domingo, 20 de junho de 2010

Capítulo 19 - *Eu nunca:

Eu ainda podia sentir o gosto dele em minha boca. Passou-se uma semana e eu ainda podia lembrar daqueles olhos azuis sombrios me encarando. Eu havia o rechaçado da pior forma possível. Ele tinha tirado os muros, se entregue a situação, me abraçou, me beijou, deixou que o tocasse de forma mais íntima. E não só por desejo, ele tinha deixado todas as suas crenças sobre nós e cedeu a mim. Poderia ter sido perfeito, mas não foi. Eu havia dito não. Pior que isso, eu tinha pedido desculpas. Eu realmente tinha que me sentir culpada naquele momento? Sim, eu tinha. Eu tinha o feito sofrer da mesma maneira que ele tinha me feito sofrer. Nossa relação não era a mesma e talvez nunca voltasse a ser. Mas eu ainda tinha arrependimentos. Eu queria tanto me entregar a ele. Ir pelo caminho mais fácil, deixar que Lucius tomasse conta de mim. Eu me lembro daquela noite. Os passos demorados até a enfermaria, o choro que não cessava, minha vontade de esquecer tudo e ir ate o dormitório de Lucius. Pertencer a ele parecia à coisa mais certa para mim. Mas e depois disso, o que aconteceria? Ele me contaria a verdade ou ia me deixar de lado? Ele pertenceria a mim ou as suas convicções? Eu não sei. Parte de mim sabia que ele me ampararia, mas não saberia a verdade. Agora era tarde de mais. Eu tinha ferido o maldito orgulho dele. Ele não se dava ao trabalho de falar comigo antes, agora não havia nada que eu fizesse para mudar isso. E por mais que eu tentasse negar, isso tinha me ajudado no meu plano. Eu tinha me decidido. Eu treinaria, daria tudo de mim para que isso desse certo e descobriria o que aconteceu comigo. Eu tinha seguido o conselho da minha irmã. Eu construiria minhas verdades e faria que todos acreditassem nelas. Uma parte do meu plano, mesmo que sem querer, tinha sido finalizado. Agora faltava a outra parte. Victor não dava muito credito a isso. Ele me achava louca por tentar, já que Lucius tinha descoberto sobre minha saída da enfermaria. Felizmente ele pareceu não perceber que eu tinha pegado à chave do meu quarto. Victor não achava bem isso. Eu me recordava bem o que ele tinha me dito um dia depois que eu invadi o quarto do Lucius.

Alguém passou as mãos sobre meus cabelos. Eu abri os olhos rapidamente pensando ser ele, mas encontrei Victor no lugar. Ele tinha os cabelos soltos, algumas mechas loiras sobre o rosto e aquele sorriso inconfundível. Passou a mão atrás de sua orelha prendendo as mechas a ali e se inclinou para beijar minha testa. O sorriso aumentou quando se distanciou.

- Me traindo senhorita Bauer? – eu franzi a testa. Como ele sabia? – Eu posso sentir o cheiro dele em você.

Ele me explicou. Eu dei de ombros sabendo que não poderia esconder a verdade dele.

- Eu não gosto de dividir o que é meu. – ele disse mais sério.

Eu tive que rir desse comentário.

- Agora eu sou sua? – eu perguntei debochada com uma sobrancelha arqueada.

- Eu não estou falando de você, narcísea – ele deslizou sua mão da base da minha coxa até meu joelho, que ainda estava sob o lençol azul, mas seus olhos ainda estavam sobre os meus - Eu estava falando do Lucius.

Eu ri. Muito. Por essa eu não esperava. E mais ainda, eu não esperava pensar nessas palavras. Eu pude ver imagem bem clara na minha mente. Lucius. Victor. E um quarto. Ta, eu não vou pensar mais nisso. Cortei meus pensamentos. Mas isso não fez que eu parasse de rir. Sentei sobre a cama, me desfazendo das mãos de Victor. Ele olhou meu colo, ainda coberto pela blusa roxa da Moira. Maldita blusa roxa. Seus olhos deslizaram lentamente até meu rosto.

- Parece que seu plano não deu muito certo, eu suponho – ele cruzou os braços sob a blusa verde musgo.

Irrefutavelmente as lembranças de ontem à noite vieram a minha cabeça. Eu suspirei cansada de tudo. Eu não sabia se me punia por ser tão burra ou me dava os parabéns por ser tão resistente.

- Talvez. Eu não sei, Victor - comecei a estralar meus dedos, um pouco nervosa – Talvez o que aconteceu ontem tenha me ajudado ou talvez tenha estragado todo meu plano. Eu não sei. Até eu me recuperar, eu vou saber a resposta.

- E qual seria esse seu plano? – ele arqueou uma sobrancelha e eu pude ver suas feições ganharem um tom de curiosidade.

