sábado, 21 de agosto de 2010

Capítulo 24 - *Sangue Fresco:

- O que você ta fazendo aqui? – eu disse com a voz ofegante, preocupada.
- Era o que eu deveria perguntar pra você... – voltou a olhar a estrada, com a expressão fria de sempre e os lábios cerrados – Agora, deixe te levar pra dar uma volta.
Ele girou a chave e deu a partindo, acelerando o carro o máximo possível. A estrada passava rapidamente através da janela. Eu continuei a olhá-lo. O que ele queria com tudo aquilo? Não bastava falar comigo no Instituto? Não, lógico que não. As coisas com Lucius nunca foram simples.
- Quando você descobriu? – eu disse sem rodeios.
Era claro que ele sabia, não havia outra explicação.
- Uma semana depois que Victor te levou pra “sair” – ele disse a última palavra com desgosto e raiva.
O silêncio permaneceu entre nós. Eu não tive coragem de perguntar mais nada, eu não queria saber as respostas. Foi ele quem quebrou o silêncio.
- Quanto tempo você achou que me enganaria? – ele continuava a olhar a estrada, mas eu podia sentir a pressão por detrás das palavras.
- Eu nunca pensei sobre isso, só deixava acontecer. Pra falar a verdade eu nunca pensei que você seria estúpido o bastante pra acreditar em tudo que eu disse – eu deixei que as palavras veladas falassem por mim – mas eu estava errada.
Ele apertou o volante, mostrando os nós brancos das juntas – Não me provoque Claire...
- É apenas a verdade Lucius... – eu disse com os dentes cerrados de raiva – Agora o que te fez mudar de idéia e intervir no meu treino?
- Luisa – ele foi direto – Ela também estava desconfiada ate antes que eu. Mas foi só agora que ela ficou sabendo sobre sua melhora nos treinos.
- Ficou sabendo? – indaguei atônita.
- Quem você acha que te vigiava? – perguntou cínico.
- Vigiava? Eu não acredito que aquela... Arg! Não sei quem é mais patético nessa sua relação. Mandando sua vadiazinha fazer o trabalho sujo?
De súbito Lucius desviou seus olhos da estrada para mim, com a boca estreita, a testa franzida, os olhos tensos, com raiva – Não ouse falar assim dela!
Ele quase gritou para mim, mas eu não me importei. Aquela vadia pretensiosa ia me pagar!
- Claro, porque ela é tão esperta! – eu disse irônica, com um sorriso falso – Agora me fala qual é a lógica de parar meu treino quando eu estou melhorando?
- Por causa disso! – ele jogou as palavras para mim e parou o carro.
Olhei ao redor já reconhecendo o lugar. Era o mesmo lugar onde eu e Victor treinávamos. Quando voltei a olhar para Lucius ele já não estava mais lá. Olhei novamente a mata e vi que Lucius já se movia entre as árvores. Merda! Desci do carro seguindo seus passos, mas não conseguindo alcançá-lo. No final ele estava parado no centro de uma pequena clareira, onde havia poucas árvores, formando uma área aberta. Olhei sem entender toda a situação. O que ele tinha em mente me trazendo aqui?
- O que a gente ta fazendo aqui? – cruzei os braços, mais zangada.
- Era aqui que você e o Victor treinavam, certo?
Não respondi. Ele já sabia a resposta.
- Então eu vou treinar com você...
- Não mesmo! Eu não vou fazer isso.
- Porque não? Com medo? – soou desafiador.
Ele sabia como me provocar e eu estava quase aceitando o desafio.
- Eu não to com a roupa do treino – olhei para baixo e vi minha calça jeans e minha regata verde - Se você me es...
- Quem você acha que eu sou? O Victor? – ele me interrompeu – Se vamos fazer isso, vamos fazer do jeito certo. Quando você proteger sua dominação não haverá segundas chances. Você não vai poder escolher a roupa que veste, garotinha...
Eu quis arrancar aquele sorrisinho idiota do rosto dele, mas continuei calada, apenas o observando. Ele tirou sua jaqueta de couro preta, deixando amostra sua camiseta cinza e seu jeans preto surrado. Por último tirou seu coturno preto desgastado e me encarou com a feição divertida.
- Agora... vamos lutar.
