- Eu ainda não acredito que você venceu a Luisa! Não dá pra acreditar...
Moira sentou-se à mesa do refeitório com os olhos arregalados assim como Celina, que pareciam não entender ou acreditar no que acabava de dizer a elas.
- Eu deveria ter contado sobre o treino com o Victor antes, mas era segredo, vocês sabem...
Celina riu de uma forma engraçada, o que me deixou um pouco desconfiada.
- O que? – eu disse sem entender.
- Você acharia estranho se eu dissesse que suspeitava?
- Suspeitava?
Moira a olhou incrédula. Celina confirmou com o simples dar de ombros.
- Como?
- Eu não sei... Eu apenas sentia. Essas saídas repentinas, o seu envolvimento com Victor e o Sam me disse que você andou conversando com ele sobre o Instituto, certo?
- Sim, mas isso não indica nada, Céu.
- Mas não é só isso. Jeremi e Sam me disseram que estava ocorrendo movimentos estranhos ao redor do Instituto, eu só juntei o meu instinto e a lógica.
- Espera! Jeremi e Sam? O que eles tem haver com isso?
- É um pouco complicado...
- Não mesmo Céu. Começou, agora termina... Jeremi e Sam... – Moira disse em um tom acima, tão curiosa quanto eu.
- Sam vai me matar...
- Vamos, Céu, me conta. – eu disse.
- Ok, mas não pode contar pra ninguém, ninguém, me ouviu Moira?
- Porque você não fala isso pra Claire? - Céu a olhou com pouco animo – Ta bom, eu juro que não conto pra ninguém.
Depois de um minuto em silêncio, Celina se convenceu de que nós não contaríamos para ninguém.
- Depois dos ataques que ocorreram, os treinadores acharam melhor criarem um grupo de ronda para averiguar que não haveria mais nenhum ataque, mas como havia poucos professores eles chamaram os melhores alunos para auxiliarem na busca. Sam e Jeremi foram chamados.
- Eu entendi ate a parte do Sam, mas o Jeremi?
- Sim, porque o Jeremi? – eu tive que concordar com a Moira.
- Eu não sei. O Sam não quis me contar. E não é só isso, a Sophia e o Paulo Vitor também estão no grupo. Então quando você dizia que ia ter aulas com a Sophia ou quando você derrotou o Paulo Vitor no treino, eu sabia que alguma coisa tinha mudado.
Fiquei encarando Celina tentando digerir a nova informação sobre Jeremi. Eu entendia perfeitamente o envolvimento do Sam com Instituto, mas Jeremi? Não. Tinha alguma coisa errada nessa historia.
- To chocada. O Jeremi ajudando em uma busca junto com os treinadores? Isso não faz o menor sentido...
- O que não faz sentido?
Olhei para trás encontrando Sam e Jeremi se aproximando da nossa mesa, com suas roupas de treino e seus corpos suados.
- A Claire derrotar a Luisa? – Jeremi brincou – Isso realmente não faz nenhum sentindo...
- Por quê? Você acha que eu não sou capaz?
Minha vontade era dizer tudo o que eu sabia, dizer que não precisava mais mentir para mim, que ele sabia sobre meus treinos com Victor, mas eu havia prometido para Celina. Eu não diria nada, por enquanto.
- Ouw! Calma, eu só to brincando.
- Claro!
- Então... Como você conseguiu essa proeza, Claire?
Sam se sentou ao lado de Celina, enquanto Jeremi ficou em pé, ao meu lado, já que não havia mais cadeiras na mesa.
- Andei treinando com Victor durante alguns meses... – deixei as palavras saírem como se não fossem nada.
- Victor? – Sam puxou a cadeira de outra mesa e se sentou próximo a mim, mais interessado no assunto – Porque isso não me surpreende?
Porque você estava me espionando?
- Eu não sei. Por quê? – perguntei irônica.
Ele me olhou nos olhos, entre sua franja molhada de suor, seus braços cruzados sobre a mesa, me olhando com intensidade da mesma maneira que eu o olhava.
- O treino já terminou?
Celina perguntou para Sam, que continuou a conversa sem perceber o estranho mal estar que se formou entre mim e Jeremi.
- Eu preciso ir agora, Victor ta me esperando...
- Alguma coisa me diz que você anda saindo demais com o Victor e não é só pra treinar.
Moira me sorriu de forma maliciosa deixando todos na mesa entenderem o outro sentido por trás da frase. Eu ri sem medo de demonstrar o que ocorria entre mim e Victor. Muitas coisas haviam mudado.
- O que você vai fazer com o Victor? – Jeremi disse em tom forte.
Olhei Jeremi não acreditando que ele tinha usado esse tom de voz comigo.
- Eu vou sair com ele. Algum problema?
- Nenhum. Eu já te disse o que eu penso sobre ele... Ele vai cobrar o favor que te fez, espero que você não se arrependa depois.
- Não se preocupe, Jeremi, eu sei me cuidar - disse mais séria.