Eu devia explicar o plano para ele, já que ele tinha uma grande função nele. Ele me treinaria. Eu expliquei meu miraculoso plano. Ele manteve sua expressão séria durante toda explicação.

- Você realmente pensa que isso vai dar certo? – ele ainda tinha os braços cruzados e uma cara cética para mim.

- Acho que sim – ele bufou com minha resposta – Mas eu tenho que tentar Victor. Além disso, ele não faria nada que ele já não tenha feito.

- Talvez com você. Mas comigo? – sua voz soou mais grossa e séria – Ele não hesitaria em me matar, Claire.

Eu notei que ele falará a sério. Talvez eu não tenha medido as coisas as proporções que elas mereciam, mas isso não faria que eu desistisse.

- Eu mal conheço você Victor. Mas pelo pouco que eu conheço, posso dizer que você não deve estar aqui por vontade própria. Eu sei que você mal suporta o Conselho, da mesma forma que o Conselho mal te suporta. Eu me pergunto o que te liga ao Conselho pra te trazer até aqui fazer essa investigação – ele cerrou os lábios, parecendo estar sendo pego de surpresa – Mas não é sobre isso que eu quero conversar – eu desconversei – Eu poderia facilitar as coisas pra você e acabar logo com essa investigação.

- Ouh, dear – ele falou com um sotaque britânico – Você não deve me conhecer tão bem para me falar isso, mas quem sou eu para te questionar? – ele me deu um meio sorriso – Você estaria disposta a dar seu depoimento ao Conselho, independente da maneira que isso ocorra?

- Isso depende... – eu tentei soar tão superior como ele – Você estaria disposto a me ajudar?

Eu vi um sorriso lento e perverso ganhar o rosto de Victor – Claro. Mas tenha certeza que eu não deixarei você esquecer o que você me disse aqui.

- Nem eu – eu ofereci minha mão em uma forma clichê de selar nosso acordo. Victor não concordou tanto.
- Eu tenho outra maneira de fazer isso...

Como um vulto, ele foi da onde estava até a mim. Centímetros do meu rosto, olhos nos olhos e me beijou. Pouco, mas lento. Tão lento que eu não tive outra alternativa a não ser fechar meus olhos. Eu pude sentir o gosto metálico quando sua língua se encontrou com a minha. É. Ele tomou café da manha. Afastou se rapidamente, mas continuou próximo.

- Eu sei que você mentiu para mim – sua mão foi para meu cabelo, apertando alguns fios de forma dominadora – Eu só espero que isso não aconteça de novo.

Então ele se foi. Eu nem o vi sair direito. Eu não sabia se estava certa, mas ele pareceu me ameaçar. Ótimo. Adoro ameaças. Eu conhecia Victor. Ele não deixaria que isso acontecesse de novo. Eu me perguntava se isso valeria verdadeiramente a pena.

Desde esse dia eu não o vi mais. Da mesma forma que eu não vi Sura e nem Lucius. Essa semana na enfermaria variava entre as visitas de Camille e a troca do meu curativo, já que ele não tinha cicatrizado direito depois que eu tirei a gaze no dia que eu saí daqui. Eu via as marcas no meu ombro. Cinza arroxeadas, se expandindo em um círculo mal formado. Mesmo que já tivesse bem mais claras que antes, eu ainda me perguntava se esses sinais teriam alguma conseqüência na minha vida. Se os Ifrits tinham conseguido me marcar ou alguma coisa assim. Mas não era só isso. Eu ainda tinha muitas duvidas. Quem era a pessoa que Victor amava? E porque Lucius sabia disso? Bem as duvidas já faziam parte de mim, eram como minhas melhores amigas nas horas vagas. A única certeza que eu tinha hoje era o que eu faria quando saísse daqui. Mas agora eu tinha que arrumar minhas coisas pra voltar pro dormitório. Camille tinha me liberado da enfermaria e eu não via à hora de sair dali. Mesmo gostando muito de Camille, eu sentia muitas saudades das meninas. E no fundo eu também sentia saudade de Lucius, mesmo sabendo que não seria tão bem vinda por ele e o que faria para piorar isso.




- Pronta pra ir? – eu ouvi uma voz ao fundo.

Eu ainda estava arrumando minhas roupas, escovas de dente, escova e tudo que eu tinha levado para lá na mochila bege que Camille tinha me trago. Exatamente nessa hora eu estava arrumando a roupa que Moira tinha me emprestado. Eu me virei e me deparei com aquele sorriso cínico. Victor.

- Você era a última pessoa que eu imaginava que iria me levar pro dormitório – eu ofereci o mesmo sorriso cínico.