Eu não sabia o que ele queria dizer com ‘lutar’, mas sabia que não seria coisa boa.
Como uma luz ele se jogou em minha direção sem ao menos avisar. Eu mal percebi quando meu corpo atingiu o chão.
- Mas que merda você acha que...
Tentei dizer mais, me levantando, quando senti meu corpo ser empurrado e pressionado contra uma árvore. Seu sorriso demente, seu corpo junto ao meu, sua mão no meu pescoço e em minha cintura. Seu rosto cada vez mais perto do meu, mais e mais e mais... Ele queria me distrair, mas não adiantaria. Projetei forças em minhas mãos que encontraram seus ombros e o empurrei com mais força, girando nossos corpos para o nada. No momento seguinte ele não estava mais em minhas mãos, no momento seguinte eu não tinha a mínima idéia de onde ele estava. Fechei meus olhos tentando encontrá-lo. Eu precisava me concentrar, me focar nele. Senti sua vibração perto de um toque e me esgueirei, sentindo o fraco vento tocar minhas faces. Abri os olhos e me lancei contra a árvore mais próxima, evitando o chute de Lucius. Senti suas mãos entrelaçarem minha cintura me puxando contra ele. Fiz um esforço inútil de me agachar e retirar suas mãos, mas não adiantou. Meu corpo foi de encontro a árvore do lado e senti minha cabeça latejar de dor. Eu precisava arranjar... Meus pensamentos foram interrompidos quando minha cabeça foi lançada novamente à árvore com o corpo virado de costas para ele. Meu corpo reclamou de dor e meu pescoço foi apertado contra árvore com antebraço de Lucius. Meus dentes rangeram de dor e minhas mãos atadas às costas com apenas uma mão. O ar quente da sua respiração pairou a centímetros da minha orelha, inquieto, fervente.
- Se você desistir agora, eu paro de lutar com você...
Virei meu rosto o máximo que pude e o olhei transpassado, a centímetros da sua boca. Vi como seus olhos foram a minha boca, tentado a tocar a dele a minha.
- Nunca! – vociferei.
Aproveitei do seu devaneio, pisei seu pé com força e me livrei uma das minhas mãos do seu aperto. Contra ataquei atingindo a área do seu diafragma com meu cotovelo com bastante força. Quando percebi que sua mão perdia força, tirei a minha outra mão e virei meu corpo rápido, roçando meu corpo à casca áspera da árvore, já que ele me limitava com seu corpo. Levei minha mão a seu cabelo e o puxei para trás, com toda força que eu tinha. Antes que ele percebesse minha intenção, chutei entre suas pernas o vendo encolher. Afinal ele não era tão diferente quanto os humanos. Acertei sua cabeça com o joelho com bastante força, mas seu rosto não mexeu, continuou a olhar o chão.
-Desculpa... – ouvi sua voz rouca, baixa e desconexa me dizer.
Eu nem o vi levantar completamente. Em um momento ele estava meio agachado a minha frente e no outro ele estava na minha frente golpeando meu rosto com sua mão. Cada músculo do meu rosto exalou dor quando sua mão me atingiu, um som agudo saiu da minha garganta, meu corpo foi projetado para longe, entre o solo seco e as folhas quebradiças. Antes mesmo que sentisse a dor se alastrar por mim ou percebesse o que tinha acabado de acontecer, ele já estava sobre mim com a mão no meu pescoço, virando meu rosto para o lado. Senti o sangue escorrer do canto da minha boca até a terra quando sua boca foi de encontro à curva do meu pescoço, encostando seus dentes ali. Uma mistura de dor e prazer se dissolveu em mim quando a mordida se tornou cada vez mais forte. Lucius tirou sua boca dessa região e sussurrou entre palavras cortadas.
- Isso não é nada comparado a uma luta de verdade... ao que realmente aconteceria se você perdesse.
Ele levantou o rosto, como se para ler as verdades nele, e eu pude ver a cena se formar novamente em minha cabeça. Não era tão escuro quanto no meu quarto, no meu sonho, mas eu ainda podia ver sua barba rala ou mesmo senti-la quando ele me mordeu. Não foi um sonho, foi real, o maldito sonho foi real. Eu franzi o cenho vendo a realidade estampada na minha cara.