Levantei-me e despedi de todos, menos de Jeremi. Andei ate a porta ouvindo Moira reclamar algo sobre ciúme e por Jeremi ser um idiota comigo. Mas eu tive que discordar dela, idiota era pouco.
******
- Você esta tão...
Victor não terminou a frase, deixando aquele sorriso convencido e delicioso me impregnar. Seus olhos desceram ate minhas pernas descobertas do vestido leve e floral, e ficaram ali por um tempo ate voltar ao meu rosto. Ele andou ate a mim, com sua blusa social preta e sua calça jeans também preta, seu cabelo loiro solto cobrindo seus ombros e seu sorriso indiscreto.
- Não consigo me decidir sobre o que é melhor... – ele olhou novamente minhas pernas e voltou para meu pescoço – a barra do seu vestido ou o seu decote em v. Você ta assim pra me provocar, Claire?
- Não!
Sorri, mas ele não. Colocou a mão sobre a pequena parte descoberta dos meus ombros e meu pescoço e acariciou com o polegar. Senti um arrepio se deslizar sobre minha nuca com o simples toque.
- Tem certeza?
- Talvez – sorri maior e tirei, delicadamente, sua mão do meu pescoço – Agora, aonde você vai me levar?
- Eu poderia dizer que é surpresa, mas não vai fazer diferença, você mal conhece a cidade. Vou te levar no Deli-Deli, já ouviu falar?
- Não. Como você disse, eu mal conheço a cidade. Mas eu acho melhor nós irmos antes que alguém nos veja.
Entrelacei minha mão a dele e sorri gentilmente. Ele disse absolutamente nada, apenas nos guiou do corredor escuro ate a parte frontal do Instituto, onde varias vezes nós nos encontrávamos para fugir, indo aos treinos.
- O que isso?
Olhei, sem entender e acreditar, quando paramos em frente a uma BMW idêntica ao carro de Lucius.
- O que você acha?
- Isso não ta certo Victor...
Tirei minhas mãos da dele e me afastei, ficando de costas.
- Isso não é nada, Claire... Apenas a minha vingança.
Balancei a cabeça em negativa, ainda sem olhá-lo.
- Não é nada comparado ao que ele me fez.
- Essa não é a maneira certa de fazer isso, Victor. Eu não quero mais brigar com ele.
- Maneira certa? Bater na Luisa daquela forma foi à maneira correta então?
Bufei, vendo-o jogar minhas ações na minha cara. Jeremi, em parte, estava certo. Ele não me deixaria esquecer o favor que fez por mim.
- Acho que é melhor eu voltar...
- Não – senti sua mão em minhas costas, sua respiração sobre meus cabelos – Não vamos estragar essa noite por causa dele, não hoje.
Virei-me e o vi ali, a minha frente, um pouco vulnerável, um pouco instável.
- Você tem consciência do que ele vai fazer se souber que você pegou o carro dele?
- Eu tenho mais consciência do que vai me acontecer quando ele souber que eu estou te levando pra sair...
Olhando o assim, parecia que algo, algo que eu não saberia definir, estava acontecendo entre mim e Victor. E por mais difícil que fosse admitir, eu estava gostando, gostando de ter alguém alem de Lucius.
- Certo. Então vamos antes que fique tarde...
- Claro, mon chéri.
Ri um riso anasalado, abafando meu agrado por ouvi-lo falar francês. Andei ate o carro quando Victor abriu a porta e me sentei, o vendo dar a volta e sentar ao meu lado. Seria uma longa noite.
- Ops!
Ri alto, tropeçando entre meus pés, e quase caindo no chão de granito. Victor me segurou com suas mãos gélidas e seu corpo delineado. Tudo nele exalava desejo, mas não só ele. Eu não poderia desejar nada melhor do que aquele jantar. O lugar simples, a música ao vivo, o sorvete de creme com creme de jabuticaba, a cerveja alemã, o peixe com castanhos do baru, o vinho e Victor. Victor poderia ser inacreditavelmente agradável e engraçado. Seu humor ácido e imprevisível. Agradável ao tato, a audição, a visão, ao olfato e o melhor, ao paladar. Estava disposta a provar novamente o gosto da sua boca. Jogou meu corpo contra a parede escura do corredor e me beijou, como sempre, tudo parecia tão novo. Suas mãos corriam livremente pelo meu corpo e eu realmente não estava me importando. Cada beijo, cada toque, cada sussurro me faziam arrepiar inteiramente, como se uma descarga elétrica passasse por mim. Eu não podia me conter. Escorri minhas mãos por debaixo de sua blusa, sentindo cada músculo moldar minha mão. Ele era frio, mas tudo parecia me queimar por dentro. Uma alça do meu vestido desceu deixando meu pescoço totalmente exposto. Suas presas deslizaram por ali como agulhas afiadas, me deixando mais excitada. Eu não sabia explicar se era por ter bebido demais ou porque inconscientemente eu sempre quis aquilo. A única coisa que eu sabia era que eu precisava esquecer o Lucius e Victor estava conseguindo isso. Ele ergueu minha perna colocando seu quadril entre suas pernas e apertando mais suas presas.
