sábado, 15 de maio de 2010

Capítulo 12 - *Ressentimento:

As próximas aulas foram calmas. Se é que Moira e Celina fazendo sinais e sempre chamando minha atenção poderia ser considerado calmo, mas eu apenas me resignei a prestar atenção na aula. No refeitório as coisas não foram bem assim.

- E aí? O que a Minogue queria com você? – Moira me perguntou enquanto dava uma garfada na sua salada de frutas.

- A Minogue?! – Jeremi me perguntou um pouco sério.

- É. A Minogue. Você acredita que ela brigou com a Claire por causa do Lucius, ainda a chamou pra conversar no final da aula!? – Celina respondeu rapidamente.

Foi à vez de Sam se manifestar – Brigou com a Luiza?

- Ta aí uma briga que eu queria ver. Você tava usando aquele biquíni azul? – Jeremi perguntou realmente interessado.

- Não! – eu quase gritei para ele.

-Que pena.

-Ta. Ta, mas não é isso que interessa. O que ela disse? Vai, fala! – Moira disse um pouco agitada.

- Eu não vou falar é mais nada! – eu pronunciei irritada – Se for pra vocês continuarem a aumentar a história desse jeito.

- Talvez nós aumentamos a história um pouquinho, mas também não é pra tanto Claire – Celina me disse tentando me convencer. Mas eu sabia que ia perder essa, então contei tudo de uma vez.

- Ela veio me pedir desculpa pelo jeito que tinha me tratado.

Celina abriu um pouco a boca, Moira sibilou um “sério?” pra mim, Sam parecia não entender nada e Jeremi ficou um pouco pensativo.

- Pra ela te pedir desculpa é porque a coisa foi séria mesmo – Sam me disse mesmo sem entender nada. Ele era um dos mais aplicados dos principados e sabia bem como cada grupo agia, principalmente os executadores.

- Concordo plenamente com o Sam. Mesmo achando que aquela vaca deveria era apanhar em vez de simplesmente pedir ‘desculpa’ pra você – Moira concluiu.

- Mas não foi bem uma desculpa... – eu disse, deixando todos suspensos por um momento.

-Claire, ou ela te pediu desculpas ou não, amiga! – Celina disse.
- Pra falar a verdade ela só me pediu desculpas porque o Lucius pediu pra ela. – eu olhei para cada um esperando suas reações. Para minha surpresa o primeiro a falar foi o Jeremi.

- O Lucius pediu pra ela? – ele perguntou meio incrédulo. Eu simplesmente assenti.

-O Lucius? – Celina completou.

- Nossa amiga você ta tendo uma moral com o Lucius. Primeiro conversinha sozinhos no refeitório, depois pedido de desculpas. Sei não, en! – Moira disse ironicamente.

- Super moral, você não sabe como! – eu retruquei.

- Dessa vez eu vou ter que concordar com a Moira – nesse momento Moira abriu os braços e gesticulou para Sam, agradecida – O Lucius não faz isso por qualquer um.

Sam me olhou, assim como todos, esperando uma resposta. Mas honestamente eu não sabia o que responder. Eu sabia que Lucius sentia ou senti algo por mim, mas, depois de tudo que ele disse para mim, eu não sabia se o seu ódio e magoa tinha abafado esse sentimento. Então preferi ficar calada em vez dizer algo, dei de ombros e continuei comendo. Todos pareceram fazer o mesmo e começaram a pensar, cada um na sua, sobre o que tinha acontecido. Conversamos pouco depois disso, mas o tempo também era curto até a próxima aula. Não demoramos muito até cada um ir para sua aula. Moira, Celina e Sam foram para aula experimental da Sofia enquanto eu e Jeremi fomos para aula do Lucius.

- Você não me contou dessa briga com a Minogue. – Jeremi protestou parecendo um pouco aborrecido.

- Eu não tive muito tempo pra isso, ne Jeremi! – eu retruquei. Ele deu de ombros, fazendo charminho.

- E o Lucius ficou muito irritado depois que eu fui embora? – ele perguntou.

- Como você sabe?

- Meio previsível depois que ele nos olhou daquele jeito na quadra e andou todo carrancudo. – Jeremi fez uma imitação idêntica do Lucius irritado e eu ri abertamente – Mas eu não o culpo, sabe? Eu crio esse efeito nas pessoas, principalmente nas meninas... É atração demais!