- E você esperava quem? O Lucius? – ele andou ate a mim com as mãos nos bolsos e com aquela expressão de tédio que eu odiava.

Mas o resto, bem, eu não odiava tanto. Ele usava uma camiseta bege com gola v, uma calça jeans azul bem gasta e um tênis branco com rajadas pretas nas laterais. E ainda tinha os cabelos loiros que eu começava achar perfeito de mais. Eu sorri a provocação dele.

- Pra falar a verdade eu não esperava ninguém – eu disse em um tom meio triste.

- Oh garotinha. Eu não deixaria você sozinha assim, não no dia tão aguardado como hoje – seu rosto mostrou mais interesse – Como eu gostaria de ir com você e ver a cara dele.

Eu exalei. Luta de egos. Victor faria de tudo para ver Lucius humilhado da mesma forma que Lucius também faria o mesmo. Eu não me sentia tão confortável com isso.

- E porque a Sura não veio? – eu tentei mudar de assunto.

- Ocupada, eu acho. Eu não sei – ele deu de ombros.

- Claro.

Eu voltei a mexer nas minhas coisas a procura de uma roupa. Todo mundo parecia ocupado nesse Instituto. Sura, Lucius, Bianca, Jeremi... Eu tinha saudades dele. Por mais estranho que pareça eu tinha muitas saudades dele. Do sorriso bobo, o cabelo desarrumado, as conversas sem nexos. Ele era uma parte da minha vida, assim como meus amigos, que me traziam tranqüilidade, uma vida normal. E eu morria de vontade de voltar à normalidade.

- Sorrindo do que Bauer? – Victor me perguntou ao ver o sorriso que se formara no meu rosto.

- Nada – eu tirei a roupa que procurava da mochila e me levantei da cama – Eu vou trocar de roupa pra gente poder ir.

Eu ainda usava a camisola fina e azul da enfermaria. Eu vi os olhos de Victor me acompanhar ate o banheiro anexado ao quarto. Ele andou a porta onde eu estava e parou a minha frente, me fitando.

- Você tem certeza que se sente bem? – eu franzi o cenho notando como ele parecia preocupado – Porque se você precisar de ajuda, eu estou aqui para isso.

Ele examinou meu corpo ainda coberto pelo fino pano azul e parou os olhos em cima das minhas roupas. E eu ainda achava que ele estava falando sério. Eu me segurei para não bater a porta na cara dele. Passei as mãos no meu cabelo e os puxei só para um lado do meu pescoço, deixando parte do meu pescoço descoberto. Victor olhou para ele da forma que eu imaginara que ele faria. Vampiros.

- Eu preciso de ajuda – eu mordi meu lábio inferior e recebi um sorriso maior em troca – Então por que a gente não faz o seguinte. Você chama o Lucius enquanto eu espero aqui no banheiro.

Eu fechei o banheiro antes mesmo de receber uma resposta. Eu me virei para o espelho que estava em cima da pia e pude ouvir o riso amargo de Victor. Eu segurei um riso. Se ele pensava que ia conseguir alguma coisa de mim ele estava muito enganado. Peguei a bata floral que cobria meus ombros e a vesti. Depois vesti meu short jeans azul e calcei novamente minha sandália rasteira. Olhei o espelho, me certificando que tudo estava no lugar e mexi no meu cabelo, o deixando mais ondulado. É. Pronta para guerra. Abri a porta do banheiro e vi Victor encostado no beirada da cama. Seu rosto estava mais sério. Ele pareceu não gostar tanto da brincadeira.

- Da próxima vez eu não vou ficar do lado de fora.

- Relaxa – eu fui até a cama, desviando de Victor e peguei minha mochila – Da próxima vez eu não vou precisar da sua ajuda. Eu mesma chamo o Lucius.

- É aí que você se engana garotinha – ele se apressou a ficar na minha frente – Ele não vai querer te ver tão cedo depois de hoje.

Eu senti meu estomago embrulhar. Ele não iria querer me ver tão cedo depois de hoje. Eu estava fazendo à mesma coisa que ele. O afastando. Mas dessa vez eu não sabia se teria volta.

- Yep – eu disse simplesmente – Vamos?

Eu ofereci minha mochila para ele carregar. Ele me fuzilou com os olhos e me deu as costas, indo para o corredor. É. Ele não ia carregar minhas coisas. Eu andei apressada, com as mochilas em minhas costas e o alcancei. Segurei em um de seus braços e lhe dei um sorriso amigável. Ele sacudiu a cabeça em negativa e continuou a nós guiar nos corredores. Nós estávamos na parte inferior do Instituto, portanto tínhamos que atravessar o jardim externo para chegar ao meu dormitório.

- Onde a gente ta indo? – eu perguntei vendo que passávamos à porta que dava para o jardim e indo para parte dos dormitórios.

