meu corpo. Eu o amo, eu o amo tanto. Desencostou sua boca da minha e sussurrou.
- Eu te amo... Não se esqueça disso.
Separou seu corpo do meu, ajeitou sua mochila em suas costas e se despediu com seus olhos. Então ele se foi, me deixou ali, me abandonou mais uma vez.

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Capítulo 25 - *Corrente Sangüínea:

- Eu ainda não acredito que você venceu a Luisa! Não dá pra acreditar...
Moira sentou-se à mesa do refeitório com os olhos arregalados assim como Celina, que pareciam não entender ou acreditar no que acabava de dizer a elas.
- Eu deveria ter contado sobre o treino com o Victor antes, mas era segredo, vocês sabem...
Celina riu de uma forma engraçada, o que me deixou um pouco desconfiada.
- O que? – eu disse sem entender.
- Você acharia estranho se eu dissesse que suspeitava?
- Suspeitava?
Moira a olhou incrédula. Celina confirmou com o simples dar de ombros.
- Como?
- Eu não sei... Eu apenas sentia. Essas saídas repentinas, o seu envolvimento com Victor e o Sam me disse que você andou conversando com ele sobre o Instituto, certo?
- Sim, mas isso não indica nada, Céu.
- Mas não é só isso. Jeremi e Sam me disseram que estava ocorrendo movimentos estranhos ao redor do Instituto, eu só juntei o meu instinto e a lógica.
- Espera! Jeremi e Sam? O que eles tem haver com isso?
- É um pouco complicado...
- Não mesmo Céu. Começou, agora termina... Jeremi e Sam... – Moira disse em um tom acima, tão curiosa quanto eu.
- Sam vai me matar...
- Vamos, Céu, me conta. – eu disse.
- Ok, mas não pode contar pra ninguém, ninguém, me ouviu Moira?
- Porque você não fala isso pra Claire? - Céu a olhou com pouco animo – Ta bom, eu juro que não conto pra ninguém.
Depois de um minuto em silêncio, Celina se convenceu de que nós não contaríamos para ninguém.
- Depois dos ataques que ocorreram, os treinadores acharam melhor criarem um grupo de ronda para averiguar que não haveria mais nenhum ataque, mas como havia poucos professores eles chamaram os melhores alunos para auxiliarem na busca. Sam e Jeremi foram chamados.
- Eu entendi ate a parte do Sam, mas o Jeremi?
- Sim, porque o Jeremi? – eu tive que concordar com a Moira.
- Eu não sei. O Sam não quis me contar. E não é só isso, a Sophia e o Paulo Vitor também estão no grupo. Então quando você dizia que ia ter aulas com a Sophia ou quando você derrotou o Paulo Vitor no treino, eu sabia que alguma coisa tinha mudado.
Fiquei encarando Celina tentando digerir a nova informação sobre Jeremi. Eu entendia perfeitamente o envolvimento do Sam com Instituto, mas Jeremi? Não. Tinha alguma coisa errada nessa historia.
- To chocada. O Jeremi ajudando em uma busca junto com os treinadores? Isso não faz o menor sentido...
- O que não faz sentido?
Olhei para trás encontrando Sam e Jeremi se aproximando da nossa mesa, com suas roupas de treino e seus corpos suados.
- A Claire derrotar a Luisa? – Jeremi brincou – Isso realmente não faz nenhum sentindo...
- Por quê? Você acha que eu não sou capaz?
Minha vontade era dizer tudo o que eu sabia, dizer que não precisava mais mentir para mim, que ele sabia sobre meus treinos com Victor, mas eu havia prometido para Celina. Eu não diria nada, por enquanto.
- Ouw! Calma, eu só to brincando.
- Claro!
- Então... Como você conseguiu essa proeza, Claire?
Sam se sentou ao lado de Celina, enquanto Jeremi ficou em pé, ao meu lado, já que não havia mais cadeiras na mesa.
- Andei treinando com Victor durante alguns meses... – deixei as palavras saírem como se não fossem nada.
- Victor? – Sam puxou a cadeira de outra mesa e se sentou próximo a mim, mais interessado no assunto – Porque isso não me surpreende?
Porque você estava me espionando?
- Eu não sei. Por quê? – perguntei irônica.
Ele me olhou nos olhos, entre sua franja molhada de suor, seus braços cruzados sobre a mesa, me olhando com intensidade da mesma maneira que eu o olhava.
- O treino já terminou?
Celina perguntou para Sam, que continuou a conversa sem perceber o estranho mal estar que se formou entre mim e Jeremi.
- Eu preciso ir agora, Victor ta me esperando...
- Alguma coisa me diz que você anda saindo demais com o Victor e não é só pra treinar.
Moira me sorriu de forma maliciosa deixando todos na mesa entenderem o outro sentido por trás da frase. Eu ri sem medo de demonstrar o que ocorria entre mim e Victor. Muitas coisas haviam mudado.
- O que você vai fazer com o Victor? – Jeremi disse em tom forte.
Olhei Jeremi não acreditando que ele tinha usado esse tom de voz comigo.
- Eu vou sair com ele. Algum problema?
- Nenhum. Eu já te disse o que eu penso sobre ele... Ele vai cobrar o favor que te fez, espero que você não se arrependa depois.
- Não se preocupe, Jeremi, eu sei me cuidar - disse mais séria.
Levantei-me e despedi de todos, menos de Jeremi. Andei ate a porta ouvindo Moira reclamar algo sobre ciúme e por Jeremi ser um idiota comigo. Mas eu tive que discordar dela, idiota era pouco.



******


- Você esta tão...
Victor não terminou a frase, deixando aquele sorriso convencido e delicioso me impregnar. Seus olhos desceram ate minhas pernas descobertas do vestido leve e floral, e ficaram ali por um tempo ate voltar ao meu rosto. Ele andou ate a mim, com sua blusa social preta e sua calça jeans também preta, seu cabelo loiro solto cobrindo seus ombros e seu sorriso indiscreto.
- Não consigo me decidir sobre o que é melhor... – ele olhou novamente minhas pernas e voltou para meu pescoço – a barra do seu vestido ou o seu decote em v. Você ta assim pra me provocar, Claire?
- Não!
Sorri, mas ele não. Colocou a mão sobre a pequena parte descoberta dos meus ombros e meu pescoço e acariciou com o polegar. Senti um arrepio se deslizar sobre minha nuca com o simples toque.
- Tem certeza?
- Talvez – sorri maior e tirei, delicadamente, sua mão do meu pescoço – Agora, aonde você vai me levar?
- Eu poderia dizer que é surpresa, mas não vai fazer diferença, você mal conhece a cidade. Vou te levar no Deli-Deli, já ouviu falar?
- Não. Como você disse, eu mal conheço a cidade. Mas eu acho melhor nós irmos antes que alguém nos veja.
Entrelacei minha mão a dele e sorri gentilmente. Ele disse absolutamente nada, apenas nos guiou do corredor escuro ate a parte frontal do Instituto, onde varias vezes nós nos encontrávamos para fugir, indo aos treinos.
- O que isso?
Olhei, sem entender e acreditar, quando paramos em frente a uma BMW idêntica ao carro de Lucius.
- O que você acha?
- Isso não ta certo Victor...
Tirei minhas mãos da dele e me afastei, ficando de costas.
- Isso não é nada, Claire... Apenas a minha vingança.
Balancei a cabeça em negativa, ainda sem olhá-lo.
- Não é nada comparado ao que ele me fez.
- Essa não é a maneira certa de fazer isso, Victor. Eu não quero mais brigar com ele.
- Maneira certa? Bater na Luisa daquela forma foi à maneira correta então?
Bufei, vendo-o jogar minhas ações na minha cara. Jeremi, em parte, estava certo. Ele não me deixaria esquecer o favor que fez por mim.
- Acho que é melhor eu voltar...
- Não – senti sua mão em minhas costas, sua respiração sobre meus cabelos – Não vamos estragar essa noite por causa dele, não hoje.
Virei-me e o vi ali, a minha frente, um pouco vulnerável, um pouco instável.
- Você tem consciência do que ele vai fazer se souber que você pegou o carro dele?
- Eu tenho mais consciência do que vai me acontecer quando ele souber que eu estou te levando pra sair...
Olhando o assim, parecia que algo, algo que eu não saberia definir, estava acontecendo entre mim e Victor. E por mais difícil que fosse admitir, eu estava gostando, gostando de ter alguém alem de Lucius.
- Certo. Então vamos antes que fique tarde...
- Claro, mon chéri.
Ri um riso anasalado, abafando meu agrado por ouvi-lo falar francês. Andei ate o carro quando Victor abriu a porta e me sentei, o vendo dar a volta e sentar ao meu lado. Seria uma longa noite.