- Foi real... – eu sussurrei mais para mim do que para ele – o sonho foi real.
Eu vi a confusão se tornar certeza em segundos através dos seus olhos. Ele se levantou rápido, fugindo do que eu acabara de dizer. Ele ofereceu sua mão, mas eu não a evitei, aceitei sua ajuda. Estava confusa de mais para não aceitar. Ele me olhou com os olhos inexoráveis e feições sérias.
- Essa luta foi só uma amostra que você ainda não esta preparada pra lutar fora do Instituto. Os seus treinamentos com o Victor acabaram.
Ele começou a ir a direção onde sua jaqueta e seus coturnos ficavam, mas eu intervim e virei seu corpo para o meu.
- Você não manda em mim. Eu paro de treinar quando eu quiser e se eu quiser.
Vi como seus olhos borbulhavam raiva e como suas mãos lutavam para não me agarrar.
- Isso não é decisão sua – seu maxilar travado me disse que sua raiva havia aumentado – Se você quer treinar, você vai treinar dentro do Instituto sob o meu supervisionamento. Aqui não é lugar pra você. Não é seguro. Da próxima vez que você me desobedecer eu não vou lutar com você, eu vou te trancar no seu quarto.
Eu o olhei indignada. Ele não podia fazer isso! Fiquei atônita o vendo colocar novamente seus coturnos e sua jaqueta de couro. Quando eu acordei do meu transe, não pude sentir mais nada do que raiva, fúria, desgosto, amargura.
- Seu filho da puta arrogante. Se você acha que pode me trancar no meu quarto e moldar minha vida. Eu to cansada de você. Da sua arrogância, do seu egoísmo, sua prepotência...
Comecei a andar sem rumo, indo para mata, sem me importar. Eu só queria ficar longe dele, não o ver nunca mais.
- Onde você pensa que vai, Claire? – a voz dele soou atrás de mim.
- Onde você acha que eu vou, Lucius? – me virei para ele com as mãos na cintura – Para o Instituto, mas dessa vez sem você!
- Não me force a te obrigar...
- Me obrigar ao que?! – avancei para ele – Eu quero que você tente...
Antes que eu terminasse a frase, ele dominou meus ombros e puxou minhas pernas de encontro ao seu braço estendido, me carregando no colo. Trinta segundos depois eu estava no banco de carona, com o sinto me prendendo e as portas do carro travadas. Eu bufei de raiva vendo Lucius ligar o carro e se dirigir à estrada. Eu pensei em desatar o sinto, mas...
- Não pense nisso, Claire. Você sabe que não conseguiria escapar.
Cruzei os braços já conformada e olhei para o lado, vendo a imagem se deslocar rapidamente. Eu não podia acreditar no que tinha acabado de acontecer. Ele tinha descoberto e me levado pra lutar. Pior, ele tinha descoberto sobre minhas mentiras e isso mudava tudo. Não tinha a mínima idéia do que se passava na mente do Lucius. Ele tinha esperado dois meses para fazer alguma coisa. Aceitando minhas saídas com Victor e a relação que eu tinha com ele. Agora que ele tinha resolvido me contar, eu não sabia como isso ia ficar. A única certeza que eu tinha era que ele estava de volta a minha vida, mandando e limitando minhas escolhas. O carro foi parando lentamente quando fomos chegando à porta do Instituto. Tentei abrir a porta, mas os pinos ainda estavam travados. Olhei Lucius sem entender.
- Nada mudou entre nós, eu espero que você entenda isso. – ele disse olhando a frente, sem me olhar.
A única coisa que se ouviu depois foram às portas sendo destravadas, mas eu não deixaria Lucius ter a última palavra, não deixaria demonstrar como essas palavras me afetaram.
- Não se preocupe Lucius - abri a porta e segurei minha mochila – Eu entendi bem isso quando você socou minha cara, ficou bem claro – saí do carro e disse as palavras ao vento, sabendo que ele as ouviria – Eu também vou continuar com Victor.
Disse às palavras que ele não teve coragem de me dizer. “Nada mudou entre nós” – eu ainda continuo com a Luisa. Bati a porta do carro com força, ouvindo o vidro estralar. Eu queria, naquele momento, que aquele carro explodisse, junto com ele.