- Não! – eu disse em êxtase.
Ele tirou sua boca dali e continuou a beijar a extensão do meu colo, meu ombro descoberto, meu maxilar, minha boca. Beijo ardente, intenso demais para que eu pudesse raciocinar direito. Ele o cortou com um pouco de esforço e me olhou atentamente.
- Você se lembra do nosso acordo, não lembra? – escorreu sua mão da parte mais baixa da minha coxa ate mais em cima.
- Sim – disse quase em um sussurro.
- Eu consegui te treinar, agora eu quero a minha parte...
Ele desceu sua cabeça em meu pescoço, dando pequenos beijos na região.
- Eu preciso do seu sangue Claire... Só isso.
Eu sabia da conseqüência desse ato, o que me acarretaria no Instituto. Mas eu estava cansada de esperar, ser usada, pressionada, eu queria a verdade e essa parecia à forma mais fácil e doce de consegui-la.
- Tudo bem – disse em um sopro.
Adrenalina correu por meu sangue quando senti suas presas em meu pescoço novamente. As senti rasgar minha pele em um misto de dor e prazer, um pouco de sangue escorrer, e minhas mãos segurarem seus cabelos. Mas isso foi por pouco tempo. Senti sua língua em minha pele, as presas firmes, seus lábios e um pequeno sussurrar:
- O seu sangue...
Alguém. Um vulto, eu não sei! Arrastou Victor para longe de mim. Tudo rápido demais para que eu impedisse, muito rápido para eu ver. Então eu vi quem era, o único que poderia estar ali.
- Não! – eu gritei – NÃO LUCIUS!
O desespero aumentou quando vi as mãos de Lucius agarrar e forçar a garganta de Victor. Seu corpo junto ao dele, o enforcando, o deixando sem saída. Victor reagia instintivamente ao contato de Lucius, agarrando o pulso da mão que apertava sua garganta, suas presas amostra.
- Eu te disse... – Lucius soletrava cada palavra, em tom baixo, ameaçador – que se você tocasse nela. Não! Se você pensasse nisso, eu te mataria – Lucius aproximou mais seu rosto ao de Victor e sussurrou quase inaudível – Agora é hora de cumprir minha promessa.
Em um reflexo a outra mão de Lucius foi parar na base do pescoço de Victor, forçando-o para baixo enquanto sua outra mão puxava para cima, brutalmente. Eu ouvi sons quase animalescos de dor saírem de Victor e ecoar pelo corredor, confirmando que Lucius não blefava. Saí do estado de choque em que estava e corri para Lucius, segurando, tentando, tirar ele de perto de Victor.
- Não faça isso Lucius. Não faça... – disse alto, mas minha voz saiu tremula.
As palavras se repetindo em minha cabeça. Ele vai matar Victor. Vai matá-lo. E tudo será minha culpa. Eu tentei tirar sua mão, mas ele não prestava atenção em meus gritos ou em mim, ele apenas continuava a puxar, puxar, puxar, puxar... Um estralo se fez alto, podendo ver o sangue escorrer pela boca de Victor. Eu estremeci com essa visão. Eu tinha que fazer algo antes que fosse tarde. Eu precisava, precisava... chamar atenção de Lucius.
- Não faça isso! – eu gritei novamente – Não me faça sentir mais culpada do que eu me sinto!
As lagrimas desceram sobre meu rosto, ácidas, marcadas de rancor, dor.
- Eu já te fiz cair, não me faça ser a culpa da morte de Victor...
Pela primeira vez eu senti Lucius hesitar, não forçar mais. Ele ainda continuava ali, sobre Victor, mas ele prestou atenção no que eu havia dito. Eu precisava me manter assim, com ele preso em minha conversa, fazer com que Victor pudesse ir.
- Eu sei o que aconteceu Lucius... Eu me lembro.
Ele virou o rosto de súbito, me olhando com os olhos amargos, a boca franzida.
- O que você disse?
Victor pulou sobre ele no mesmo momento. Vi o desenrolar da cena com o medo me subindo a garganta. O pequeno corredor parecia menor, mais escuro, impenetrável. Eu não podia acreditar que tudo poderia acabar ali. Perigoso, mortal. Eu precisava fazer algo. Victor estava por cima dele, tentando morde-lo, empurrando suas mãos para baixo, mas não estava adiantando muito. Os pés de Lucius subiram rapidamente para cima e chutaram o estomago de Victor, fazendo-o ir para trás. Eu não sabia se daria certo, mas eu tinha que tentar. Corri, como nunca havia corrido, e me joguei em Lucius. Ele poderia me evitar, na verdade eu acho que ele tentou, mas quando nossos corpos colidiram, a única coisa que eu pensei, que eu necessitava fazer, foi abraçá-lo. Como se minha vida dependesse disso, como se aquilo fosse à única salvação, como se estivesse preste a morrer e a única coisa que eu precisasse dele fosse isso, ele em meus braços. Minhas mãos se entrelaçaram, com meus braços em volta de seu pescoço, com os olhos fechados, com a respiração desconexa.