Ele me puxou para uma pequena escada e virou o corredor.

- Pro meu dormitório. Por quê? – ele me olhou inocentemente e sorriu.

Isso não estava muito certo. Já era quase oito horas e eu estava indo para o quarto do Victor. Talvez eu não devesse ter feito aquela brincadeirinha com ele. Engoli em seco. Tentei puxar minha mão do seu braço, mas ele me manteve ao seu lado, segurando minha mão com força.

- Com medo senhorita Bauer? – eu vi mais uma vez aquele sinistro sorriso ganhar seu rosto.

Ele parou em frente de um quarto no fundo do corredor. Merda. Ele abriu a porta e eu pude ver... A Moira?

- Surpresa! – todos gritaram juntos.

E ali estava todo mundo. A Moira, a Celina, o Sam e o Irial. Eu olhei para Victor mais uma vez com cara de espanto.

- Você esperava o que Claire? – ele arqueou a sobrancelha e colocou uma mão atrás das minhas costas – Infelizmente as suas fantasias terão que esperar mais um pouco.

Eu balancei a cabeça, mas ri de qualquer maneira. Convencido. Eu fui levada por suas mãos ate Moira que sorria alegremente. E eu ate imaginava o porquê disso. Ela me abraçou.

- Finalmente você saiu daquela enfermaria – ela desfez o abraço e eu a encarei.

- Finalmente – eu concordei.

- E porque vocês demoraram tanto? Abusando do Lefroy, Claire? – ela sorriu maliciosamente para mim.

- Ela até que tentou Moira, mas eu não sou tão fácil assim – Victor disse ao meu lado.

- Eu tenho certeza que ela não me trocaria por uma cópia mal feita de mim versão vampiro – eu ouvi voz familiar dizer em canto do dormitório.

Eu me virei em direção à voz, assim como todo mundo fez e encarei seu rosto. Antes mesmo que eu percebesse já estava correndo em sua direção. Eu meio que pulei nele e joguei meus braços ao redor do seu pescoço. Eu o ouvi rir em aprovação. Ele me abraçou com a mesma intensidade e me levantou do chão. Eu dispersei beijinhos em seu rosto enquanto ele ria mais.

- Calma – ele me baixou e distanciou seu rosto para me ver melhor – Tem bastante Jeremi pra você essa noite.

Eu ri – Desculpa. É só que eu senti saudades.

- A gente percebeu – Moira falou alto desviando minha atenção de Jeremi – Mais um pra concorrência Victor.

Ela sorriu ligeira para Victor e olhou para Irial, que parecia um pouco excluído do contexto – Ainda bem que eu não tenho esse problema.

Eu quase engasguei com a indireta da Moira. Às vezes eu sentia certa inveja da Moira por ser assim. Poucos podem dizer isso, mas eu posso. Minha amiga é diva.

- Como você é sutil amiga.

Celina disse e todos riram, deixando Irial um pouco sem graça e sem ação. Eu prestei mais atenção ao meu redor. O dormitório de Victor era bem parecido com o de Lucius, só que era um pouco menor. Na verdade o dormitório se dividia em três partes: uma cozinha, o quarto – que eu suspeitava ser a pequena porta a direita – e a sala. Não tinha televisão, só uma mesa redonda quase no meio do ambiente, uma pequena bancada que dividia a sala da cozinha. Senti os dedos de Jeremi segurarem o meu short jeans e chamar minha atenção.

- Vai prestar atenção no quarto ou em mim? - Jeremi sorriu.

Eu não me contive e sorri de volta. Cara que saudade dele. Seu cabelo castanho estava um pouco maior, mas o resto estava do mesmo jeito. Os olhos castanhos, o sorriso fácil, o cheirinho de coco e as covinhas. Eu o abracei novamente.

- Perdeu Victor! - Moira deu ênfase no “perdeu”.

- Eu tenho certeza que o Jeremi não é um perigo para mim. Certo? – Victor olhou para mim e depois foi dos meus olhos para os de Jeremi, que disfarçadamente assentiu – Mas agora deixa eu te entregar seu presente Claire.

Ele desconversou, mas eu tinha visto. Aparentemente só eu notei isso, já que todo mundo olhou para Victor mais interessados no presente que ele me daria. Espera aí! Presente?
Eu ainda estava abraçada a Jeremi, mas Victor fez questão de ir ate ali e me puxar pela mão. Eu olhei para Jeremi e pedi desculpa. Ele apenas deu de ombros. Victor me levou ate sua pequena cozinha, com todos nos olhando e parou em frente a um frigobar.

- O que? Você vai me dar o frigobar de presente? – eu disse sarcástica.

- Claro que não! Esse frigobar é de estimação. Mas, talvez, se você abrir o frigobar você encontre alguma coisa...

