Tudo havia mudado desde a ultima vez que eu o vi. Agora eu ia encará-lo novamente, mas de uma forma diferente. Eu me perguntava diariamente como aquilo havia acontecido e o por que. Tudo que via ou ouvia parecia fazer mais sentido agora, mas mesmo assim não fazia com que parecesse normal. Normal seria a ultima coisa que eu empregaria aqui.
- E aí, preparada?! – Celina me perguntou com preocupação.
No pouco tempo em que eu morava aqui Celina e Moira eram as únicas que não me encaravam com estranhamento. Eu ainda tinha um pouco de dificuldade de olhá-la sem me sentir confortável. Celina era o tipo de menina que irradiava ternura, com aquelas covinhas e seus olhos que sempre parecia sorrir me.
- Super! Eu e minha perna quebrada não víamos a hora. - eu disso em tom irônico.
Desde que eu sofri o acidente, ou melhor, minha primeira tentativa de assassinato, tudo parecia estar meio fora do lugar. Principalmente minha perna que tinha se quebrado em duas partes, pra ser mais exata.
- Pára de fazer drama, Claire! Já faz dois meses que sua perna sarou.
Essa era a Moira, sempre doce e compreensível. Eu a olhei por um momento com cara de espanto e fingindo me ofendida. Ela rolou os olhos.
- Se você ta dizendo – eu levantei as duas mãos teatralmente.
Celina desconsiderou todo o nosso teatrinho e continuou:
- Claire, eu não acreditei quando a Moira me disse que você tinha pegado o Lucius pro seu teste.
Nem eu - eu acrescentei mentalmente.
- É - eu disse com pouco animo.
Eu pensei sobre tudo que eu tinha passado e como tudo tinha acontecido, e irrefutavelmente Lucius sempre esteve envolvido. Agora, novamente, eu teria que encará-lo. E pior, eu teria que lutar com ele.
- Ta aí uma coisa que me faz acordar às oito horas da manha. – Moira me disse com um sorriso malicioso no rosto.
Ela tinha passado à semana inteira falando como seria terrível eu encarar o Lucius e como isso seria divertido. Mesmo que ela não pudesse estar lá pra ver.
Eu semicerrei os olhos. Que maravilha! Humilhação social era tudo o que eu mais queria pro café da manha.
- Talvez não seja tão ruim assim – eu disse. Mesmo sabendo que isso nunca seria verdade.
Moira riu:
- A ta. Vai nessa, vai.
- É melhor não subestimar o Lucius, Claire - Celina tentou suavizar as palavras da Moira.
Normalmente eu brincaria com elas pelo puto ‘apoio e credibilidade’ que elas estavam me dando, mas nesse caso eu sabia que elas estavam certas.
Nós andamos mais um pouco até o fim do corredor estreito e paramos em frente à porta do ginásio. A porta dupla parecia ser a única coisa aqui que não era do século XIII, pra falar a verdade o ginásio era a única parte do Instituto que não foi reformado e sim construído, com o objetivo de treinar os novos membros do Instituto.
Eu olhei novamente as portas. Assim como eu, as meninas ficaram em silêncio. Elas sabiam da responsabilidade que havia atrás dessa porta e como isso afetaria minha vida por aqui em diante. Eu respirei profundamente tentado afastar os maus pensamentos e relaxar. Bem, não deu muito certo.
Celina tocou meu braço suavemente tentado chamar minha atenção. Demorou alguns segundos até eu voltar à realidade e me virar para ela.
Ela me abraçou rapidamente e pegou em minhas mãos pra me reconfortar. Eu pude sentir através das suas mãos geladas e molhadas que ela estava tão preocupada e ansiosa como eu.
- Boa sorte, Claire. – ela disse ainda segurando minhas mãos.
- Obrigada, Céu. – a encarei mais um pouco e soltei minhas mãos das dela. Me virei pra Moira e observei como ela tentava parecer despreocupada e segura de si. E então ela me disse só o que ela poderia me dizer.
- Que sorte!? Sorte é para os fracos. Entra lá e acaba com ele.
E eu só fiz o que eu poderia fazer, eu ri.
Se fosse assim tão fácil.
Eu a abracei mesmo sabendo que ela reprovava o gesto. Como sempre eu estava exagerando tudo. Não era como se essa situação fosse vida ou morte.
Era só um teste afinal – eu tentei me acalmar. Então, porque eu me sentia tão desamparada?
Soltei-me dos braços de Moira e abri a porta dupla lentamente. E lá estava a resposta da minha pergunta. Lucius.
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