- Ops!
Ri alto, tropeçando entre meus pés, e quase caindo no chão de granito. Victor me segurou com suas mãos gélidas e seu corpo delineado. Tudo nele exalava desejo, mas não só ele. Eu não poderia desejar nada melhor do que aquele jantar. O lugar simples, a música ao vivo, o sorvete de creme com creme de jabuticaba, a cerveja alemã, o peixe com castanhos do baru, o vinho e Victor. Victor poderia ser inacreditavelmente agradável e engraçado. Seu humor ácido e imprevisível. Agradável ao tato, a audição, a visão, ao olfato e o melhor, ao paladar. Estava disposta a provar novamente o gosto da sua boca. Jogou meu corpo contra a parede escura do corredor e me beijou, como sempre, tudo parecia tão novo. Suas mãos corriam livremente pelo meu corpo e eu realmente não estava me importando. Cada beijo, cada toque, cada sussurro me faziam arrepiar inteiramente, como se uma descarga elétrica passasse por mim. Eu não podia me conter. Escorri minhas mãos por debaixo de sua blusa, sentindo cada músculo moldar minha mão. Ele era frio, mas tudo parecia me queimar por dentro. Uma alça do meu vestido desceu deixando meu pescoço totalmente exposto. Suas presas deslizaram por ali como agulhas afiadas, me deixando mais excitada. Eu não sabia explicar se era por ter bebido demais ou porque inconscientemente eu sempre quis aquilo. A única coisa que eu sabia era que eu precisava esquecer o Lucius e Victor estava conseguindo isso. Ele ergueu minha perna colocando seu quadril entre suas pernas e apertando mais suas presas.
- Não! – eu disse em êxtase.
Ele tirou sua boca dali e continuou a beijar a extensão do meu colo, meu ombro descoberto, meu maxilar, minha boca. Beijo ardente, intenso demais para que eu pudesse raciocinar direito. Ele o cortou com um pouco de esforço e me olhou atentamente.
- Você se lembra do nosso acordo, não lembra? – escorreu sua mão da parte mais baixa da minha coxa ate mais em cima.
- Sim – disse quase em um sussurro.
- Eu consegui te treinar, agora eu quero a minha parte...
Ele desceu sua cabeça em meu pescoço, dando pequenos beijos na região.
- Eu preciso do seu sangue Claire... Só isso.
Eu sabia da conseqüência desse ato, o que me acarretaria no Instituto. Mas eu estava cansada de esperar, ser usada, pressionada, eu queria a verdade e essa parecia à forma mais fácil e doce de consegui-la.
- Tudo bem – disse em um sopro.
Adrenalina correu por meu sangue quando senti suas presas em meu pescoço novamente. As senti rasgar minha pele em um misto de dor e prazer, um pouco de sangue escorrer, e minhas mãos segurarem seus cabelos. Mas isso foi por pouco tempo. Senti sua língua em minha pele, as presas firmes, seus lábios e um pequeno sussurrar:
- O seu sangue...
Alguém. Um vulto, eu não sei! Arrastou Victor para longe de mim. Tudo rápido demais para que eu impedisse, muito rápido para eu ver. Então eu vi quem era, o único que poderia estar ali.
- Não! – eu gritei – NÃO LUCIUS!
O desespero aumentou quando vi as mãos de Lucius agarrar e forçar a garganta de Victor. Seu corpo junto ao dele, o enforcando, o deixando sem saída. Victor reagia instintivamente ao contato de Lucius, agarrando o pulso da mão que apertava sua garganta, suas presas amostra.
- Eu te disse... – Lucius soletrava cada palavra, em tom baixo, ameaçador – que se você tocasse nela. Não! Se você pensasse nisso, eu te mataria – Lucius aproximou mais seu rosto ao de Victor e sussurrou quase inaudível – Agora é hora de cumprir minha promessa.
Em um reflexo a outra mão de Lucius foi parar na base do pescoço de Victor, forçando-o para baixo enquanto sua outra mão puxava para cima, brutalmente. Eu ouvi sons quase animalescos de dor saírem de Victor e ecoar pelo corredor, confirmando que Lucius não blefava. Saí do estado de choque em que estava e corri para Lucius, segurando, tentando, tirar ele de perto de Victor.
- Não faça isso Lucius. Não faça... – disse alto, mas minha voz saiu tremula.
As palavras se repetindo em minha cabeça. Ele vai matar Victor. Vai matá-lo. E tudo será minha culpa. Eu tentei tirar sua mão, mas ele não prestava atenção em meus gritos ou em mim, ele apenas continuava a puxar, puxar, puxar, puxar... Um estralo se fez alto, podendo ver o sangue escorrer pela boca de Victor. Eu estremeci com essa visão. Eu tinha que fazer algo antes que fosse tarde. Eu precisava, precisava... chamar atenção de Lucius.
- Não faça isso! – eu gritei novamente – Não me faça sentir mais culpada do que eu me sinto!
As lagrimas desceram sobre meu rosto, ácidas, marcadas de rancor, dor.
- Eu já te fiz cair, não me faça ser a culpa da morte de Victor...
Pela primeira vez eu senti Lucius hesitar, não forçar mais. Ele ainda continuava ali, sobre Victor, mas ele prestou atenção no que eu havia dito. Eu precisava me manter assim, com ele preso em minha conversa, fazer com que Victor pudesse ir.
- Eu sei o que aconteceu Lucius... Eu me lembro.
Ele virou o rosto de súbito, me olhando com os olhos amargos, a boca franzida.
- O que você disse?
Victor pulou sobre ele no mesmo momento. Vi o desenrolar da cena com o medo me subindo a garganta. O pequeno corredor parecia menor, mais escuro, impenetrável. Eu não podia acreditar que tudo poderia acabar ali. Perigoso, mortal. Eu precisava fazer algo. Victor estava por cima dele, tentando morde-lo, empurrando suas mãos para baixo, mas não estava adiantando muito. Os pés de Lucius subiram rapidamente para cima e chutaram o estomago de Victor, fazendo-o ir para trás. Eu não sabia se daria certo, mas eu tinha que tentar. Corri, como nunca havia corrido, e me joguei em Lucius. Ele poderia me evitar, na verdade eu acho que ele tentou, mas quando nossos corpos colidiram, a única coisa que eu pensei, que eu necessitava fazer, foi abraçá-lo. Como se minha vida dependesse disso, como se aquilo fosse à única salvação, como se estivesse preste a morrer e a única coisa que eu precisasse dele fosse isso, ele em meus braços. Minhas mãos se entrelaçaram, com meus braços em volta de seu pescoço, com os olhos fechados, com a respiração desconexa.
- Não faça isso – sussurrei – Não o mate.
Eu podia sentir seu peito subir e descer, seu silêncio perturbador, não dizendo nada, mas eu sabia que ele estava cedendo. Respirei aquele cheiro agridoce que exalava dele e me senti cair na teia de sentimentos que eu sempre estive quando Lucius estava próximo assim.
- Fique comigo. O deixe ir.
Não disse nada. Ele não iria dizer nada. Ele apenas precisava me sentir, me tocar, como eu precisava, como estava acontecendo agora. Fiquei nas pontas dos pés e subi minha mão sobre sua cabeça, sentindo minha pele eriçar sobre o contanto hostil do seu cabelo. Agarrei-me a ele com medo da reação que ele poderia ter ao ouvir o que eu diria.
- Vai embora Victor... – não houve resposta, mas eu sabia que ele ainda estava lá – Vá embora se você não quiser morrer!
Então ele foi, em uma corrente fria e silenciosa, me deixando sozinha com Lucius e sua raiva. Tudo caiu sobre a mim, à realidade dos fatos. Lucius mataria Victor se eu não estivesse ali, não se importaria com as conseqüências, só por minha causa. Meus braços foram caindo, rente ao meu corpo, gradualmente. Lucius não reagiu, me abraçou ou disse algo. Só ficou ali, me encarando, como se tudo dependesse de mim. Eu o olhava sentindo aquele vazio me encher, uma tristeza sem precedentes, não podendo sentir nada. Decepção.
- Do que você se lembra Claire?
Pude sentir a voz calma oscilando com seu nervosismo. Ele tentava não demonstrar, mas estava em seus olhos a preocupação.
- Eu só me lembro que você caiu por mim... não sei o porque, só que você caiu.
Consegui responder, mas era como se eu não estivesse ali. Eu queria correr, sentir a brisa forte da noite, ir para cachoeira, esquecer de tudo. O choro voltou mais forte, mais denso. Eu soluçava, eu podia ouvir, mas era como se meu corpo não correspondesse.
- Só isso?
Pude ouvir Lucius falar, mas era como se não escutasse, como se eu não estivesse ali. Eu só precisava ir, ir para longe dali, dele, de todos, de tudo. Pressionei meus lábios não querendo soltar um grito ou deixá-lo ouvir meu choro. Porque eu tinha que ser tão fraca ao lado dele, como se estivesse doente, febril?
- Você ia matá-lo, Lucius... Matá-lo.
Afastei-me, sentindo meu corpo ir, mas sem perceber direito o que fazia. Eu só precisava dormir, era a única coisa que eu poderia fazer agora. Caminhei ate o jardim em passos lentos, mas podia sentir Lucius atrás de mim. Quando entrei na área das piscinas eu sabia que ele não me deixaria.
- Vá embora Lucius, por favor...
- Porque Claire? Porque você ia fazer isso?
Não o olhei, só continuei a andar. Eu tinha que chegar ao meu quarto, ficar longe dele.
- Por quê? Por quê? POR QUÊ?
Ele gritava forte. Eu não podia fazer nada, eu não cederia. Eu já tinha feito isso, isso só nos machucava. Comecei a acelerar meus passos, fugindo, desta vez era eu que fugia. Avistei a porta do dormitório e corri, tentando entrar, deixar Lucius de fora. Não adiantou.
- Porque Claire? Porque você não me disse?
Ele apertou meus ombros, eu já em frente a ele, olhando seu desespero aumentar, ferver, se diluir em mim. Baixei meus olhos, não querendo ver, apenas balancei minha cabeça em negativa.
- Me diz... Desde quando... Desde quando você sabe?
Senti seus dedos afagarem meus braços, em um pedido mudo de redenção. Olhei seus olhos claros, cintilantes, refletindo dor, o nó se formando em minha garganta, querendo despejar todas as verdades, mentiras e as conversas veladas.
- Eu soube um dia antes... – a voz me faltou, mas eu precisava falar - um dia antes de te beijar na piscina.
O peso das palavras caíram sobre Lucius. Então eu pude ver. Ele entendeu, entendeu o que eu fiz, as mentiras que eu disse, porque eu o afastei. Ele engoliu em seco. Eu sentia através dos seus olhos, do toque de seus dedos, do variar da sua boca, ele tentava dizer algo, algo que simplificasse tudo, mas nenhuma palavra expressaria os seus sentimentos. Então ele me beijou. Resisti no começo, mas quando suas mãos me rodearam, era como se nada mais importasse. Sua língua, gentil, doce, me beijou sem pressa, com lábios macios, hábeis. Suas mãos vivazes. Eu me apeguei a ele, me agarrei, sentindo o seu cabelo áspero, seu rosto anguloso, seus braços grandes, suas mãos ternas. Eu ofegava, me afogava nele, necessitada, sem ar, com vida. Meus pés foram guiados pelos toques desejosos de Lucius, eu não podia sentir nada alem dele. Ouvi uma porta sendo aberta e percebi que estava no quarto de Lucius. Minhas costas se juntaram a parede, sentindo em cada parte de meu corpo a presença de Lucius. Eu precisava parar, não era assim que tinha que acontecer, não depois de tudo. Desencostei minha boca e meu corpo de Lucius, ainda ofegante, tentando evitá-lo.