- Não faça isso – sussurrei – Não o mate.
Eu podia sentir seu peito subir e descer, seu silêncio perturbador, não dizendo nada, mas eu sabia que ele estava cedendo. Respirei aquele cheiro agridoce que exalava dele e me senti cair na teia de sentimentos que eu sempre estive quando Lucius estava próximo assim.
- Fique comigo. O deixe ir.
Não disse nada. Ele não iria dizer nada. Ele apenas precisava me sentir, me tocar, como eu precisava, como estava acontecendo agora. Fiquei nas pontas dos pés e subi minha mão sobre sua cabeça, sentindo minha pele eriçar sobre o contanto hostil do seu cabelo. Agarrei-me a ele com medo da reação que ele poderia ter ao ouvir o que eu diria.
- Vai embora Victor... – não houve resposta, mas eu sabia que ele ainda estava lá – Vá embora se você não quiser morrer!
Então ele foi, em uma corrente fria e silenciosa, me deixando sozinha com Lucius e sua raiva. Tudo caiu sobre a mim, à realidade dos fatos. Lucius mataria Victor se eu não estivesse ali, não se importaria com as conseqüências, só por minha causa. Meus braços foram caindo, rente ao meu corpo, gradualmente. Lucius não reagiu, me abraçou ou disse algo. Só ficou ali, me encarando, como se tudo dependesse de mim. Eu o olhava sentindo aquele vazio me encher, uma tristeza sem precedentes, não podendo sentir nada. Decepção.
- Do que você se lembra Claire?
Pude sentir a voz calma oscilando com seu nervosismo. Ele tentava não demonstrar, mas estava em seus olhos a preocupação.
- Eu só me lembro que você caiu por mim... não sei o porque, só que você caiu.
Consegui responder, mas era como se eu não estivesse ali. Eu queria correr, sentir a brisa forte da noite, ir para cachoeira, esquecer de tudo. O choro voltou mais forte, mais denso. Eu soluçava, eu podia ouvir, mas era como se meu corpo não correspondesse.
- Só isso?
Pude ouvir Lucius falar, mas era como se não escutasse, como se eu não estivesse ali. Eu só precisava ir, ir para longe dali, dele, de todos, de tudo. Pressionei meus lábios não querendo soltar um grito ou deixá-lo ouvir meu choro. Porque eu tinha que ser tão fraca ao lado dele, como se estivesse doente, febril?
- Você ia matá-lo, Lucius... Matá-lo.
Afastei-me, sentindo meu corpo ir, mas sem perceber direito o que fazia. Eu só precisava dormir, era a única coisa que eu poderia fazer agora. Caminhei ate o jardim em passos lentos, mas podia sentir Lucius atrás de mim. Quando entrei na área das piscinas eu sabia que ele não me deixaria.
- Vá embora Lucius, por favor...
- Porque Claire? Porque você ia fazer isso?
Não o olhei, só continuei a andar. Eu tinha que chegar ao meu quarto, ficar longe dele.
- Por quê? Por quê? POR QUÊ?
Ele gritava forte. Eu não podia fazer nada, eu não cederia. Eu já tinha feito isso, isso só nos machucava. Comecei a acelerar meus passos, fugindo, desta vez era eu que fugia. Avistei a porta do dormitório e corri, tentando entrar, deixar Lucius de fora. Não adiantou.
- Porque Claire? Porque você não me disse?
Ele apertou meus ombros, eu já em frente a ele, olhando seu desespero aumentar, ferver, se diluir em mim. Baixei meus olhos, não querendo ver, apenas balancei minha cabeça em negativa.
- Me diz... Desde quando... Desde quando você sabe?
Senti seus dedos afagarem meus braços, em um pedido mudo de redenção. Olhei seus olhos claros, cintilantes, refletindo dor, o nó se formando em minha garganta, querendo despejar todas as verdades, mentiras e as conversas veladas.
- Eu soube um dia antes... – a voz me faltou, mas eu precisava falar - um dia antes de te beijar na piscina.
O peso das palavras caíram sobre Lucius. Então eu pude ver. Ele entendeu, entendeu o que eu fiz, as mentiras que eu disse, porque eu o afastei. Ele engoliu em seco. Eu sentia através dos seus olhos, do toque de seus dedos, do variar da sua boca, ele tentava dizer algo, algo que simplificasse tudo, mas nenhuma palavra expressaria os seus sentimentos. Então ele me beijou. Resisti no começo, mas quando suas mãos me rodearam, era como se nada mais importasse. Sua língua, gentil, doce, me beijou sem pressa, com lábios macios, hábeis. Suas mãos vivazes. Eu me apeguei a ele, me agarrei, sentindo o seu cabelo áspero, seu rosto anguloso, seus braços grandes, suas mãos ternas. Eu ofegava, me afogava nele, necessitada, sem ar, com vida. Meus pés foram guiados pelos toques desejosos de Lucius, eu não podia sentir nada alem dele. Ouvi uma porta sendo aberta e percebi que estava no quarto de Lucius. Minhas costas se juntaram a parede, sentindo em cada parte de meu corpo a presença de Lucius. Eu precisava parar, não era assim que tinha que acontecer, não depois de tudo. Desencostei minha boca e meu corpo de Lucius, ainda ofegante, tentando evitá-lo.