Adentrei ao jardim em passos duros e apressados, a raiva revirando minhas vísceras. Eu tinha que encontrar Victor e era agora. Toda raiva foi se acumulando quando as memórias do que tinha acabado de acontecer emanaram em minha mente. Ele me usou, me manipulou com aquele miserável sonho, como ele sempre fazia. Eu revirei tudo em minha mente, quando eu passava as noites tentando entender o porquê daquele sonho. Tão simples. Eu era dele. Então porque agora que ele podia me ter, ele não me queria? Usando-me pelo simples fato de me ter ao alcance. Cheguei ao corredor estreito e subi as escadas indo aos dormitórios masculinos. Encontrei a porta do quarto de Victor ao fundo. Abri a porta de súbito e pude ouvir resmungos surdos saírem do quarto. Não hesitei nenhum momento quando fui a seu quarto. Algo me dizia que não era algo bom e eu não estava enganada.
- Finalmente!
Vi Luisa levantar da cadeira ao lado da cama onde Victor se encontrava. Minha respiração cessou por alguns segundos ate digerir tudo o que via. Victor amarrado à cama com correntes de prata, seus braços e pernas segurados a cabeceira e o final da cama, me fizeram ficar sem reação. Não pensei que eles seriam capazes. Luisa ainda ao seu lado, já levantada, pegou a espada que estava recostada no colchão e foi em minha direção. Pude ver nitidamente o sangue seco por sua extensão. O sangue de Victor.
- Eu acho que você pode cuidar do Victor por mim, não pode Claire? – Luisa disse jogando todo o escárnio nessa frase.
Desviei meus olhos de Victor para encontrar Luisa a minha frente, com o sorriso débil no rosto e a espada encostada em seu ombro. Aquela raiva de antes só fez aumentar, latejar em meus olhos, membros, corpo e mente. Soquei seu rosto sem pensar, vendo seu corpo ser lançado para trás. Empurrei seu corpo contra a parede e juntei minhas mãos em sua garganta.
- Eu vou fazer você sofrer o dobro que ele sofreu, sua vadia imbecil!
Senti a ponta aguda da espada ser forjada contra minha pele embaixo da regata, no quadril, segurada habilidosamente por Minogue.
- Eu estarei esperando por isso.
Forçando mais a espadas a minha cintura, ela me fez afastar. Vi sua silhueta atravessar o pequeno espaço entre nós e ir para porta.
- Agora eu preciso ir... Lucius esta me esperando – ela esboçou um sorriso grande e fechou a porta atrás de si.
No próximo segundo eu estava indo para cama de Victor para conferir se nada tinha acontecido. Ele parecia fraco, mas, para minha surpresa, estava quieto, como se esperasse. Vi a mancha de sangue em sua blusa, na área do abdômen, e previ que o corte deveria ser ali. Levantei a blusa fazendo Victor acordar do seu transe. Ele se debateu contra as correntes enquanto eu tentava acalmá-lo.
- Victor sou eu. Olhe pra mim... Sou eu.
Seus dentes estavam expostos, sons animalescos saindo da sua boca, se debatendo mais.
- Porra Victor! Sou EU! – gritei para ele
Ele parou de repente, me reconhecendo.
- Você...
- Eu não acredito que ela fez isso com você.
Comecei a limpar a ferida em seu abdômen com o lençol branco da cama.
- Não ela... – ele disse com ar cortado – Ele. Foi o Lucius que fez isso comigo.
As palavras foram como um impacto para mim, mas eu continuei a limpar. O sangue foi desaparecendo ate não encontrar nada no lugar.
- Ela me deu sangue um tempo depois que ele me feriu e me prendeu aqui – ele respondeu antes mesmo que eu perguntasse.
- Certo.
Eu não pude dizer mais nada depois disso. Se ele tinha se machucado era por minha culpa. Só minha culpa.
- Eu realmente estou gostando do que você esta fazendo com suas mãos, mas eu acho que esta na hora de me libertar – ele disse com algum humor, mas as palavras saíram fracas.
Parei de limpar seu tórax e me dirigi ate as correntes, vendo que estavam prendidas com um grande cadeado.
- As chaves estão na gaveta do criado mudo.
Dei a volta à cama e peguei a chave onde ele disse que estaria. Desprendi primeiro seu braço e fui fazendo o mesmo com o restante.
- Ele te torturou muito?
Sentei ao seu lado, vendo o levantar seu tronco para sentar a minha frente, já com aparência normal.
- Luisa me torturou, Claire... Lucius não. Ele não blefa ou brinca, só faz.
Olhei sua camisa embrenhada de sangue e sua aparência fraca, débil, e me senti mais culpada.
- Me desculpa Victor. Eu não pensei que ele fosse capaz.
- Eu sempre soube – senti sua mão em meu cabelo – E isso não é sua culpa – ele tirou algo que estava entre meus cabelos e me mostrou – Eu suponho que ele também não foi tão gentil com você?
Olhei a folha seca entre seus dedos e ri, cansada.
- Não. Ele disse que não poderia mais treinar.
- Previsível.
- Eu sei. Mas eu não concordo com ele.
- Eu não posso fazer nada a respeito Claire... Mas talvez você possa fazer algo.
- Eu?
- Sim. A única coisa que você precisa fazer é conversar com a Sura.