Ele disse como se eu fosse à pessoa mais burra do mundo. Ta. Como se eu fosse encontrar alguma coisa útil dentro de um frigobar. Eu abri a pequena porta do frigobar preto e encontrei meu presente. Na verdade meus três presentes. Eu pensei que talvez as outras coisas também pudessem ser – as cervejas, os vinhos e o uísque -, mas diferente desses os meus presentes tinham lacinhos.

- Tequila? – Que gracinha! Minhas tequilas tinham laços.

- TE-QUI-LA? - Moira gritou do nada e foi para o meu lado – Mentira! Como eu te amo nesse momento Victor Lefroy.

Moira abraçou Victor momentaneamente, que não aparentou nenhuma reação, e voltou a olhar as tequilas.

Ela pegou uma e a beijou – Como eu senti saudades de você, garota.

- Pára de falar com a tequila, que ela é minha!

- Ah Claire! Tem três tequilas aí. Uma pra cada uma – Celina parou do meu lado e sorriu de forma angelical.

- Vai sonhando! – eu puxei a tequila da mão de Moira e a abracei defensoramente – O presente é pra mim, certo Victor?

- É – ele riu, assim como todo mundo na sala, quer dizer, menos o Irial que não parecia muito feliz com a situação – Mas talvez três garrafas seja muito para uma garota só.

- Um pouco de consciência também não faz mal a ninguém Victor – Irial foi para mim e pegou a tequila da minha mão.

- Certo! E eu vou fingir que você não veio aqui na pretensão de ficar perto de uma estudante. – Victor tomou a tequila de Irial e me entregou novamente - Você decidi o que fazer com a tequila.

Ele me olhou sem dar a mínima atenção a Irial. Eu não consegui responder. Não com clima tenso que se alastrou na sala. Irial ainda estava ao meu lado, junto com Celina e Moira, com as mãos para trás e o olhar duro. Até a Moira, que adora se expressar nesses momentos, ficou calada.

- Qual é Irial! – Sam interveio por mim – Tem ate Jhonny Walker aqui. Não é como se nunca tivéssemos bebido.

Talvez eu nunca tenha bebido tequila, mas eu não ia desmentir o Sam agora.

- Certo – Irial disse sério.

Eu olhei agradecida para Sam, que sorriu de volta.

- Ta eu divido a tequila – eu disse entregando a tequila para Moira.

- Agora sai da frente que outra tequila é minha – Celina disse toda animada.

Moira e Celina foram para a mesa e se sentaram enquanto Sam e Jeremi fizeram o mesmo. Olhei para última tequila no frigobar e a deixei ali mesmo. Eu queria beber, mas mais de duas garrafas era exagero. Peguei o uísque e me virei para Irial. Victor olhou para mim em uma tentativa de me impedir de fazer o que estava em mente. Eu não prestei atenção. Ele foi para sala, me deixando sozinha com o Irial.

- Toma o seu Jhonny Waker – lhe entreguei a garrafa de uísque e ele sorriu sem graça.

- Me desculpa. É só que eu não consigo olhar para Victor e não ver segundas intenções nisso. – ele me ofereceu o melhor sorriso e eu assenti.

- Pra falar a verdade nem eu. Mas pode deixar que eu sei tomar conta de mim.

Como não desculpar esse homem. Eu entendia Moira, ate de mais. O cara na minha frente tinha o sorriso genuíno, aquela barba para fazer e asas. Quando você pode vê-las fica meio difícil não contar como um benefício.

- Ta. Agora senta ali com a Moira se não eu vou acabar morrendo aqui se ela continuar a me olhar daquele jeito – eu apontei para Moira que não disfarçou nenhum pouco o ciúme.

- Eu vou ali sentar perto dela - ele sorriu cúmplice.

Não precisava esconder mais nada. Eles e Victor tinham deixado bem claro a intenção de cada um ali. Agora só faltava ver quem daria o primeiro passo. Eu o olhei fazer o caminho para mesa, sentando se em uma cadeira ao lado de Moira. O sorriso que ela ofereceu a ele foi sincero, feliz. Da mesma forma que Irial ofereceu um olhar complacente. Ele gostava dela, eu sabia disso. Os pequenos toques, o sorriso bobo, os gestos cheios de pretensões, a conquista. Sentir aquilo era perfeito, o frio na barriga ou a esperança infantil, era isso que definia o começo de uma relação. Alguns tentam negar, outros se agarram a ela, mas Moira e Irial deixavam acontecer. Eu me senti assim há uma semana, com borboletas no estomago, agora não mais. Voltei meu olhar para Sam e Celina. Eles brigavam de uma forma engraçada. Celina tentava beber a tequila no gargalo enquanto Sam tentava a impedir. É, minha amiga é a alcoólatra da relação. Sam abraçou fortemente e dispersou beijinhos na sua nuca enquanto Celina ria desesperadamente. Casais. Passei a olhar Jeremi. Ele olhava para o chão, parecendo pensar em algo. Então ele percebeu que eu o olhava e me olhou de volta. Ficamos assim, nos olhando. Ele pareceu querer falar algo com o olhar, mas então abriu um sorriso que me fez estremecer. Jeremi. Eu andei ate a mesa e sentei ao seu lado.