- Não – disse de olhos fechados – Eu não posso fazer isso.
- Porque não Claire? – ele me suplicava.
Eu abri os olhos e encontrei-o ali, da mesma forma no dia que ele tinha me deixado. Sua testa encostada a minha, suas mãos moldando meu rosto, com os olhos fechados. Eu podia o ver repetindo as palavras. Não se preocupe Claire, eu não vou estar mais na sua vida. Eu vou esquecer você.
- Você não entende Lucius? Depois de tudo o que aconteceu... Tudo ta errado. A única coisa que a gente faz é se machucar, e não só a gente, mas todo mundo ao nosso redor. Eu não posso fazer isso... É só que... Você quase matou o Victor, por mim.
- Você sabe por que eu fiz isso Claire – sua voz saiu amarga.
- Eu sei e é por isso, Lucius... Você mesmo disse que nada tinha mudado, então porque você faz isso? Porque você não me deixa ir, me deixa viver minha vida? Eu disse ao Victor que eu queria aquilo, eu sabia as conseqüências, o que ele ia fazer e eu disse sim. São as minhas decisões, minha vida. Então porque você não me deixa? Me esquece?
- Você acha que eu não tentei? – suas mãos estavam espalmadas, cada uma ao lado da minha cabeça, sua voz grossa e firme – Você acha que eu não tentei te odiar? Te esquecer? Luisa era tudo que eu precisava, ela é igual a mim. Mas você... Você ta minha pele, me rasgando por dentro toda vez que eu te vejo, no ar, a droga do seu cheiro me persegui toda noite... Quando eu beijo a Luisa eu só consigo sentir o seu gosto – passou as mãos em meus lábios com os olhos fixos neles – quando eu me imagino com alguém, eu me imagino com você. Eu ouço sua risada em qualquer lugar onde eu vou. Eu sinto você como um veneno, impregnando, vicioso, me matando aos poucos... Claire, porque você não me entende? – sua mão envolveu meu pescoço e acariciou minha bochecha, se aproximando do meu rosto - É só você que eu amo. É só você que eu vou amar.
Eu não contive as lagrimas. Eu esperei tanto, mais tanto por isso, que quando eu o ouvi dizer, não consegui dizer nada.
- Então me diga que não sente o mesmo Claire... Me diga que não me ama – segurou meu rosto com as duas mãos, olhando seus olhos azuis, intensos, extremos – Me diga que ama o Victor. Você já mentiu para mim antes, eu sei que você pode mentir de novo. Minta para mim Claire, quebre meu raciocínio, foda com meu coração mais uma vez e minta.... diga que não me ama e eu te deixarei ir.
Eu olhei para ele e disse o que eu já tinha dito antes, tantas vezes, mas desta vez ele não fugiria.
- Eu não posso... Eu te amo Lucius.
Ele abandonou meu rosto para colocar as mãos sobre meus ombros. Meu peito subia e descia, procurando ar, razão, mas nenhum dos dois apareceu. Lentamente suas mãos foram fazendo o contorno de meus ombros, com as alças do vestido em suas mãos, o tecido deslizando sobre minha pele, seus olhos sobre os meus, descerem junto com o vestido. Senti o tecido leve sobre os meus pés e tive consciência que estava apenas de calcinha a sua frente. Seus olhos me observaram com lentidão, absorvendo cada detalhe. Meu colo, meus seios, minha barriga, meu quadril, minhas pernas, meu rosto. Ele me olhava enquanto sentia meus sentidos falharem. Vi suas mãos agirem sobre sua camisa branca e a tirarem, deixando seu tronco à mostra. Encostou seu corpo ao meu novamente, me fazendo arrepiar inteiramente, sentindo sua pele através dos meus seios, barriga, mãos. Ele me recostou novamente na parede e me beijou, desta vez com fúria, desejo. Eu correspondi, agarrei a sua nuca, arranhei suas costas. Ele arfou entre o beijo e continuou a trabalhar com as mãos. Desceu sua mão grossa sobre minha barriga e chegou a meus quadris, colocou a mão debaixo da minha calcinha, deixando seus dedos me tocarem. Todo ar fugiu por minha boca, ele continuava lentamente, pressionando, excitando. Mordi meu lábio inferior tentando não gritar de dor e desejo, me agarrava a ele com as unhas, deslizando sobre a pele, arrancando sua carne. Podia sentir respiração forte sobre meus cabelos e ombros, tão desesperado quanto eu. Eu podia sentir meu ventre expandir e encolher com cada toque. Ele começou a acelerar a fricção, me deixando louca, de uma forma estranha, indescritível. Quando parecia que tudo explodiria, quando não agüentaria mais, quando minhas pernas não me sustentavam, ele parou.
- Não – eu consegui dizer – Continua...
- Vem comigo Claire...
Suas mãos me guiaram ate a beirada de sua cama, me sustentando com seus braços. Eu queria beijá-lo, cada extensão de seu corpo, começando por seu peito, descendo em sua barriga, terminar o que um dia eu comecei. Mas eu não pude fazer nada quando eu o vi descer sua calça, depois sua boxer. Eu mal conseguia respirar antes, agora que ele estava nu era como se não respirasse. Ele sentou a beirada da cama, próximo a mim e me puxou, deixando minha barriga a centímetros de sua boca. Deslizou sua boca em minha barriga, senti sua língua quente enquanto suas mãos tiravam minha calcinha. Ele ficou quieto por um tempo, só olhando, me deixando absorta.
- Tudo em você é perfeito... tudo – ele perdia o ar entre as palavras, me deixando mais extasiada.
Uma de suas mãos foram para meu quadril enquanto a outra apertava a minha bunda com força, ele aproximou sua boca e começou a beijar novamente minha barriga, meu quadril, a parte interna da minha coxa, minha intimidade. Minha cabeça pendia para trás, o ar escasso, sua mão sobre meu seio, acariciando, moldando, beliscando. Tudo estava voltando com uma força maior, sua língua insistia, mais, mais, e mais... Urrei sentindo me contrair e depois tudo explodir dentro de mim, um desejo descontrolado se esvaindo. Olhei Lucius mais uma vez, aqueles olhos grandes, indecifráveis. Eu precisava de mais, eu precisava dele. Ele pareceu entender. Moldou meus quadris com suas mãos e me puxou para ele, cada perna envolta de seu quadril, me encaixando em seus quadris. Senti seu membro, perto de estar dentro de mim, mas ele não o fez. Ele parecia querer me excitar mais, como se isso fosse possível. Suas mãos apertavam minha bunda enquanto sua boca mordia levemente meus seios, delineavam os com sua língua, me fazendo arfar mais. Segurei sua cabeça com força querendo mais, ele me obedecia, beijando meu colo, meus ombros, meus seios. Desci minha mão sobre seu tórax, arranhando de leve sua barriga, chegando à parte interior da sua coxa. Senti-o encolher e apertar minha coxa também. Acariciei seu membro, sem saber muito o que fazer, ele arfou, baixou sua cabeça em meu ombro, se derreteu em mim.
- Mais rápido... – suplicou.
Eu continuei, rápida, o ouvindo arfar mais e mais. Sentia seu desejo correr em minha corrente sangüínea, como estivéssemos ligados. Ele segurou minha mão como se não agüentasse mais e a tirou. Fiquei sem entender no começo quando sua mão puxou meus cabelos e juntou meu rosto em seu ombro. Mas a duvida se foi quando ele juntou meu quadril ao dele. Deixei um grito abafado de dor escapar quando ele se deslizou dentro de mim. Doloroso. Eu só senti dor. Mordi seu ombro com força tentando afastar a dor.
- Calma pequena, eu vou cuidar de você...
Ele deitou meu corpo sobre a cama, me colocando de baixo dele, ainda dentro de mim. Limpou as lagrimas que escorriam silenciosamente e pousou seu corpo sobre o meu. Puxou minha perna para cima, acariciou do começo da minha coxa ate em cima, se enterrando mais em mim. O ar fugiu dos meus pulmões, sentindo a dor diluir e se misturar com gotas de prazer. Ele continuou lento, atencioso, me olhando nos olhos, esperando qualquer sinal de dor. Mas ela não veio. Ele continuou, aumentando o ritmo, suas mãos sobre meu quadril, subindo gradualmente, acariciando, afagando cada parte ate chegar meu rosto. Ele me beijou, sentindo ele dentro de mim, pulsante, acelerando. Me agarrei a ele sentindo aquela sensação inacreditável aumentar. Ele sussurrava entre as palavras coisas indecifráveis, menos uma.
- Amo... Eu te amo, minha pequena.
Ele me levantou, me colocando sentado sobre ele, colocando mais dele dentro de mim. O beijei expressando todo o meu desejo, meu prazer, meu amor, minha paixão. Seguia o ritmo que ele ditava, mais extasiada, mais feroz, mais vivaz. Senti aquela pontada novamente se desenvolver, contraindo, expandindo, me controlando. Ofegava, arfava, gritava, gritava seu nome, sentindo chegar perto de mais daquele abismo, entregue aos meus sentidos. Agarrei-me a ele, eu queria senti-lo, comprovar que ele realmente estava aqui. Beijei-o uma ultima vez sabendo que não agüentaria mais. Gritei, me contorci sobre ele, com a cabeça pendida, os pés contraídos, o coração acelerado. Fui voltando aos poucos, o senti também urrar, se derramar em mim, gozar assim como eu. Uma languidez tomou conta do meu corpo. Aquela felicidade terna me envolvendo. Eu o amei de todas as formas possíveis. Deitou-me novamente na cama e se retirou, deitou ao meu lado e me envolveu entre seus braços, o único lugar onde eu pertencia, o único lugar que ele queria que eu estivesse. Começou a passar as mãos entre meus cabelos, lento, dócil, me desfazendo nele. O sono chegava leve e preciso. Puxou-me, colocando seu rosto em frente ao dele, me olhando intenso.
- Eu te tive da forma que eu nunca imaginava ser. Você é tudo que eu preciso, Claire. Tudo que preciso ser é quando estou ao seu lado. Eu nunca vou te deixar... nunca.
- Você me entendi agora? Porque eu sempre insisti?
- Suponho que te entender não é uma questão de inteligência e sim de sentir, entrar em contato.
Sorri ao ouvir as palavras de Clarisse Lispector serem repetidas pela voz de Lucius. Beijei seus lábios de leve.
- Eu te amo...
- Eu nunca vou te abandonar Claire... – sua mão sobre meu rosto, segurando – Porque não há nenhuma outra mulher que eu possa amar.
Dexei-me embalar por suas palavras e dormir entre seus braços, sem saber que amanha seria o primeiro dia em que ele me abandonaria.