- Não – disse de olhos fechados – Eu não posso fazer isso.
- Porque não Claire? – ele me suplicava.
Eu abri os olhos e encontrei-o ali, da mesma forma no dia que ele tinha me deixado. Sua testa encostada a minha, suas mãos moldando meu rosto, com os olhos fechados. Eu podia o ver repetindo as palavras.
Não se preocupe Claire, eu não vou estar mais na sua vida. Eu vou esquecer você.
- Você não entende Lucius? Depois de tudo o que aconteceu... Tudo ta errado. A única coisa que a gente faz é se machucar, e não só a gente, mas todo mundo ao nosso redor. Eu não posso fazer isso... É só que... Você quase matou o Victor, por mim.
- Você sabe por que eu fiz isso Claire – sua voz saiu amarga.
- Eu sei e é por isso, Lucius... Você mesmo disse que nada tinha mudado, então porque você faz isso? Porque você não me deixa ir, me deixa viver minha vida? Eu disse ao Victor que eu queria aquilo, eu sabia as conseqüências, o que ele ia fazer e eu disse sim. São as minhas decisões, minha vida. Então porque você não me deixa? Me esquece?
- Você acha que eu não tentei? – suas mãos estavam espalmadas, cada uma ao lado da minha cabeça, sua voz grossa e firme – Você acha que eu não tentei te odiar? Te esquecer? Luisa era tudo que eu precisava, ela é igual a mim. Mas você... Você ta minha pele, me rasgando por dentro toda vez que eu te vejo, no ar, a droga do seu cheiro me persegui toda noite... Quando eu beijo a Luisa eu só consigo sentir o seu gosto – passou as mãos em meus lábios com os olhos fixos neles – quando eu me imagino com alguém, eu me imagino com você. Eu ouço sua risada em qualquer lugar onde eu vou. Eu sinto você como um veneno, impregnando, vicioso, me matando aos poucos... Claire, porque você não me entende? – sua mão envolveu meu pescoço e acariciou minha bochecha, se aproximando do meu rosto - É só você que eu amo. É só você que eu vou amar.
Eu não contive as lagrimas. Eu esperei tanto, mais tanto por isso, que quando eu o ouvi dizer, não consegui dizer nada.
- Então me diga que não sente o mesmo Claire... Me diga que não me ama – segurou meu rosto com as duas mãos, olhando seus olhos azuis, intensos, extremos – Me diga que ama o Victor. Você já mentiu para mim antes, eu sei que você pode mentir de novo. Minta para mim Claire, quebre meu raciocínio, foda com meu coração mais uma vez e minta.... diga que não me ama e eu te deixarei ir.
Eu olhei para ele e disse o que eu já tinha dito antes, tantas vezes, mas desta vez ele não fugiria.
- Eu não posso... Eu te amo Lucius.
Ele abandonou meu rosto para colocar as mãos sobre meus ombros. Meu peito subia e descia, procurando ar, razão, mas nenhum dos dois apareceu. Lentamente suas mãos foram fazendo o contorno de meus ombros, com as alças do vestido em suas mãos, o tecido deslizando sobre minha pele, seus olhos sobre os meus, descerem junto com o vestido. Senti o tecido leve sobre os meus pés e tive consciência que estava apenas de calcinha a sua frente. Seus olhos me observaram com lentidão, absorvendo cada detalhe. Meu colo, meus seios, minha barriga, meu quadril, minhas pernas, meu rosto. Ele me olhava enquanto sentia meus sentidos falharem. Vi suas mãos agirem sobre sua camisa branca e a tirarem, deixando seu tronco à mostra. Encostou seu corpo ao meu novamente, me fazendo arrepiar inteiramente, sentindo sua pele através dos meus seios, barriga, mãos. Ele me recostou novamente na parede e me beijou, desta vez com fúria, desejo. Eu correspondi, agarrei a sua nuca, arranhei suas costas. Ele arfou entre o beijo e continuou a trabalhar com as mãos. Desceu sua mão grossa sobre minha barriga e chegou a meus quadris, colocou a mão debaixo da minha calcinha, deixando seus dedos me tocarem. Todo ar fugiu por minha boca, ele continuava lentamente, pressionando, excitando. Mordi meu lábio inferior tentando não gritar de dor e desejo, me agarrava a ele com as unhas, deslizando sobre a pele, arrancando sua carne. Podia sentir respiração forte sobre meus cabelos e ombros, tão desesperado quanto eu. Eu podia sentir meu ventre expandir e encolher com cada toque. Ele começou a acelerar a fricção, me deixando louca, de uma forma estranha, indescritível. Quando parecia que tudo explodiria, quando não agüentaria mais, quando minhas pernas não me sustentavam, ele parou.