- Então quer dizer que você sofreu um acidente de moto? – ele me olhou descrente.

- Eu mal acredito que isso aconteceu comigo - eu tentei soar a mais convincente.

- Nem eu – ele disse mais sério.

- E você, porque saiu assim do Instituto? – minha vez da interrogação.

- Minha avó. Ela sofreu um acidente de carro e acabou parando no hospital.

- Eu... Sinto muito – eu ainda estava desconfiando dele.
- Não tem problema. Ela já ta bem melhor. Felizmente ela só quebrou uma perna, não foi nada sério.

Ele me puxou pelo braço e me abraçou de novo. Eu sorri com o carinho.

- O que você ta fazendo? – eu disse entre risos.

- Minha vez de matar a saudade – ele beijou minha bochecha.

Na verdade ele babou na minha bochecha, o que me fez gritar e chamar a atenção de todo mundo na mesa.

- Pára – eu tentei soar séria.

- Ou o quê? – ele mordeu minha bochecha dessa vez.

- Ou eu arranco sua cabeça com minhas presas.

Não fui eu que falei isso. Foi único vampiro no estabelecimento que falou. Eu o olhei séria, reprovando o comentário.

- O que? Não gostou da brincadeira? – Victor se sentou ao meu lado e bebeu o conteúdo do copo que ele trazia em mão.

A bebida era transparente com rajadas vermelhas. Na minha humilde opinião a parte vermelha era sangue, mas quem era eu pra perguntar isso. Eu arqueei minha sobrancelha e dei de ombros. Levei minha cadeira mais próxima a do Jeremi e o abracei com mais força. Dessa vez foi à vez de Irial rir, o que levou todo mundo a rir também.

- Você é tão madura Claire – eu ouvi o som abafado da voz de Victor.

Voltei a olhar para ele e ri – Assim como você.

- Eu já entendi. Então vamos parar com a disputa entre machos e fazer algo que preste. – Moira se levantou e olhou para Victor – Onde esta os copos?

- Na bancada – respondeu sem olhar para Moira.

- Mas não é copo de dose!

- São os únicos que eu tenho – Victor deu de ombros.

- Tanto faz... – Moira foi ate a bancada e pegou os copos, entregando, depois, um copo para cada um.

Ela despejou uma boa dose de sua tequila no copo e sentou de novo no seu lugar – Eu nunca brinquei de eu nunca - e bebeu a dose.

- Eu nunca, Moira? – Sam exclamou – A Celina já ta meio bêbada...

- Como se isso fosse um problema e não a solução... – Jeremi comentou.
Sam começou a falar algo, mas foi interrompido por Celina – Ele tem razão Sam. Além do mais Moira leu meus pensamentos. Adoro eu nunca.

- Adora? – foi à vez de Irial aparecer incrédulo.

- Irial, a Celina não é nada daquilo que aparenta nas aulas. Ela é a pior de nós três.

- Talvez não a melhor, mas a pior ela não é, Moira. – eu tive que discordar.

- Talvez não a melhor? Você ta dizendo que é a melhor? – Celina se fez de ofendida.

- É claro. Você acha que quem é a melhor?

- Eu – antes que eu pudesse falar alguma coisa, Moira completou – O Irial concorda comigo, não concorda?

Todos olharam instintivamente para ele, menos Victor que estava entretido com sua bebida. Ele riu e ficou em silêncio, fazendo suspense.

- É. Você é a melhor – Irial se deu por vencido.

- É melhor você ficar calado, senhor Irial, se não eu te expulso da minha festa particular.

- O dormitório nem é seu, dona Claire, é o do Victor – Moira disse.

- Se dependesse de mim certas pessoas nem estariam aqui – Victor disse e bebeu mais um gole.

- Parece que alguém esta de mau humor hoje... – eu simplesmente disse – Acho melhor a gente começar a brincar.

Peguei a garrafa da Moira no meio da mesa e enchi meu copo. O restante fez o mesmo, variando as doses.

- Eu começo – Moira disse toda animada.

- Eu nunca fui afim de um treinador.

Com exceção dos meninos, todas as meninas beberam, até a Celina. Minha surpresa foi deixada de lado quando a bebida desceu em minha garganta. A tequila ardeu, me fazendo fechar os olhos e franzir rosto. Quando abri os olhos, Moira estava colocando outra dose em meu copo.