Apoiei meu pé sobre a beirada da cama e amarrei o cadarço do meu tênis. Eu já estava atrasada e precisava ir, mesmo que a última coisa que eu queria fazer agora era deixá-lo aqui.
- Me diga de novo porque você precisa ir?
Ele puxou meu corpo para trás, me fazendo deitar novamente na cama. Eu ri alto e tentei me desfazer de seus braços, mas ele era maior e mais forte que eu. E quando eu pude ver aqueles olhos, ele sobre mim e seu sorriso, não precisou de muito esforço para eu continuar ali.
- Eu preciso conversar com a Sura sobre o teste de ontem.
Tentei soar séria, convincente, mas não estava funcionando muito. Ele continuava a brincar com uma mexa do meu cabelo enquanto me olhava nos olhos.
- Só isso? – eu assenti, mordendo meu lábio inferior, tentando não rir – Eu posso ser mais convincente que isso...
Ele falou com um sorriso malicioso no rosto, me fazendo rir também. Continuei a olhá-lo, ele fazia o mesmo comigo. As sobrancelhas grossas, a pequena cicatriz, os olhos azuis profundos, a boca bem delineado, o queixo anguloso. Minha respiração se tornou pesada. Ele era tão perfeito, tudo nele me fazia sentir assim, sem ar, sem chão, sem escolhas. Eu precisava dele, tanto. E agora ele estava aqui comigo, como sempre quis, mas muito melhor do que já imaginei.
- Me promete... – deixei as palavras fluírem – Me promete que não vai me deixar...
Eu vi um triste sorriso se formar em sua boca, com os olhos em mim, sua mão entre meus cabelos.
- Eu te prometo, Claire, que não haverá ninguém que faça te tirar de mim, de tirar de dentro de mim. Eu nunca vou te deixar... você já faz parte de mim.
Senti aquele estranho medo me cercar. Não era a resposta que eu esperava. Eu queria mais, eu precisava de mais. Ele me forçou a olhá-lo de novo. Ele sabia o que eu senti com suas palavras, mas ele não me deu tempo de concretizá-las.
- Me prometa... – ele repetiu minhas palavras, só que mais sério – Me prometa que nunca deixara de me amar, independente do que aconteça, independente do que eu faça, você sempre vai me amar...
Pude sentir o gosto amargo das palavras, a sua dominação e seu egoísmo, mas eu sabia a resposta.
- Eu prometo... Eu sempre vou te amar, independente do que aconteça.
Ele continuou a me encarar, com os olhos fixos, parecendo absorver o que eu tinha dito e feliz com minha promessa. Sua mão, que acariciava meu rosto, parou e se espalmou sobre meu rosto, sua boca se aproximando, seus olhos nos meus, o beijo. Sua língua quente, preenchendo o vão da minha boca, se encaixando em mim, murmúrios surdos, mãos gentis, pernas entrelaçadas, sorrisos bobos, promessas de um amor, gemidos, o céu, a terra, ele e eu, suados, entregues, amando. Eu sempre vou amá-lo, independente se isso me machuque, mesmo que seja meu fim.