Os poucos treinadores que o Instituto tinha estavam ao meu redor. Isso contava Luisa e Lucius. Todos me olhavam curiosos, sem entender a situação, apenas Sura sabia a verdadeira motivação de tudo aquilo. Talvez eu estivesse louca ou apenas um pouco alterada, mas eu estava pouco me importando. As recomendações de Victor ainda estavam em minha cabeça. Ele me disse que seria complicado convencer a Sura, mas que isso também era um direito meu e que dificilmente ela poderia dizer não.
- Eu vou ser rápida e sucinta para todos aqui – Sura lançou um olhar penetrante para Lucius que se manteve no lugar – Claire Bauer exigiu um novo teste de nível – ela rodeou o olhar, olhando para todos – E espero que todos estejam em acordo.
- Eu não...
- Não você Lucius. Você não tem o direito de revogar minha decisão, já que você foi à causa dela – ela interrompeu Lucius – Claire alegou que o seu teste foi influenciado por suas emoções e decisões precipitadas e eu estou de acordo com ela.
Sua postura se tornou mais dura e seu maxilar travou com os dentes cerrados – Claro Sura.
- Mas alguém?
Todos se entreolharam e não disseram nada. Sura continuou com seu discurso.
- Como todos sabem os testes são avaliados por um treinador, mas nesse caso eu chamei todos aqui para que não haja dúvidas sobre a decisão feita aqui... Claire?
- Sura? – mantive meu porte com as mãos cruzadas a costas, vendo a olhar para mim.
- Seu teste foi anulado devido a uma falha de um dos nossos treinadores, por causa disto fica a sua escolha com quem você gostaria de lutar...
Sorri vendo as coisas que Victor tinha me dito se tornarem realidade.