- Não – eu consegui dizer – Continua...
- Vem comigo Claire...
Suas mãos me guiaram ate a beirada de sua cama, me sustentando com seus braços. Eu queria beijá-lo, cada extensão de seu corpo, começando por seu peito, descendo em sua barriga, terminar o que um dia eu comecei. Mas eu não pude fazer nada quando eu o vi descer sua calça, depois sua boxer. Eu mal conseguia respirar antes, agora que ele estava nu era como se não respirasse. Ele sentou a beirada da cama, próximo a mim e me puxou, deixando minha barriga a centímetros de sua boca. Deslizou sua boca em minha barriga, senti sua língua quente enquanto suas mãos tiravam minha calcinha. Ele ficou quieto por um tempo, só olhando, me deixando absorta.
- Tudo em você é perfeito... tudo – ele perdia o ar entre as palavras, me deixando mais extasiada.
Uma de suas mãos foram para meu quadril enquanto a outra apertava a minha bunda com força, ele aproximou sua boca e começou a beijar novamente minha barriga, meu quadril, a parte interna da minha coxa, minha intimidade. Minha cabeça pendia para trás, o ar escasso, sua mão sobre meu seio, acariciando, moldando, beliscando. Tudo estava voltando com uma força maior, sua língua insistia, mais, mais, e mais... Urrei sentindo me contrair e depois tudo explodir dentro de mim, um desejo descontrolado se esvaindo. Olhei Lucius mais uma vez, aqueles olhos grandes, indecifráveis. Eu precisava de mais, eu precisava dele. Ele pareceu entender. Moldou meus quadris com suas mãos e me puxou para ele, cada perna envolta de seu quadril, me encaixando em seus quadris. Senti seu membro, perto de estar dentro de mim, mas ele não o fez. Ele parecia querer me excitar mais, como se isso fosse possível. Suas mãos apertavam minha bunda enquanto sua boca mordia levemente meus seios, delineavam os com sua língua, me fazendo arfar mais. Segurei sua cabeça com força querendo mais, ele me obedecia, beijando meu colo, meus ombros, meus seios. Desci minha mão sobre seu tórax, arranhando de leve sua barriga, chegando à parte interior da sua coxa. Senti-o encolher e apertar minha coxa também. Acariciei seu membro, sem saber muito o que fazer, ele arfou, baixou sua cabeça em meu ombro, se derreteu em mim.
- Mais rápido... – suplicou.
Eu continuei, rápida, o ouvindo arfar mais e mais. Sentia seu desejo correr em minha corrente sangüínea, como estivéssemos ligados. Ele segurou minha mão como se não agüentasse mais e a tirou. Fiquei sem entender no começo quando sua mão puxou meus cabelos e juntou meu rosto em seu ombro. Mas a duvida se foi quando ele juntou meu quadril ao dele. Deixei um grito abafado de dor escapar quando ele se deslizou dentro de mim. Doloroso. Eu só senti dor. Mordi seu ombro com força tentando afastar a dor.
- Calma pequena, eu vou cuidar de você...
Ele deitou meu corpo sobre a cama, me colocando de baixo dele, ainda dentro de mim. Limpou as lagrimas que escorriam silenciosamente e pousou seu corpo sobre o meu. Puxou minha perna para cima, acariciou do começo da minha coxa ate em cima, se enterrando mais em mim. O ar fugiu dos meus pulmões, sentindo a dor diluir e se misturar com gotas de prazer. Ele continuou lento, atencioso, me olhando nos olhos, esperando qualquer sinal de dor. Mas ela não veio. Ele continuou, aumentando o ritmo, suas mãos sobre meu quadril, subindo gradualmente, acariciando, afagando cada parte ate chegar meu rosto. Ele me beijou, sentindo ele dentro de mim, pulsante, acelerando. Me agarrei a ele sentindo aquela sensação inacreditável aumentar. Ele sussurrava entre as palavras coisas indecifráveis, menos uma.
- Amo... Eu te amo, minha pequena.
Ele me levantou, me colocando sentado sobre ele, colocando mais dele dentro de mim. O beijei expressando todo o meu desejo, meu prazer, meu amor, minha paixão. Seguia o ritmo que ele ditava, mais extasiada, mais feroz, mais vivaz. Senti aquela pontada novamente se desenvolver, contraindo, expandindo, me controlando. Ofegava, arfava, gritava, gritava seu nome, sentindo chegar perto de mais daquele abismo, entregue aos meus sentidos. Agarrei-me a ele, eu queria senti-lo, comprovar que ele realmente estava aqui. Beijei-o uma ultima vez sabendo que não agüentaria mais. Gritei, me contorci sobre ele, com a cabeça pendida, os pés contraídos, o coração acelerado. Fui voltando aos poucos, o senti também urrar, se derramar em mim, gozar assim como eu. Uma languidez tomou conta do meu corpo. Aquela felicidade terna me envolvendo. Eu o amei de todas as formas possíveis. Deitou-me novamente na cama e se retirou, deitou ao meu lado e me envolveu entre seus braços, o único lugar onde eu pertencia, o único lugar que ele queria que eu estivesse. Começou a passar as mãos entre meus cabelos, lento, dócil, me desfazendo nele. O sono chegava leve e preciso. Puxou-me, colocando seu rosto em frente ao dele, me olhando intenso.