Atravessei a área da piscina, com passos apressados. Eu estava muito atrasada. Eu tinha que conversar com Sura e ainda tinha aula de manhã e começar a treinar com o quinto ano. Mas não estava arrependida, eu tinha gastado meu tempo com uma coisa bem melhor. Sorri. Era estranho e ate um pouco surreal pensar sobre o que tinha acontecido. Tudo tinha mudado tão rápido. Eu finalmente tinha conseguido Lucius só para mim, ele tinha se entregue a mim, tirando os escudos, me amando de verdade. Eu não queria deixá-lo sozinho no quarto, já que diferente de mim, ele só tinha treinos à tarde, mas eu precisava. Eu tinha que conversar com Sura e com Victor. Victor seria a parte mais difícil. Eu sabia que Lucius não aprovaria minha decisão e por isso não tinha dito a ele, mas eu precisava falar com Victor, esclarecer as coisas, saber se ele sabia de algo. Ele tinha bebido meu sangue, mesmo que pouco, poderia ter descoberto algo. Ajeitei minha blusa lembrando desse fato. Ele havia me mordido de leve, havia apenas pequenos furos, mas visíveis. Coloquei um band-aid no local e uma blusa onde a gola não deixasse o ferimento exposto, porem se alguém visse, eu poderia alegar que me machuquei. Os únicos que poderiam presumir a verdade era Celina, Moira, Sam e Jeremi, mas eles não contariam nada a ninguém se eu pedisse. Pelo menos eu esperava isso. Passei a parede de vidro e observei a quadra vazia. Não havia ninguém ali, mas por trás da porta dupla eu podia ouvir algumas vozes. Ate alguns gritos. Eu estranhei, mas não hesitei. Precisava saber o que estava acontecendo. Andei mais rápido, alcançando a barra da porta e a abrindo. Fiquei atônita por um tempo olhando a cena a minha frente. Estavam todos aqui, alguns chorando, outros desesperados, outros em transe. Mas a maioria estava tensa, esperando, sérios. Afinal eles foram treinados para isso. Eu pude ver alguns alunos do quinto nível orientando os mais novos, a maioria estava sentada nas mesas, sem saber o que fazer. Eu pude notar que faltavam alguns alunos, na verdade quase todo o quinto ano, mas principalmente, eu notei que nem Sam e nem Jeremi estavam ali. Passei pelas mesas, sentindo os olhares sobre mim, e cheguei onde Celina e Moira estavam. Moira olhava para o nada, absorta pelos seus pensamentos, enquanto Celina tinha seu rosto entre suas mãos e ela estava chorando. Havia acontecido algo, algo muito ruim. Sentei em frente à Moira e ao lado de Celina. Moira olhou diretamente para mim enquanto Celina pareceu nem sentir minha presença. Eu pude ver através dos olhos de Moira o desespero e a dor.
- O que ta acontecendo?
Moira respirou longamente antes de me responder.
- A Base foi atacada.
Olhei Moira por um tempo. A Base foi atacada. Eu sabia o que aquilo significava. As dominações, onde eles se encontravam atualmente, foi atacada. Então eles tinham conseguido a localização do novo Instituto. Um súbito pensamento me veio à cabeça. Bianca.
- Alguém morreu? – o desespero expresso em cada palavra.
- Sim, três dominações foram mortas e alguns principados foram feridos.
- Bianca?!
- Não, ela não morreu, ela esta viva, Claire, ela esta bem.
Depois do susto, eu percebi o que aquelas palavras poderiam significar, o porquê de Celina estar chorando.
- Onde Sam e Jeremi estão?
- Eu não sei, ninguém sabe... – Moira olhou para os alunos mais velhos – e eles não dizem nada.
O medo aumentou. Poderia ter acontecido algo mais sério, eles poderiam... Poderiam... Levantei-me da mesa, eu precisava saber o que estava acontecendo e eles me diriam o que era. Moira segurou meu antebraço um segundo antes de eu ir.
- Isso não é tudo Claire. Pelo o que eu fiquei sabendo as Dominações foram encontradas em um raio perto do nosso Instituto... Eles estão vindo para cá e a Bianca...
- O que tem a Bianca? – quase gritei de volta.
- Ela esta dizendo que foi a Luisa... – Moira hesitou – Luisa e Lucius que os ajudaram a encontrar o local.
As palavras foram como um choque. Isso não poderia ser verdade. Não era. Ele estava comigo, sempre esteve. Não, não era verdade. Tirei meu braço da mão de Moira.
- Aonde você vai?
- Eu vou falar com a Sura...
As palavras mal foram ditas quando deu as costas para Moira e Celina. Saí o mais rápido que pude, passando pelas mesas e chegando a porta. Antes que pudesse abri-la alguém me segurou pelo braço. Tentei desvencilhar, mas a pessoa me segurou com força.
- O que você esta fazendo? – uma voz firme e feminina me disse.
Olhei para trás para encontrar uma garota, da mesma altura, com o cabelo curto, rente a cabeça e traços delicados, me segurando. Tirei meu braço de suas mãos sem esforço algum, de forma rápida e bruta.
- Eu vou falar com a Sura e espero que você não me impeça!
Ele se posicionou, me avisando que não me deixaria passar, mas antes que uma luta armasse, alguém interveio. Paulo Vitor.
- Tais... – ele a chamou e prendeu sua atenção – Deixe a ir, ela é irmã da Bianca.
Ela hesitou no início, mas depois saiu de perto de mim, indo para o outro lado, um pouco contra gosto.
- Obrigada.
Ele apenas acenou e abriu a porta para mim. Não demorei nem um segundo a mais para sair dali. Eu iria falar com Sura, ela me diria a verdade.