“Ela vai te dar a opção de escolher com quem você quer lutar, já que foi o próprio Instituto que errou. E é nessa hora que o nosso plano entra em ação. Você vai dizer...”

- Luisa Minogue! – disse forte e com convicção.
Vi as feições de todos, Jace, Irial, Sofia e principalmente de Lucius me olharem confusos, como se eu tivesse cometido algum erro.

“Não faz a mínimo sentido Victor. Ela é mais forte que eu, mais experiente. Porra, Victor, ela é a melhor executadora! E ta louca pra me dar uma surra.”

Diferente dos outros, Luisa sorria de lado a lado, feliz por minha escolha. Ela parecia lutar tanto quanto eu.
- Se essa é sua decisão, Claire...
- Sim, é a minha decisão.
- Então, que o teste comece.

“Luisa tem um ponto fraco, Claire, o Lucius. E só você pode usar isso contra ela.”

Fui para o centro da quadra, sentindo todos os olhares em minhas costas. Luisa se juntou a mim com o sorriso convencido e o corpo preparado para luta*.
- Eu nunca pensei que isso chegaria às vias de fato, Claire...
- Eu te disse que te faria sofrer.
- E eu te disse que ficaria ansiosa por te ver tentar.
Nós dissemos baixo, um dialogo, mas sabíamos que todos estavam ouvindo. Começamos a andar em círculos lentamente, prestando atenção em cada detalhe, cada movimento, só esperando que alguma de nós duas déssemos o primeiro golpe. Com o tempo ela pareceu impaciente com todas as voltas. Eu fazia o que Victor tinha me dito para fazer. Eu não daria o primeiro passo, eu a deixaria impaciente, irritada, eminente ao erro. Estava concentrada de uma forma que não estava quando lutei com Lucius, dessa vez eu não perderia.

Projeção, soco, abaixa, empurra, soca, cabeça, chute, costela, derruba, imobiliza – escutei todas as palavras com uma velocidade maior do que o normal.

Logo depois ela fez exatamente o que eu previ. Meu corpo foi jogado ao chão, um estrondo se fez na quadra, e minhas pernas foram mobilizadas por suas pernas enquanto sua mão segurava meus pulsos.

“Faça a pensar que esta ganhando. Então jogue com ela.”