- Eu te tive da forma que eu nunca imaginava ser. Você é tudo que eu preciso, Claire. Tudo que preciso ser é quando estou ao seu lado. Eu nunca vou te deixar... nunca.
- Você me entendi agora? Porque eu sempre insisti?
- Suponho que te entender não é uma questão de inteligência e sim de sentir, entrar em contato.
Sorri ao ouvir as palavras de Clarisse Lispector serem repetidas pela voz de Lucius. Beijei seus lábios de leve.
- Eu te amo...
- Eu nunca vou te abandonar Claire... – sua mão sobre meu rosto, segurando – Porque não há nenhuma outra mulher que eu possa amar.
Dexei-me embalar por suas palavras e dormir entre seus braços, sem saber que amanha seria o primeiro dia em que ele me abandonaria.
Apoiei meu pé sobre a beirada da cama e amarrei o cadarço do meu tênis. Eu já estava atrasada e precisava ir, mesmo que a última coisa que eu queria fazer agora era deixá-lo aqui.
- Me diga de novo porque você precisa ir?
Ele puxou meu corpo para trás, me fazendo deitar novamente na cama. Eu ri alto e tentei me desfazer de seus braços, mas ele era maior e mais forte que eu. E quando eu pude ver aqueles olhos, ele sobre mim e seu sorriso, não precisou de muito esforço para eu continuar ali.
- Eu preciso conversar com a Sura sobre o teste de ontem.
Tentei soar séria, convincente, mas não estava funcionando muito. Ele continuava a brincar com uma mexa do meu cabelo enquanto me olhava nos olhos.
- Só isso? – eu assenti, mordendo meu lábio inferior, tentando não rir – Eu posso ser mais convincente que isso...
Ele falou com um sorriso malicioso no rosto, me fazendo rir também. Continuei a olhá-lo, ele fazia o mesmo comigo. As sobrancelhas grossas, a pequena cicatriz, os olhos azuis profundos, a boca bem delineado, o queixo anguloso. Minha respiração se tornou pesada. Ele era tão perfeito, tudo nele me fazia sentir assim, sem ar, sem chão, sem escolhas. Eu precisava dele, tanto. E agora ele estava aqui comigo, como sempre quis, mas muito melhor do que já imaginei.
- Me promete... – deixei as palavras fluírem – Me promete que não vai me deixar...
Eu vi um triste sorriso se formar em sua boca, com os olhos em mim, sua mão entre meus cabelos.
- Eu te prometo, Claire, que não haverá ninguém que faça te tirar de mim, de tirar de dentro de mim. Eu nunca vou te deixar... você já faz parte de mim.
Senti aquele estranho medo me cercar. Não era a resposta que eu esperava. Eu queria mais, eu precisava de mais. Ele me forçou a olhá-lo de novo. Ele sabia o que eu senti com suas palavras, mas ele não me deu tempo de concretizá-las.
- Me prometa... – ele repetiu minhas palavras, só que mais sério – Me prometa que nunca deixara de me amar, independente do que aconteça, independente do que eu faça, você sempre vai me amar...
Pude sentir o gosto amargo das palavras, a sua dominação e seu egoísmo, mas eu sabia a resposta.
- Eu prometo... Eu sempre vou te amar, independente do que aconteça.
Ele continuou a me encarar, com os olhos fixos, parecendo absorver o que eu tinha dito e feliz com minha promessa. Sua mão, que acariciava meu rosto, parou e se espalmou sobre meu rosto, sua boca se aproximando, seus olhos nos meus, o beijo. Sua língua quente, preenchendo o vão da minha boca, se encaixando em mim, murmúrios surdos, mãos gentis, pernas entrelaçadas, sorrisos bobos, promessas de um amor, gemidos, o céu, a terra, ele e eu, suados, entregues, amando. Eu sempre vou amá-lo, independente se isso me machuque, mesmo que seja meu fim.