sábado, 21 de agosto de 2010

Capítulo 24 - *Sangue Fresco:

- O que você ta fazendo aqui? – eu disse com a voz ofegante, preocupada.
- Era o que eu deveria perguntar pra você... – voltou a olhar a estrada, com a expressão fria de sempre e os lábios cerrados – Agora, deixe te levar pra dar uma volta.
Ele girou a chave e deu a partindo, acelerando o carro o máximo possível. A estrada passava rapidamente através da janela. Eu continuei a olhá-lo. O que ele queria com tudo aquilo? Não bastava falar comigo no Instituto? Não, lógico que não. As coisas com Lucius nunca foram simples.
- Quando você descobriu? – eu disse sem rodeios.
Era claro que ele sabia, não havia outra explicação.
- Uma semana depois que Victor te levou pra “sair” – ele disse a última palavra com desgosto e raiva.
O silêncio permaneceu entre nós. Eu não tive coragem de perguntar mais nada, eu não queria saber as respostas. Foi ele quem quebrou o silêncio.
- Quanto tempo você achou que me enganaria? – ele continuava a olhar a estrada, mas eu podia sentir a pressão por detrás das palavras.
- Eu nunca pensei sobre isso, só deixava acontecer. Pra falar a verdade eu nunca pensei que você seria estúpido o bastante pra acreditar em tudo que eu disse – eu deixei que as palavras veladas falassem por mim – mas eu estava errada.
Ele apertou o volante, mostrando os nós brancos das juntas – Não me provoque Claire...
- É apenas a verdade Lucius... – eu disse com os dentes cerrados de raiva – Agora o que te fez mudar de idéia e intervir no meu treino?
- Luisa – ele foi direto – Ela também estava desconfiada ate antes que eu. Mas foi só agora que ela ficou sabendo sobre sua melhora nos treinos.
- Ficou sabendo? – indaguei atônita.
- Quem você acha que te vigiava? – perguntou cínico.
- Vigiava? Eu não acredito que aquela... Arg! Não sei quem é mais patético nessa sua relação. Mandando sua vadiazinha fazer o trabalho sujo?
De súbito Lucius desviou seus olhos da estrada para mim, com a boca estreita, a testa franzida, os olhos tensos, com raiva – Não ouse falar assim dela!
Ele quase gritou para mim, mas eu não me importei. Aquela vadia pretensiosa ia me pagar!
- Claro, porque ela é tão esperta! – eu disse irônica, com um sorriso falso – Agora me fala qual é a lógica de parar meu treino quando eu estou melhorando?
- Por causa disso! – ele jogou as palavras para mim e parou o carro.
Olhei ao redor já reconhecendo o lugar. Era o mesmo lugar onde eu e Victor treinávamos. Quando voltei a olhar para Lucius ele já não estava mais lá. Olhei novamente a mata e vi que Lucius já se movia entre as árvores. Merda! Desci do carro seguindo seus passos, mas não conseguindo alcançá-lo. No final ele estava parado no centro de uma pequena clareira, onde havia poucas árvores, formando uma área aberta. Olhei sem entender toda a situação. O que ele tinha em mente me trazendo aqui?
- O que a gente ta fazendo aqui? – cruzei os braços, mais zangada.
- Era aqui que você e o Victor treinavam, certo?
Não respondi. Ele já sabia a resposta.
- Então eu vou treinar com você...
- Não mesmo! Eu não vou fazer isso.
- Porque não? Com medo? – soou desafiador.
Ele sabia como me provocar e eu estava quase aceitando o desafio.
- Eu não to com a roupa do treino – olhei para baixo e vi minha calça jeans e minha regata verde - Se você me es...
- Quem você acha que eu sou? O Victor? – ele me interrompeu – Se vamos fazer isso, vamos fazer do jeito certo. Quando você proteger sua dominação não haverá segundas chances. Você não vai poder escolher a roupa que veste, garotinha...
Eu quis arrancar aquele sorrisinho idiota do rosto dele, mas continuei calada, apenas o observando. Ele tirou sua jaqueta de couro preta, deixando amostra sua camiseta cinza e seu jeans preto surrado. Por último tirou seu coturno preto desgastado e me encarou com a feição divertida.
- Agora... vamos lutar.
Eu não sabia o que ele queria dizer com ‘lutar’, mas sabia que não seria coisa boa.
Como uma luz ele se jogou em minha direção sem ao menos avisar. Eu mal percebi quando meu corpo atingiu o chão.
- Mas que merda você acha que...
Tentei dizer mais, me levantando, quando senti meu corpo ser empurrado e pressionado contra uma árvore. Seu sorriso demente, seu corpo junto ao meu, sua mão no meu pescoço e em minha cintura. Seu rosto cada vez mais perto do meu, mais e mais e mais... Ele queria me distrair, mas não adiantaria. Projetei forças em minhas mãos que encontraram seus ombros e o empurrei com mais força, girando nossos corpos para o nada. No momento seguinte ele não estava mais em minhas mãos, no momento seguinte eu não tinha a mínima idéia de onde ele estava. Fechei meus olhos tentando encontrá-lo. Eu precisava me concentrar, me focar nele. Senti sua vibração perto de um toque e me esgueirei, sentindo o fraco vento tocar minhas faces. Abri os olhos e me lancei contra a árvore mais próxima, evitando o chute de Lucius. Senti suas mãos entrelaçarem minha cintura me puxando contra ele. Fiz um esforço inútil de me agachar e retirar suas mãos, mas não adiantou. Meu corpo foi de encontro a árvore do lado e senti minha cabeça latejar de dor. Eu precisava arranjar... Meus pensamentos foram interrompidos quando minha cabeça foi lançada novamente à árvore com o corpo virado de costas para ele. Meu corpo reclamou de dor e meu pescoço foi apertado contra árvore com antebraço de Lucius. Meus dentes rangeram de dor e minhas mãos atadas às costas com apenas uma mão. O ar quente da sua respiração pairou a centímetros da minha orelha, inquieto, fervente.
- Se você desistir agora, eu paro de lutar com você...
Virei meu rosto o máximo que pude e o olhei transpassado, a centímetros da sua boca. Vi como seus olhos foram a minha boca, tentado a tocar a dele a minha.
- Nunca! – vociferei.
Aproveitei do seu devaneio, pisei seu pé com força e me livrei uma das minhas mãos do seu aperto. Contra ataquei atingindo a área do seu diafragma com meu cotovelo com bastante força. Quando percebi que sua mão perdia força, tirei a minha outra mão e virei meu corpo rápido, roçando meu corpo à casca áspera da árvore, já que ele me limitava com seu corpo. Levei minha mão a seu cabelo e o puxei para trás, com toda força que eu tinha. Antes que ele percebesse minha intenção, chutei entre suas pernas o vendo encolher. Afinal ele não era tão diferente quanto os humanos. Acertei sua cabeça com o joelho com bastante força, mas seu rosto não mexeu, continuou a olhar o chão.
-Desculpa... – ouvi sua voz rouca, baixa e desconexa me dizer.
Eu nem o vi levantar completamente. Em um momento ele estava meio agachado a minha frente e no outro ele estava na minha frente golpeando meu rosto com sua mão. Cada músculo do meu rosto exalou dor quando sua mão me atingiu, um som agudo saiu da minha garganta, meu corpo foi projetado para longe, entre o solo seco e as folhas quebradiças. Antes mesmo que sentisse a dor se alastrar por mim ou percebesse o que tinha acabado de acontecer, ele já estava sobre mim com a mão no meu pescoço, virando meu rosto para o lado. Senti o sangue escorrer do canto da minha boca até a terra quando sua boca foi de encontro à curva do meu pescoço, encostando seus dentes ali. Uma mistura de dor e prazer se dissolveu em mim quando a mordida se tornou cada vez mais forte. Lucius tirou sua boca dessa região e sussurrou entre palavras cortadas.
- Isso não é nada comparado a uma luta de verdade... ao que realmente aconteceria se você perdesse.
Ele levantou o rosto, como se para ler as verdades nele, e eu pude ver a cena se formar novamente em minha cabeça. Não era tão escuro quanto no meu quarto, no meu sonho, mas eu ainda podia ver sua barba rala ou mesmo senti-la quando ele me mordeu. Não foi um sonho, foi real, o maldito sonho foi real. Eu franzi o cenho vendo a realidade estampada na minha cara.
- Foi real... – eu sussurrei mais para mim do que para ele – o sonho foi real.
Eu vi a confusão se tornar certeza em segundos através dos seus olhos. Ele se levantou rápido, fugindo do que eu acabara de dizer. Ele ofereceu sua mão, mas eu não a evitei, aceitei sua ajuda. Estava confusa de mais para não aceitar. Ele me olhou com os olhos inexoráveis e feições sérias.
- Essa luta foi só uma amostra que você ainda não esta preparada pra lutar fora do Instituto. Os seus treinamentos com o Victor acabaram.
Ele começou a ir a direção onde sua jaqueta e seus coturnos ficavam, mas eu intervim e virei seu corpo para o meu.
- Você não manda em mim. Eu paro de treinar quando eu quiser e se eu quiser.
Vi como seus olhos borbulhavam raiva e como suas mãos lutavam para não me agarrar.
- Isso não é decisão sua – seu maxilar travado me disse que sua raiva havia aumentado – Se você quer treinar, você vai treinar dentro do Instituto sob o meu supervisionamento. Aqui não é lugar pra você. Não é seguro. Da próxima vez que você me desobedecer eu não vou lutar com você, eu vou te trancar no seu quarto.
Eu o olhei indignada. Ele não podia fazer isso! Fiquei atônita o vendo colocar novamente seus coturnos e sua jaqueta de couro. Quando eu acordei do meu transe, não pude sentir mais nada do que raiva, fúria, desgosto, amargura.
- Seu filho da puta arrogante. Se você acha que pode me trancar no meu quarto e moldar minha vida. Eu to cansada de você. Da sua arrogância, do seu egoísmo, sua prepotência...
Comecei a andar sem rumo, indo para mata, sem me importar. Eu só queria ficar longe dele, não o ver nunca mais.
- Onde você pensa que vai, Claire? – a voz dele soou atrás de mim.
- Onde você acha que eu vou, Lucius? – me virei para ele com as mãos na cintura – Para o Instituto, mas dessa vez sem você!
- Não me force a te obrigar...
- Me obrigar ao que?! – avancei para ele – Eu quero que você tente...
Antes que eu terminasse a frase, ele dominou meus ombros e puxou minhas pernas de encontro ao seu braço estendido, me carregando no colo. Trinta segundos depois eu estava no banco de carona, com o sinto me prendendo e as portas do carro travadas. Eu bufei de raiva vendo Lucius ligar o carro e se dirigir à estrada. Eu pensei em desatar o sinto, mas...
- Não pense nisso, Claire. Você sabe que não conseguiria escapar.
Cruzei os braços já conformada e olhei para o lado, vendo a imagem se deslocar rapidamente. Eu não podia acreditar no que tinha acabado de acontecer. Ele tinha descoberto e me levado pra lutar. Pior, ele tinha descoberto sobre minhas mentiras e isso mudava tudo. Não tinha a mínima idéia do que se passava na mente do Lucius. Ele tinha esperado dois meses para fazer alguma coisa. Aceitando minhas saídas com Victor e a relação que eu tinha com ele. Agora que ele tinha resolvido me contar, eu não sabia como isso ia ficar. A única certeza que eu tinha era que ele estava de volta a minha vida, mandando e limitando minhas escolhas. O carro foi parando lentamente quando fomos chegando à porta do Instituto. Tentei abrir a porta, mas os pinos ainda estavam travados. Olhei Lucius sem entender.
- Nada mudou entre nós, eu espero que você entenda isso. – ele disse olhando a frente, sem me olhar.
A única coisa que se ouviu depois foram às portas sendo destravadas, mas eu não deixaria Lucius ter a última palavra, não deixaria demonstrar como essas palavras me afetaram.
- Não se preocupe Lucius - abri a porta e segurei minha mochila – Eu entendi bem isso quando você socou minha cara, ficou bem claro – saí do carro e disse as palavras ao vento, sabendo que ele as ouviria – Eu também vou continuar com Victor.
Disse às palavras que ele não teve coragem de me dizer. “Nada mudou entre nós” – eu ainda continuo com a Luisa. Bati a porta do carro com força, ouvindo o vidro estralar. Eu queria, naquele momento, que aquele carro explodisse, junto com ele.