- Primeiro nível com o Jace – Celina explicou e continuou – Eu nunca fiz sexo no jardim externo.

Celina, Sam e Victor beberam suas doses. Eu ouvi Moira murmurar “inveja” e olhei para Celina. O Victor era até previsível, mas a Céu e o Sam. Isso me pegou desprevenida. Eu olhei para Celina novamente e ela deu de ombros. Ta bom. Cada um faz sexo onde quiser.

- Eu nunca vi minha namorada bêbada – Sam disse cético depois da revelação bombástica da Celina.
Sam, Irial e Jeremi beberam suas doses. Ta, nada que eu não imaginasse, mas o Victor não beber foi uma surpresa. Eu olhei questionadora para ele e ele simplesmente respondeu “Nunca tive namorada”.

- Eu nunca quis beijar a pessoa ao meu lado – Jeremi disse e bebeu sua dose.

Isso foi uma indireta ou foi impressão minha? Bebi a tequila do meu copo, assim como todo mundo fez. Todo mundo. Moira pareceu animada vendo Irial beber, pelo menos eu espero que o Irial tenha bebido por causa dela e não por causa do Victor. Eu ri disfarçadamente desse pensamento. Eu acho que estou começando a ficar bêbada. Agora, eu? Sinceramente sempre quis beijar o Victor, o que já aconteceu e o Jeremi.

- E nunca fui atacada por demônios – eu falei e vi Moira revirar os olhos.

Ela esperava que eu falasse o quê? Bebi sem me importar com a opinião de Moira. Victor e Irial me seguiram, bebendo a tequila do seu copo.

- Jeremi, não vai beber sua dose? – Victor disse para Jeremi com um meio sorriso. Eu vi Jeremi segurar seu copo e virar a dose. Eu olhei para ele sem entender, mas ele não olhou nos meus olhos.

- Eu nunca quis fazer sexo com a Claire.

Isso me tirou dos eixos. Eu olhei para Victor repentinamente. Ele apenas arqueou sua sobrancelha e bebeu sua dose. De lado ainda pude ver Jeremi também beber. Sério? Concentrei-me no meu copo tentando não me sentir envergonhada. Victor não precisava ser tão direto assim.

- Eu nunca fui apaixonado por uma pessoa, que a meu ver, é estritamente proibida pra mim – Irial continuou e bebeu.

Eu olhei para ele sem entender no começo. Quando finalmente tudo fez sentido na minha cabeça, eu percebi o que ele acabara de fazer. Uma declaração para Moira. Eu sorri para ela, que impressionantemente parecia envergonhada. Vi Victor e Jeremi bebendo suas doses e os segui, bebendo do meu copo.

- Eu nunca pensei que poderia me apaixonar – Moira bebeu, fazendo do seu jeito sua declaração.

Victor também bebeu uma dose. Ele amou alguém e não era eu.

- Depois dessas declarações fica difícil dizer alguma coisa – Celina se levantou da cadeira e sentou no colo de Sam, que parecia tão feliz como ela. Ela cochichou algo em seu ouvido e riu. Ele também riu. Os dois pegaram seus copos e beberam suas doses.

- Eu acho que ninguém vai querer ouvir o que a Celina disse pro Sam – Celina nem deu atenção para que Moira disse e beijou Sam, assim, do nada – Continua Jeremi.

Moira lançou um olhar assustado para o casal, mas não disse nada.

- Eu nunca enganei quem eu amo em troca de poder - Jeremi olhou diretamente para Victor sem deixar duvidas para quem ele falou.

Victor bebeu a bebida de seu copo ainda olhando para Jeremi. O clima tenso voltou. Victor pegou a garrafa de tequila e colocou garrafa em frente à Jeremi, que também ficou bem a minha frente.

- Eu nunca deixei que nada acontecesse a minha família - Victor voltou a sua posição com cara indiferente – Agora você pode beber a garrafa, Jeremi.

No próximo instante Jeremi levantou da cadeira enquanto Victor ria. Eu não entendi nada, mas não era hora de perguntar. Sam olhou a situação e pediu para que Celina se levantasse. Irial não ficou para trás e também se levantou. Eu olhei para Celina e Moira que pareciam tão perdidas como eu.

- Jeremi ele esta te provocando – Sam foi para frente de Jeremi – Não faça isso.

Sua voz soou mais afligida que o normal. Irial se manteve ao lado de Victor, postamente esperando se algo acontecesse. Sam foi empurrando Jeremi para porta, que ainda olhava para Victor. Então eles saíram pela porta. Isso não estava certo. Eu me levantei, mas Irial me impediu de ir ate lá.

- É melhor eu ir.

