Eu encarei a quadra vazia enquanto as palavras do Lucius ainda martelavam em minha cabeça. Da próxima vez, Claire, prenda seu cabelo em um coque. É mais seguro. O quanto idiota eu tinha sido. Eu poderia ser nível três ou até mesmo quatro se não fosse pelo meu maldito cabelo. Eu tinha visto, dia a dia, as meninas que tinham o cabelo mais longo prendendo-os fortemente em um coque, pra que isso que tinha acontecido comigo não acontecesse com elas.
Eu me sentei ao lado dos meus tênis e olhei o vazio enquanto as lagrimas embaraçavam minha vista. Imbecil, eu era uma imbecil. Eu tinha visto, tanto a Moira quanto a Celina, repetindo esse ritual todos os dias antes de sair do dormitório e mesmo assim eu tinha prendido meu cabelo em um rabo-de-cavalo. Talvez fosse pelo habito, eu pensei. Fora dali eu nunca tinha me preocupado com amarrar meu cabelo, pra falar a verdade eu odiava amarrá-lo. Enquanto eu vivia no orfanato a única preocupação que eu tinha era parecer normal, assim como as outras crianças. E o fato de deixar meus cabelos soltos me ajudava nisso, ajudava a esconder meus olhos e das coisas que eu via. Agora o simples ato de não prende-los me estava fazendo chorar.
Eu enxuguei minhas lagrimas e me dentei no chão frio tentando me desfazer desses sentimentos melancólicos. Pelo menos não foi tão ruim assim. Se eu continuasse assim talvez eu estivesse no nível quatro em pouco tempo. Eu poderia contar a Moira que tinha acertado o Lucius, ela iria pirar. E provavelmente rir por ter sido resignada ao nível dois por causa do meu cabelo. Ela riria ainda mais por eu estar no mesmo nível que o Jeremi. É, pelo menos seria mais engraçado passar um tempo com o Jeremi. Eu podia ver nitidamente o rosto da Celina de decepção. Não por minha causa e sim por ela mesma não ter me lembrado disso antes do teste. Pelo menos eles não estavam aqui pra ver isso. No dia em que Sura não tinha permitido nem a Celina e a Moira pra vir ao meu teste eu tinha ficado um pouco triste. Agora eu a idolatrava por não permitir as meninas de faltarem às aulas de filosofia.
Eu ri e me virei pro lado da parede de vidro que separava a quadra das piscinas olímpicas. Eu senti uma pequena dor atingir meu braço, então eu lembrei do chute que o Lucius tinha me dado. Isso demoraria no mínimo uma semana pra sarar e até lá eu estava sujeita a lembrar o que tinha ocorrido. Pensa pelo lado positivo - eu pensei ironicamente – você não precisa de um machucado pra lembrar dessa humilhação, o Lucius vai se encarregar disso diariamente durante os treinamentos. Eu sorri secamente ante esse pensamento.
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- Claire... Claire. Oieee...
- Acorda Claire!
Eu ouvi uma voz nitidamente irritante que eu reconheci que era da Moira. Logo algo ou alguém balançou meus ombros.
- Claire, acordaaaa!
- Eu to acordada, porra! – eu disse sonolenta.
- Também não precisa xingar, Claire! – essa voz só podia ser da Céu.
- É, eu to percebendo mesmo. Agora da pra abrir os olhos, levantar e falar alguma coisa coerente. Alem de xingar, é claro. – Moira me disse me balançando mais ainda.
Eu me desvencilhei do aperto dela e me sentei. Me espreguicei e encarei os quatro principados que estavam a minha frente. Dois eu já tinha reconhecido antes mesmo de acordar, Moira e Celina. Os outros dois, bem, eram meio fácil de adivinhar. Jeremi estava vestindo uma blusa branca com gola em forma de v, um jeans azul-escuro e um all-star preto. Eu sorri pra ele quando ele me olhou, eu ainda teria que me acostumar com aquele sorriso ou com seu cabelo castanho-claro que teimava em ficar amaranhadamente lindo. Assim como a Celina, ele também tinha covinhas. Eu contive o riso. Ele era o tipo garotodosonhos, então era meio difícil não rir.
Eu olhei pro Sam, que estava de mãos dadas com a Céu. Ele estava com uma regata branca que destacava sua pele morena, usava calças pretas largas e uma havaina. Seu sorriso era ate mais bonito que o do Jeremi. Na primeira vez que eu os vi, eu me perguntei por que eles sempre eram tão lindos e peculiarmente cada um a sua maneira. As respostas vieram nas aulas de filosofia.
Cada Principado tinha um dom que fora dado por Deus durante suas gestações, suas mães foram tocadas por uma divindade que os concediam um dom. Com isso eles de certa forma ‘herdavam’ os dons dos anjos que suas mães foram tocadas, e conseqüentemente, essa beleza. Não se sabe muito alem disso, pelo menos o Instituto não nos fala muito sobre isso. A coisa mais importante que eles recitam é que cada Principado foi escolhido com um único objetivo: proteger as Dominações e a humanidade. Mas isso era decidido pelo próprio principado que aceitava ou não a condição de treinar e proteger seu anjo. Na maioria das vezes era difícil pro Instituto localizá-los e por isso éramos em tão pouco número.
Eu encarei a Moira com raiva.
- O que vocês estão fazendo aqui?
- A pergunta correta é: o que você ainda esta fazendo aqui? Não era pra nós nos encontrarmos no refeitório na hora do almoço?
- Acho que é meio obvio porque eu ainda estou aqui. Eu dormi. – eu disse pra Moira que me encarava com raiva. Ela arfou em exaspero. Eu encarei a Moira pela décima vez. Ela estava com raiva de mim? A única que tinha que estar com raiva aqui era eu.