- Eu nunca pensei que seria tão fácil, garota – o sorriso estava de volta.
- Você tem certeza? Talvez você tenha esquecido de ver um pequeno detalhe... – estiquei meu pescoço e a deixei ver a pequena mancha roxa que Lucius havia feito em mim quando me mordeu – Adivinha quem fez isso comigo?
Como previsto ela levou a sério demais as verdadeiras intenções daquele hematoma. Seus olhos foram imediatamente para Lucius que estava a sua frente, com os olhos indagadores. Não dei tempo para que aquele gesto tivesse tempo para resposta. Joguei com força minhas mãos para frente e troquei nossos corpos de posição, ficando por cima dela. Foi a minha vez de sorrir.
- E não foi só isso... – ela se debatia ferozmente contra meu aperto, mas eu a segurei com força e com habilidade. Deitei sobre ela, tocando nossos corpos e chegando perto do seu ouvido – À noite ele me disse que eu só pertencia a ele, apenas a ele – sussurrei de forma calma e cruel.
As últimas palavras foram ditas e meus olhos teimaram em olhar Lucius. Ele mantinha a mesma pose, mas eu podia ver a tensão em seus olhos. Voltei a encarar Luisa com um sorriso demoníaco no rosto.
- Ele já te disse isso?
- Sua vadiazinha baixa!
Ela me empurrou com força para trás me fazendo sair de cima dela. Voltei a ficar em pé em questão de segundos e pressenti que Luisa iria me atacar. Desviei do seu primeiro golpe e a vi me passar, antes que ela me contra atacasse, puxei seu cabelo para trás e chutei suas costas, fazendo a ir para frente e quase cair. Era a minha hora de agir. Eu não podia a deixar reagir, recuperar a consciência e começar a lutar com a razão. Eu precisava dela desestabilizada, com raiva, sem foco. Corri para seu lado, vendo a virar para me socar, mas me abaixei à tempo e soquei sua barriga com força. Ela se afastou um pouco, mas eu continuei. Com rapidez enfiei minha mão cerrada em seu rosto, rodopiei e acertei suas costelas com meu cotovelo com uma força fora do normal, por último baixei meu corpo por inteiro, lhe deu uma rasteira e a derrubei no chão. O choque do seu corpo ao chão foi alto, mas não mais alto do que a minha raiva. Pulei sobre ela e segurei seus braços com as minhas pernas, sem me importar com suas pernas que se debatiam inutilmente. Comecei a socar em seu rosto repetidas vezes, aumentando minha força e fúria.
- Isso foi por me humilhar! – eu gritava quase desesperada e a soquei de novo – Isso foi por tirar o que é meu, sua vadia! – cuspi as palavras e continuei a bater – E isso foi por torturar o Victor.
Ela já não se mexia tanto, apenas murmurava sons. O sangue escorria da boca e do seu nariz. Eu sabia que estava exagerando, mas isso só tomou minha consciência quando meu nome foi dito.
- Claire! – Lucius gritou – Sai de cima dela. Pára!
Alguém segurou meu braço e me tirou de cima dela. Eu ainda olhava o rosto de Luisa um pouco desconfigurado quando Lucius foi a seu amparo.
- Quem é a vadia agora, en?
Afastei-me com medo do que poderia fazer e olhei como todos me olhavam. Foi Sura que veio falar primeiro comigo.
- Eu acho melhor você ir...
- Não! Eu quero saber o resultado.
- Agora não é hora, Claire.
- Eu não me importo. Ela não é a melhor executadora? – eu a olhei, vendo que ela já estava em pé enquanto Lucius tentava conversar com ela – Eu a derrotei. Eu quero meu resultado.
- Ela esta certa – Sophia falou – Ela a derrotou, ela merece ir pro quinto nível. Pra falar a verdade eu nem sei o porquê dela estar no segundo nível. Ela é uma blind, ela tem que estar no quinto nível.
Olhei para aquelas feições pequenas e delicadas que não combinavam nem um pouco com a voz decidida e forte que veio dela. Ela usava uma calça jeans justa e uma regata meio velha branca. Seu quadril era pequeno e suas pernas longas, seus seios eram maiores e um pouco desproporcionais. Seu cabelo grande era castanho assim como seus olhos, sua boca carnuda e em suas costas havia grandes e afiladas asas brancas. Eu não sabia o porquê, mas apenas sua visão me agradou.
- Sophia esta certa – Jace se posicionou – Essa amostra demonstrou que ela é capaz. Não podemos nos dar o luxo de escolher.
- Eu não concordo tanto com isso, mas Jace esta certo, nós não podemos escolher.
- Certo. Se essa é a escolha de vocês... – Sura se virou para mim – Claire Bauer você é oficialmente do quinto ano daqui por diante.
Eu ri alto, sem poder me conter, alguns gritos também saíram de mim. Eu ouvi a porta da quadra se abrir e reconhece bem aquele sorriso, os olhos azuis, o cabelo loiro. Não pude evitar, no próximo momento eu já estava correndo para ele. Pulei em seu colo e entrelacei minhas pernas em sua cintura.
- Eu não acredito que consegui!
- Eu te disso...
Eu não pensei em mais nada, a única coisa que eu pude fazer e queria fazer era beijá-lo, com força, desejo, desespero, lhe agradecer. O beijei com seus cabelos em minhas mãos, sua língua entrou em minha boca, tão intenso quanto a minha. Mordisquei seus lábios e separei meu rosto do dele.
- Eu consegui – disse um pouco ofegante.
- Conseguiu...
Ele puxou meu cabelo para frente como se fosse começar um novo beijo.
- Claire! – a voz de Sura soou forte.
Tirei minhas pernas do corpo de Victor e desci, sabendo que tinha excedido.
- Desculpa Sura.
- Por favor saiam um pouco, eu preciso resolver umas coisas por aqui.
Olhei em volta e observei como tudo parecia tenso. Os treinadores estavam ao redor de Luisa, parecendo conversar algo sério, Lucius a tinha em seus braços, a contendo.
- Claro Sura, a gente já vai.
Peguei a mão de Victor.
- Ate mais Sura.
Victor sorriu descarado para ela. Nós saímos sem dizer uma palavra.
- Porque você ta sorrindo assim? – perguntei quando chegamos ao jardim.
- Talvez devêssemos seguir o conselho da Sura... – franzi o cenho sem entender – Talvez eu deva te levar pra sair, mas dessa vez um encontro de verdade.
Sorri voluntariamente sem dizer nada, a resposta estava na minha cara.