Atravessei a área da piscina, com passos apressados. Eu estava muito atrasada. Eu tinha que conversar com Sura e ainda tinha aula de manhã e começar a treinar com o quinto ano. Mas não estava arrependida, eu tinha gastado meu tempo com uma coisa bem melhor. Sorri. Era estranho e ate um pouco surreal pensar sobre o que tinha acontecido. Tudo tinha mudado tão rápido. Eu finalmente tinha conseguido Lucius só para mim, ele tinha se entregue a mim, tirando os escudos, me amando de verdade. Eu não queria deixá-lo sozinho no quarto, já que diferente de mim, ele só tinha treinos à tarde, mas eu precisava. Eu tinha que conversar com Sura e com Victor. Victor seria a parte mais difícil. Eu sabia que Lucius não aprovaria minha decisão e por isso não tinha dito a ele, mas eu precisava falar com Victor, esclarecer as coisas, saber se ele sabia de algo. Ele tinha bebido meu sangue, mesmo que pouco, poderia ter descoberto algo. Ajeitei minha blusa lembrando desse fato. Ele havia me mordido de leve, havia apenas pequenos furos, mas visíveis. Coloquei um band-aid no local e uma blusa onde a gola não deixasse o ferimento exposto, porem se alguém visse, eu poderia alegar que me machuquei. Os únicos que poderiam presumir a verdade era Celina, Moira, Sam e Jeremi, mas eles não contariam nada a ninguém se eu pedisse. Pelo menos eu esperava isso. Passei a parede de vidro e observei a quadra vazia. Não havia ninguém ali, mas por trás da porta dupla eu podia ouvir algumas vozes. Ate alguns gritos. Eu estranhei, mas não hesitei. Precisava saber o que estava acontecendo. Andei mais rápido, alcançando a barra da porta e a abrindo. Fiquei atônita por um tempo olhando a cena a minha frente. Estavam todos aqui, alguns chorando, outros desesperados, outros em transe. Mas a maioria estava tensa, esperando, sérios. Afinal eles foram treinados para isso. Eu pude ver alguns alunos do quinto nível orientando os mais novos, a maioria estava sentada nas mesas, sem saber o que fazer. Eu pude notar que faltavam alguns alunos, na verdade quase todo o quinto ano, mas principalmente, eu notei que nem Sam e nem Jeremi estavam ali. Passei pelas mesas, sentindo os olhares sobre mim, e cheguei onde Celina e Moira estavam. Moira olhava para o nada, absorta pelos seus pensamentos, enquanto Celina tinha seu rosto entre suas mãos e ela estava chorando. Havia acontecido algo, algo muito ruim. Sentei em frente à Moira e ao lado de Celina. Moira olhou diretamente para mim enquanto Celina pareceu nem sentir minha presença. Eu pude ver através dos olhos de Moira o desespero e a dor.
- O que ta acontecendo?
Moira respirou longamente antes de me responder.
- A Base foi atacada.
Olhei Moira por um tempo. A Base foi atacada. Eu sabia o que aquilo significava. As dominações, onde eles se encontravam atualmente, foi atacada. Então eles tinham conseguido a localização do novo Instituto. Um súbito pensamento me veio à cabeça. Bianca.
- Alguém morreu? – o desespero expresso em cada palavra.
- Sim, três dominações foram mortas e alguns principados foram feridos.
- Bianca?!
- Não, ela não morreu, ela esta viva, Claire, ela esta bem.
Depois do susto, eu percebi o que aquelas palavras poderiam significar, o porquê de Celina estar chorando.
- Onde Sam e Jeremi estão?
- Eu não sei, ninguém sabe... – Moira olhou para os alunos mais velhos – e eles não dizem nada.
O medo aumentou. Poderia ter acontecido algo mais sério, eles poderiam... Poderiam... Levantei-me da mesa, eu precisava saber o que estava acontecendo e eles me diriam o que era. Moira segurou meu antebraço um segundo antes de eu ir.
- Isso não é tudo Claire. Pelo o que eu fiquei sabendo as Dominações foram encontradas em um raio perto do nosso Instituto... Eles estão vindo para cá e a Bianca...
- O que tem a Bianca? – quase gritei de volta.
- Ela esta dizendo que foi a Luisa... – Moira hesitou – Luisa e Lucius que os ajudaram a encontrar o local.
As palavras foram como um choque. Isso não poderia ser verdade. Não era. Ele estava comigo, sempre esteve. Não, não era verdade. Tirei meu braço da mão de Moira.
- Aonde você vai?
- Eu vou falar com a Sura...
As palavras mal foram ditas quando deu as costas para Moira e Celina. Saí o mais rápido que pude, passando pelas mesas e chegando a porta. Antes que pudesse abri-la alguém me segurou pelo braço. Tentei desvencilhar, mas a pessoa me segurou com força.
- O que você esta fazendo? – uma voz firme e feminina me disse.
Olhei para trás para encontrar uma garota, da mesma altura, com o cabelo curto, rente a cabeça e traços delicados, me segurando. Tirei meu braço de suas mãos sem esforço algum, de forma rápida e bruta.
- Eu vou falar com a Sura e espero que você não me impeça!
Ele se posicionou, me avisando que não me deixaria passar, mas antes que uma luta armasse, alguém interveio. Paulo Vitor.
- Tais... – ele a chamou e prendeu sua atenção – Deixe a ir, ela é irmã da Bianca.
Ela hesitou no início, mas depois saiu de perto de mim, indo para o outro lado, um pouco contra gosto.
- Obrigada.
Ele apenas acenou e abriu a porta para mim. Não demorei nem um segundo a mais para sair dali. Eu iria falar com Sura, ela me diria a verdade.