Eu me levantei e olhei secamente.
-Ah! Agora lembrei o porquê deu estar aqui – eu disse e deu um beliscão no braço dela. Foi meio infantil, mas valei à pena.
- Ai! Você ta louca? – ela me olhou com reprovação.
Eu pude ver o sorriso crescer no rosto do Sam enquanto a Celina cruzava os braços e rolava os olhos.
- Dá pra parar com isso – o Jeremi disse meio rindo, meio sério – e vamos ao que importa.Como foi com o Lucius?
- É, como foi com o Lucius? – Celina repetiu ansiosa.
- Jeremi pode me dar os parabéns, por que eu sou sua nova colega de turma. – eu disse ironicamente.
Ele riu.
- Sério?
Eu assenti tristemente. Mas não foi bem a reação do Jeremi. Ele me abraçou e beijou minha bochecha. Enquanto o resto me olhava com certo desapontamento, ele ainda me abraçava. Ele me soltou e me olhou de cima a baixo.
- Como eu te amo agora – eu tive que sorrir com essa declaração – mas mesmo assim a gente vai ter que repassar umas dicas de moda. Eu posso ser um menino, mas tenho mais senso que você...
- Cala boca – eu disse tentando disfarçar o sorriso. Eu me soltei dele e calcei minhas meias e tênis. Depois fui em direção a porta do ginásio, passando pela Moira, Celina e Sam.
-Ei, espera ai, colega de turma – Jeremi gritou e me alcançou enquanto eu andava. Ele rodeou minha cintura com uma mão e andou ao meu lado. Eu pude ver que o resto fez o mesmo e nos seguiu.
- Ta, segundo nível, eu entendi – a Moira disse meio incrédula – Agora me diz como você ficou no mesmo nível do imprestável do Jeremi. Como? A gente treinou durante dois meses e eu posso comprovar que você é melhor que o Jeremi.
- Oooh, eu ainda to aqui – Jeremi disse ofendido e olhando de esguelha pra Moira.
-É, conte sobre os detalhes – a Celina disse agarrada no braço do Sam.
Sam riu e disse divertido:
- Precisamos de detalhes, Claire.
Eu rolei os olhos. Eu pensei na melhor forma de contar pra eles, mas não havia uma melhor forma. Passamos pelas salas e chegamos ao imenso refeitório que tinha no Instituto, mas conhecido como salão de festas. Normalmente era ali que ocorriam os eventos de iniciação e encerramento. E raros casos festas. Diariamente ele era conhecido por nós como refeitório mesmo.
- Agora eu preciso comer. – eu disse saindo do braço do Jeremi. Aqui foi uma forma clara de mudar de assunto, o que todo mundo percebeu, mas não adiantou muito. Eu pude sentir Celina e Moira me seguindo enquanto Jeremi e Sam se sentavam em alguma mesa. Diferente dos meninos que sabiam que de uma forma ou de outra eu teria que falar, as meninas não esperariam tanto. Bem eu não as culpo, já que eu faria o mesmo.
Eu peguei a bandeja e entrei na fila. Moira e Celina fizeram o mesmo.
- Eu preciso comer?! Sério? – Moira disse irritada.
Eu ignorei.
- Claire, o que aconteceu? – Céu disse toda preocupada. Eu tive que rir de toda aquela irritação e preocupação. Moira apenas me encarou. Celina bufou.
- Eu acho que agora eu posso falar pro Lucius quem pegou a garrafa de água dele – Céu disse. Eu e Moira a encaramos. Ela estava me chantageando? Eu a encarei por um tempo. É, ela estava.
-Eu só roubei aquela garrafa porque num sonho doentio de fraternidade eu tinha que realizar umas provinhas que vocês escolheram pra eu poder ser aceita no dormitório.
- E você acha que ele vai acreditar em você?
- E também, a gente te obrigou a fazer alguma coisa? – Moira falou entrando no joguinho da Céu.
Eu olhei pra duas, desconcertada.
- E talvez o Jeremi e o Sam queiram saber o que aconteceu com as cuecas deles. – eu retruquei.
- Fala baixo, Claire – Celina me reprovou – não foi à gente que roubou, foi você!
-E sou eu que as guardo na gaveta ou coloquei na escrivaninha do Irial só pra humilhar alguém, an? – eu disse um pouco mais alto.
- Pelo menos eu não guardo uma garrafa dentro do meu guarda-roupa e a idolatro toda noite antes de dormir! – Moira me disse mais irritada
Eu apertei os lábios e refleti que isso não ia chegar a lugar algum.
- Ta bom, eu conto, mas pelo menos eu posso colocar minha comida – eu sinalizei para fila que tinha crescido consideravelmente durante nossa discussãozinha.
Moira e Celina assentiram enquanto caminhavam pra colocar suas comidas assim como eu. Depois de colocar nossas comidas, eu procurei os meninos que estavam sentados em uma mesa no canto esquerdo do salão. Caminhei ate a mesa e sentei. Dois segundos depois as meninas se sentaram do meu lado.
- Pronto. Agora conta. – Jeremi falou todo animado.
Respirei fundo e expliquei tudo o que tinha acontecido.
amei! e adorei esse Jeremi :D
ResponderExcluirGostei dos amigos dela !! Morri de rir aqui com algumas partes !!kkk...
ResponderExcluirAnsiosa pelo que vai acontecer agora !!!
EU AMEI O LIVRO MAIS BEM QUE PODERIAM TADUZIR LOGO E COLOCAREM EM UM SITE PARA PODERMOS BAIXAR NÉ?
ResponderExcluirAI EU SERIA COMPLETAMENTE FELIZ!