Adentrei ao jardim em passos duros e apressados, a raiva revirando minhas vísceras. Eu tinha que encontrar Victor e era agora. Toda raiva foi se acumulando quando as memórias do que tinha acabado de acontecer emanaram em minha mente. Ele me usou, me manipulou com aquele miserável sonho, como ele sempre fazia. Eu revirei tudo em minha mente, quando eu passava as noites tentando entender o porquê daquele sonho. Tão simples. Eu era dele. Então porque agora que ele podia me ter, ele não me queria? Usando-me pelo simples fato de me ter ao alcance. Cheguei ao corredor estreito e subi as escadas indo aos dormitórios masculinos. Encontrei a porta do quarto de Victor ao fundo. Abri a porta de súbito e pude ouvir resmungos surdos saírem do quarto. Não hesitei nenhum momento quando fui a seu quarto. Algo me dizia que não era algo bom e eu não estava enganada.
- Finalmente!
Vi Luisa levantar da cadeira ao lado da cama onde Victor se encontrava. Minha respiração cessou por alguns segundos ate digerir tudo o que via. Victor amarrado à cama com correntes de prata, seus braços e pernas segurados a cabeceira e o final da cama, me fizeram ficar sem reação. Não pensei que eles seriam capazes. Luisa ainda ao seu lado, já levantada, pegou a espada que estava recostada no colchão e foi em minha direção. Pude ver nitidamente o sangue seco por sua extensão. O sangue de Victor.
- Eu acho que você pode cuidar do Victor por mim, não pode Claire? – Luisa disse jogando todo o escárnio nessa frase.
Desviei meus olhos de Victor para encontrar Luisa a minha frente, com o sorriso débil no rosto e a espada encostada em seu ombro. Aquela raiva de antes só fez aumentar, latejar em meus olhos, membros, corpo e mente. Soquei seu rosto sem pensar, vendo seu corpo ser lançado para trás. Empurrei seu corpo contra a parede e juntei minhas mãos em sua garganta.
- Eu vou fazer você sofrer o dobro que ele sofreu, sua vadia imbecil!
Senti a ponta aguda da espada ser forjada contra minha pele embaixo da regata, no quadril, segurada habilidosamente por Minogue.
- Eu estarei esperando por isso.
Forçando mais a espadas a minha cintura, ela me fez afastar. Vi sua silhueta atravessar o pequeno espaço entre nós e ir para porta.
- Agora eu preciso ir... Lucius esta me esperando – ela esboçou um sorriso grande e fechou a porta atrás de si.
No próximo segundo eu estava indo para cama de Victor para conferir se nada tinha acontecido. Ele parecia fraco, mas, para minha surpresa, estava quieto, como se esperasse. Vi a mancha de sangue em sua blusa, na área do abdômen, e previ que o corte deveria ser ali. Levantei a blusa fazendo Victor acordar do seu transe. Ele se debateu contra as correntes enquanto eu tentava acalmá-lo.
- Victor sou eu. Olhe pra mim... Sou eu.
Seus dentes estavam expostos, sons animalescos saindo da sua boca, se debatendo mais.
- Porra Victor! Sou EU! – gritei para ele
Ele parou de repente, me reconhecendo.
- Você...
- Eu não acredito que ela fez isso com você.
Comecei a limpar a ferida em seu abdômen com o lençol branco da cama.
- Não ela... – ele disse com ar cortado – Ele. Foi o Lucius que fez isso comigo.
As palavras foram como um impacto para mim, mas eu continuei a limpar. O sangue foi desaparecendo ate não encontrar nada no lugar.
- Ela me deu sangue um tempo depois que ele me feriu e me prendeu aqui – ele respondeu antes mesmo que eu perguntasse.
- Certo.
Eu não pude dizer mais nada depois disso. Se ele tinha se machucado era por minha culpa. Só minha culpa.
- Eu realmente estou gostando do que você esta fazendo com suas mãos, mas eu acho que esta na hora de me libertar – ele disse com algum humor, mas as palavras saíram fracas.
Parei de limpar seu tórax e me dirigi ate as correntes, vendo que estavam prendidas com um grande cadeado.
- As chaves estão na gaveta do criado mudo.
Dei a volta à cama e peguei a chave onde ele disse que estaria. Desprendi primeiro seu braço e fui fazendo o mesmo com o restante.
- Ele te torturou muito?
Sentei ao seu lado, vendo o levantar seu tronco para sentar a minha frente, já com aparência normal.
- Luisa me torturou, Claire... Lucius não. Ele não blefa ou brinca, só faz.
Olhei sua camisa embrenhada de sangue e sua aparência fraca, débil, e me senti mais culpada.
- Me desculpa Victor. Eu não pensei que ele fosse capaz.
- Eu sempre soube – senti sua mão em meu cabelo – E isso não é sua culpa – ele tirou algo que estava entre meus cabelos e me mostrou – Eu suponho que ele também não foi tão gentil com você?
Olhei a folha seca entre seus dedos e ri, cansada.
- Não. Ele disse que não poderia mais treinar.
- Previsível.
- Eu sei. Mas eu não concordo com ele.
- Eu não posso fazer nada a respeito Claire... Mas talvez você possa fazer algo.
- Eu?
- Sim. A única coisa que você precisa fazer é conversar com a Sura.





Os poucos treinadores que o Instituto tinha estavam ao meu redor. Isso contava Luisa e Lucius. Todos me olhavam curiosos, sem entender a situação, apenas Sura sabia a verdadeira motivação de tudo aquilo. Talvez eu estivesse louca ou apenas um pouco alterada, mas eu estava pouco me importando. As recomendações de Victor ainda estavam em minha cabeça. Ele me disse que seria complicado convencer a Sura, mas que isso também era um direito meu e que dificilmente ela poderia dizer não.
- Eu vou ser rápida e sucinta para todos aqui – Sura lançou um olhar penetrante para Lucius que se manteve no lugar – Claire Bauer exigiu um novo teste de nível – ela rodeou o olhar, olhando para todos – E espero que todos estejam em acordo.
- Eu não...
- Não você Lucius. Você não tem o direito de revogar minha decisão, já que você foi à causa dela – ela interrompeu Lucius – Claire alegou que o seu teste foi influenciado por suas emoções e decisões precipitadas e eu estou de acordo com ela.
Sua postura se tornou mais dura e seu maxilar travou com os dentes cerrados – Claro Sura.
- Mas alguém?
Todos se entreolharam e não disseram nada. Sura continuou com seu discurso.
- Como todos sabem os testes são avaliados por um treinador, mas nesse caso eu chamei todos aqui para que não haja dúvidas sobre a decisão feita aqui... Claire?
- Sura? – mantive meu porte com as mãos cruzadas a costas, vendo a olhar para mim.
- Seu teste foi anulado devido a uma falha de um dos nossos treinadores, por causa disto fica a sua escolha com quem você gostaria de lutar...
Sorri vendo as coisas que Victor tinha me dito se tornarem realidade.

“Ela vai te dar a opção de escolher com quem você quer lutar, já que foi o próprio Instituto que errou. E é nessa hora que o nosso plano entra em ação. Você vai dizer...”

- Luisa Minogue! – disse forte e com convicção.
Vi as feições de todos, Jace, Irial, Sofia e principalmente de Lucius me olharem confusos, como se eu tivesse cometido algum erro.

“Não faz a mínimo sentido Victor. Ela é mais forte que eu, mais experiente. Porra, Victor, ela é a melhor executadora! E ta louca pra me dar uma surra.”

Diferente dos outros, Luisa sorria de lado a lado, feliz por minha escolha. Ela parecia lutar tanto quanto eu.
- Se essa é sua decisão, Claire...
- Sim, é a minha decisão.
- Então, que o teste comece.

“Luisa tem um ponto fraco, Claire, o Lucius. E só você pode usar isso contra ela.”

Fui para o centro da quadra, sentindo todos os olhares em minhas costas. Luisa se juntou a mim com o sorriso convencido e o corpo preparado para luta*.
- Eu nunca pensei que isso chegaria às vias de fato, Claire...
- Eu te disse que te faria sofrer.
- E eu te disse que ficaria ansiosa por te ver tentar.
Nós dissemos baixo, um dialogo, mas sabíamos que todos estavam ouvindo. Começamos a andar em círculos lentamente, prestando atenção em cada detalhe, cada movimento, só esperando que alguma de nós duas déssemos o primeiro golpe. Com o tempo ela pareceu impaciente com todas as voltas. Eu fazia o que Victor tinha me dito para fazer. Eu não daria o primeiro passo, eu a deixaria impaciente, irritada, eminente ao erro. Estava concentrada de uma forma que não estava quando lutei com Lucius, dessa vez eu não perderia.

Projeção, soco, abaixa, empurra, soca, cabeça, chute, costela, derruba, imobiliza – escutei todas as palavras com uma velocidade maior do que o normal.