- Então eu vou com você – Moira se levantou e foi ate ele

Celina não disse nada, apenas se levantou e foi à porta, sendo seguida por Irial e Moira. Eu olhei Victor que ainda brincava com a borda de seu copo. Ele sorria de algo que só ele sabia.

- Por que você fez isso? – eu disse verdadeiramente frustrada.

- Ele começou Claire. Alem do mais eu só disse a verdade – ele levantou e me encarou.

- Qual verdade? Sobre a avó dele?

Victor praticamente gargalhou na minha cara, me deixando com mais raiva.

- É. Sobre a avó dele – ele disse sarcasticamente.

- Se é tão engraçado porque você não me diz o que tem escondido nisso?

- Porque EU não estou escondendo nada de você.

- Você tem certeza disso?

- Talvez eu esteja escondendo algo.

Ele sumiu da minha vista, eu pude ver um vulto indo para a porta anexa à sala e segundos a mais Victor voltou. Ele tinha uma pequena caixa de presente retangular na mão. Eu olhei para ele quando se aproximou mais.

- O que é isso?

- Seu verdadeiro presente – ele ofereceu a caixa e eu a peguei.

Peguei a caixa e analisei. Ela era de tamanho médio com um laço preto em volta da estampa branca. Desfiz o laço cuidadosamente com medo do que encontraria dentro. Tirei a tampa de papel e olhei o conteúdo. Ela tinha o cabo feito de aço e a lamina de prata. Havia pequeno espirais em seu cabo e alguns pequenos rubis dentro dos espirais. A adaga. Tirei da caixa, deixando a caixa sobre a mesa e avaliei a adaga. Era a mesma que eu tinha encontrado no quarto de Lucius.

- Onde você encontrou isso? – eu disse a mais calma possível.

- Eu comprei pra você. Por quê?

Não esconde nada de mim? Mentiroso. Eu tentei não demonstrar minha raiva para Victor e guardei a adaga de volta na caixa.

- Obrigada. Mas eu vou pro meu quarto agora.

- Só isso?

- É. Eu já to meio tonta – o que não deixou de ser uma verdade.

- Você vai falar com o Lucius agora? – ele perguntou e deu um passo em minha direção.

- É. Definitivamente eu vou falar com ele – eu deixei minha frustração transparecer.

- Então é melhor eu dar início a minha parte do plano...

- Que parte do pla...

Ele levou meu corpo ate a parede do cômodo rapidamente, me pressionando ali. A caixa caiu no chão com o impacto. Mas Victor não parou. Deslizou suas mãos em minha cintura e me beijou. Com força, paixão, desejo. Eu resisti no primeiro momento, tentando o empurrar, mas ele continuou ali. Suas mãos foram para o meu cabelo, os puxando para trás, me forçando abrir minha boca. Eu lutei mais um pouco, mas quando percebi minhas mãos foram para seus cabelos, tão desesperado como ele. Nossas línguas se encontraram e eu pude notar o gosto de tequila se fundindo com o gosto metálico do sangue. Suas mãos deslizaram ate minha perna, a subindo, para que ele se acomodasse melhor. Ele cortou nosso beijo e deslizou beijos ate chegar em meu pescoço. Eu senti algo pontudo roçar minha pele e gelei. Suas presas.

- Só deixando meu cheiro em você... Só isso – ele sussurrou para mim e voltou a beijar meu pescoço.

Mas eu não acreditei nele. Ele estava bêbado, assim como eu, não era bom arriscar. Levei minhas mãos em seu cabelo loiro e o puxei para trás. Ele me encarou, faminto, com suas presas a mostra. Em um impulso o virei contra a parede e o pressionei ali. Levantei nas pontas do pé e o beijei com a mesma voracidade. Ele me puxou, me acomodando entre suas pernas. Eu deixei que o momento se perdurasse por mais algum tempo e por mais difícil que parecesse, me separei dele. Os olhos sem foco, a respiração descompassada e as mãos frias.

- Você já fez sua parte, agora é a vez de eu fazer a minha – eu tirei os braços ao meu redor e peguei a caixa do chão.

Ele ficou ali, me vendo partir, enquanto eu ia para o meu dormitório. Agora era minha vez de falar coisas que eu nunca tive coragem antes. Falar coisas que nunca seriam verdades. Era minha vez de brincar de eu nunca com Lucius.

3 comentários:

  1. Nossa, que capítulo foi esse? *0*
    OMG!!!
    Mto maravilhoso!!!

    Declaro que sou Team Victor

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  2. OMG!! Cara amei esse capitulo!

    Declaro que quero pegar o Victor!

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  3. Victor tudo de bom continuo curiosa pra saber quem ele amou..Ansiosa pro próximo cap!!!!!!!!!!!

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