******



Suas mãos corriam livremente pelo meu corpo e eu realmente não estava me importando. Cada beijo, cada toque, cada sussurro me faziam arrepiar inteiramente, como se uma descarga elétrica passasse por mim. Eu não podia me conter. Escorri minhas mãos por debaixo de sua blusa, sentindo cada músculo moldar minha mão. Ele era frio, mas tudo parecia me queimar por dentro. Uma alça do meu vestido desceu deixando meu pescoço totalmente exposto. Suas presas deslizaram por ali como agulhas afiadas, me deixando mais excitada. Eu não sabia explicar se era por ter bebido demais ou porque inconscientemente eu sempre quis aquilo. A única coisa que eu sabia era que eu precisava esquecer o Lucius e Victor estava conseguindo isso. Ele ergueu minha perna colocando seu quadril entre suas pernas e apertando mais suas presas.
- Não! – eu disse em êxtase.
Ele tirou sua boca dali e continuou a beijar a extensão do meu colo, meu ombro descoberto, meu maxilar, minha boca. Beijo ardente, intenso demais para que eu pudesse raciocinar direito. Ele o cortou com um pouco de esforço e me olhou atentamente.
- Você se lembra do nosso acordo, não lembra? – escorreu sua mão da parte mais baixa da minha coxa ate mais em cima.
- Sim – disse quase em um sussurro.
- Eu consegui te treinar, agora eu quero a minha parte...
Ele desceu sua cabeça em meu pescoço, dando pequenos beijos na região.
- Eu preciso do seu sangue Claire... Só isso.
Eu sabia da conseqüência desse ato, o que me acarretaria no Instituto. Mas eu estava cansada de esperar, ser usada, pressionada, eu queria a verdade e essa parecia à forma mais fácil e doce de consegui-la.
- Tudo bem – disse em um sopro.
Adrenalina correu por meu sangue quando senti suas presas em meu pescoço novamente. As senti rasgar minha pele em um misto de dor e prazer, um pouco de sangue escorrer, e minhas mãos segurarem seus cabelos. Mas isso foi por pouco tempo.

7 comentários:

  1. no "tentar" tem musiquinha. escutem ela!

    e depois do asteriscos(******) escutem:
    Eels- fresh blood
    aqui o link (http://www.youtube.com/watch?v=AzirBnRsfxo)

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  2. Ô livro bom!!!Sem palavras...
    E tenho que admitir que qd leio por aki tudo fica mais intenso...AMO BLIND!!!
    =)

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  3. Amo blind !! Deus muito bom esse cap !!!! Louca pelo próximo!!

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  4. Esse foi o Melhor cap. de todos
    tô sem palavras para comentar *0*
    Maravilhoso...Esperando ansiosamente por mais Blind =D

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  5. meu deus, esses dois capítulos foram muuuuuuuito bons *-*
    fiquei até arrepiada na parte da luta. -risos-

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  6. Nossa maravilhoso, amei, adorei o seu livro, nem tenho palavras suficientes para descrevê-lo. Envolvente do começo ao fim.... Beijos e continue escrevendo, please, estou anciosa por mais.

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