Logo depois ela fez exatamente o que eu previ. Meu corpo foi jogado ao chão, um estrondo se fez na quadra, e minhas pernas foram mobilizadas por suas pernas enquanto sua mão segurava meus pulsos.

“Faça a pensar que esta ganhando. Então jogue com ela.”


- Eu nunca pensei que seria tão fácil, garota – o sorriso estava de volta.
- Você tem certeza? Talvez você tenha esquecido de ver um pequeno detalhe... – estiquei meu pescoço e a deixei ver a pequena mancha roxa que Lucius havia feito em mim quando me mordeu – Adivinha quem fez isso comigo?
Como previsto ela levou a sério demais as verdadeiras intenções daquele hematoma. Seus olhos foram imediatamente para Lucius que estava a sua frente, com os olhos indagadores. Não dei tempo para que aquele gesto tivesse tempo para resposta. Joguei com força minhas mãos para frente e troquei nossos corpos de posição, ficando por cima dela. Foi a minha vez de sorrir.
- E não foi só isso... – ela se debatia ferozmente contra meu aperto, mas eu a segurei com força e com habilidade. Deitei sobre ela, tocando nossos corpos e chegando perto do seu ouvido – À noite ele me disse que eu só pertencia a ele, apenas a ele – sussurrei de forma calma e cruel.
As últimas palavras foram ditas e meus olhos teimaram em olhar Lucius. Ele mantinha a mesma pose, mas eu podia ver a tensão em seus olhos. Voltei a encarar Luisa com um sorriso demoníaco no rosto.
- Ele já te disse isso?
- Sua vadiazinha baixa!
Ela me empurrou com força para trás me fazendo sair de cima dela. Voltei a ficar em pé em questão de segundos e pressenti que Luisa iria me atacar. Desviei do seu primeiro golpe e a vi me passar, antes que ela me contra atacasse, puxei seu cabelo para trás e chutei suas costas, fazendo a ir para frente e quase cair. Era a minha hora de agir. Eu não podia a deixar reagir, recuperar a consciência e começar a lutar com a razão. Eu precisava dela desestabilizada, com raiva, sem foco. Corri para seu lado, vendo a virar para me socar, mas me abaixei à tempo e soquei sua barriga com força. Ela se afastou um pouco, mas eu continuei. Com rapidez enfiei minha mão cerrada em seu rosto, rodopiei e acertei suas costelas com meu cotovelo com uma força fora do normal, por último baixei meu corpo por inteiro, lhe deu uma rasteira e a derrubei no chão. O choque do seu corpo ao chão foi alto, mas não mais alto do que a minha raiva. Pulei sobre ela e segurei seus braços com as minhas pernas, sem me importar com suas pernas que se debatiam inutilmente. Comecei a socar em seu rosto repetidas vezes, aumentando minha força e fúria.
- Isso foi por me humilhar! – eu gritava quase desesperada e a soquei de novo – Isso foi por tirar o que é meu, sua vadia! – cuspi as palavras e continuei a bater – E isso foi por torturar o Victor.
Ela já não se mexia tanto, apenas murmurava sons. O sangue escorria da boca e do seu nariz. Eu sabia que estava exagerando, mas isso só tomou minha consciência quando meu nome foi dito.
- Claire! – Lucius gritou – Sai de cima dela. Pára!
Alguém segurou meu braço e me tirou de cima dela. Eu ainda olhava o rosto de Luisa um pouco desconfigurado quando Lucius foi a seu amparo.
- Quem é a vadia agora, en?
Afastei-me com medo do que poderia fazer e olhei como todos me olhavam. Foi Sura que veio falar primeiro comigo.
- Eu acho melhor você ir...
- Não! Eu quero saber o resultado.
- Agora não é hora, Claire.
- Eu não me importo. Ela não é a melhor executadora? – eu a olhei, vendo que ela já estava em pé enquanto Lucius tentava conversar com ela – Eu a derrotei. Eu quero meu resultado.
- Ela esta certa – Sophia falou – Ela a derrotou, ela merece ir pro quinto nível. Pra falar a verdade eu nem sei o porquê dela estar no segundo nível. Ela é uma blind, ela tem que estar no quinto nível.
Olhei para aquelas feições pequenas e delicadas que não combinavam nem um pouco com a voz decidida e forte que veio dela. Ela usava uma calça jeans justa e uma regata meio velha branca. Seu quadril era pequeno e suas pernas longas, seus seios eram maiores e um pouco desproporcionais. Seu cabelo grande era castanho assim como seus olhos, sua boca carnuda e em suas costas havia grandes e afiladas asas brancas. Eu não sabia o porquê, mas apenas sua visão me agradou.
- Sophia esta certa – Jace se posicionou – Essa amostra demonstrou que ela é capaz. Não podemos nos dar o luxo de escolher.
- Eu não concordo tanto com isso, mas Jace esta certo, nós não podemos escolher.
- Certo. Se essa é a escolha de vocês... – Sura se virou para mim – Claire Bauer você é oficialmente do quinto ano daqui por diante.
Eu ri alto, sem poder me conter, alguns gritos também saíram de mim. Eu ouvi a porta da quadra se abrir e reconhece bem aquele sorriso, os olhos azuis, o cabelo loiro. Não pude evitar, no próximo momento eu já estava correndo para ele. Pulei em seu colo e entrelacei minhas pernas em sua cintura.
- Eu não acredito que consegui!
- Eu te disso...
Eu não pensei em mais nada, a única coisa que eu pude fazer e queria fazer era beijá-lo, com força, desejo, desespero, lhe agradecer. O beijei com seus cabelos em minhas mãos, sua língua entrou em minha boca, tão intenso quanto a minha. Mordisquei seus lábios e separei meu rosto do dele.
- Eu consegui – disse um pouco ofegante.
- Conseguiu...
Ele puxou meu cabelo para frente como se fosse começar um novo beijo.
- Claire! – a voz de Sura soou forte.
Tirei minhas pernas do corpo de Victor e desci, sabendo que tinha excedido.
- Desculpa Sura.
- Por favor saiam um pouco, eu preciso resolver umas coisas por aqui.
Olhei em volta e observei como tudo parecia tenso. Os treinadores estavam ao redor de Luisa, parecendo conversar algo sério, Lucius a tinha em seus braços, a contendo.
- Claro Sura, a gente já vai.
Peguei a mão de Victor.
- Ate mais Sura.
Victor sorriu descarado para ela. Nós saímos sem dizer uma palavra.
- Porque você ta sorrindo assim? – perguntei quando chegamos ao jardim.
- Talvez devêssemos seguir o conselho da Sura... – franzi o cenho sem entender – Talvez eu deva te levar pra sair, mas dessa vez um encontro de verdade.
Sorri voluntariamente sem dizer nada, a resposta estava na minha cara.




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Suas mãos corriam livremente pelo meu corpo e eu realmente não estava me importando. Cada beijo, cada toque, cada sussurro me faziam arrepiar inteiramente, como se uma descarga elétrica passasse por mim. Eu não podia me conter. Escorri minhas mãos por debaixo de sua blusa, sentindo cada músculo moldar minha mão. Ele era frio, mas tudo parecia me queimar por dentro. Uma alça do meu vestido desceu deixando meu pescoço totalmente exposto. Suas presas deslizaram por ali como agulhas afiadas, me deixando mais excitada. Eu não sabia explicar se era por ter bebido demais ou porque inconscientemente eu sempre quis aquilo. A única coisa que eu sabia era que eu precisava esquecer o Lucius e Victor estava conseguindo isso. Ele ergueu minha perna colocando seu quadril entre suas pernas e apertando mais suas presas.
- Não! – eu disse em êxtase.
Ele tirou sua boca dali e continuou a beijar a extensão do meu colo, meu ombro descoberto, meu maxilar, minha boca. Beijo ardente, intenso demais para que eu pudesse raciocinar direito. Ele o cortou com um pouco de esforço e me olhou atentamente.
- Você se lembra do nosso acordo, não lembra? – escorreu sua mão da parte mais baixa da minha coxa ate mais em cima.
- Sim – disse quase em um sussurro.
- Eu consegui te treinar, agora eu quero a minha parte...
Ele desceu sua cabeça em meu pescoço, dando pequenos beijos na região.
- Eu preciso do seu sangue Claire... Só isso.
Eu sabia da conseqüência desse ato, o que me acarretaria no Instituto. Mas eu estava cansada de esperar, ser usada, pressionada, eu queria a verdade e essa parecia à forma mais fácil e doce de consegui-la.
- Tudo bem – disse em um sopro.
Adrenalina correu por meu sangue quando senti suas presas em meu pescoço novamente. As senti rasgar minha pele em um misto de dor e prazer, um pouco de sangue escorrer, e minhas mãos segurarem seus cabelos. Mas isso foi por pouco tempo.