Ele me olhou de soslaio, observando minha reação. Eu apenas ria, muito. Ele continuou a disparar contra mim.

-Mas parece que nem todo mundo nota isso... – ele me olhou e fez biquinho.

Eu mostrei a língua para ele, infantilmente. O empurrei com meu ombro, mas ele se desequilibrou e quase caiu. Eu ri ainda mais. Ele me olhou maliciosamente, soltou sua mochila no chão e sibilou para mim: “corre”. Eu não pensei duas vezes e sai correndo pelo corredor, mas ele me alcançou antes da porta dupla. Eu gritava e ria enquanto ele me abraçava por trás e fazia cócegas, eu já tinha perdido a minha mochila no processo. Ele nos empurrou pela porta dupla e nosso riso ressoou pela quadra. Eu ri ainda mais vendo a reação de todos na quadra, todos nos olhava como se fossemos uma aberração. Eu simplesmente dei de ombros. Jeremi parou suas cócegas e me abraçou, ainda por trás, e beijou minha bochecha. Eu olhei de esguelha e o reprovei com o olhar. Ele riu mais, mas tentou se conter quando alguém apareceu na nossa frente. Eu olhei para frente ainda rindo, porém o sorriso foi se desvencilhando pouco a pouco vendo a expressão furiosa de Lucius.

- Eu vou pegar nossas mochilas pra gente trocar de roupa... Juntos – ele sussurrou no meu ouvido.

Ele me soltou e em reflexo eu olhei para ele. Jeremi bateu continência para Lucius e simplesmente olhou para mim e piscou. Eu não o vi sair pela porta dupla porque eu tinha que ver a reação de Lucius. Ele tinha os braços cruzados sobre o peito, sua feição fechada e dura, uma de suas mãos estava fechada em punhos, mas ele ainda encarava a porta, furiosamente, e não para mim. E inegavelmente eu tive que admitir para mim mesma que ele ficava até mais bonito assim. Percebendo que eu o olhava, ele olhou para mim e ficamos nos olhando por um momento. Eu desviei meu olhar do dele, me lembrando como Jeremi o havia enfrentado indiretamente, tentando segurar o riso para não rir na cara de Lucius e da cara dele. Eu pensei que ele jogaria na minha cara todo o que ele tinha me dito ontem, mas ele simplesmente me disse:

- Chegando atrasada... De novo. – ele não gritou ou me segurou apenas me disse calmamente enquanto me avaliava.

Eu também cruzei meus braços e encarava a parede de vidro, sem olhar para ele. Eu ainda sentia raiva, ódio pelo o que tinha ocorrido ontem, ele me fez me sentir impotente, ignorante e o pior, culpada. Mas eu não deixaria isso transparecer para ele. Eu o olhei ainda mais irritada.

- Eu tinha coisas mais importantes pra fazer. – descruzei os braços e esperei que ele falasse algo.

Ele se resignou a ficar me olhando, seus olhos entrecerrados e seu maxilar trincado. Ele abriu a boca para falar algo, mas foi interrompido pelo som da porta dupla se abrindo. Eu olhei para atrás e vi Jeremi segurando, desajeitado, as duas mochilas. Ele chegou perto de mim e me entregou minha mochila. Ele olhou de mim para Lucius e depois sorriu, mas foi um sorriso malicioso e maldoso, contendo palavras não ditas. Eu não precisei olhar para Lucius para saber que ele não havia gostado. Eu estranhei o fato de Jeremi ter feito isso, mas não comentei nada.

- O que você carrega nessa mochila? – Jeremi me perguntou um pouco zombeteiro, mas ele não me deixou responder – Vem trocar de roupa logo menina.

Ele segurou minha mão e me puxou para ele. Sua mão circundou minha cintura enquanto a outra segurava sua mochila. Eu fiz o mesmo, abracei Jeremi pela cintura, indo em direção ao banheiro, sem pensar na reação do Lucius depois.



- Você ta me machucando! – eu grite para Lucius enquanto massageava o meu braço.

Depois de trocar de roupa e voltar ao ginásio, nós começamos a nos aquecer. Foram praticamente uma hora de aquecimento até Lucius se entediar de nos ver correndo e começar o treino. Primeiro treinamos individualmente, cada um em seu espaço enquanto Lucius fazia suas manobras incansavelmente e nós o copiávamos. Depois cada um treinou com seu boneco de boxe enquanto Lucius vociferava para cada um como nós estávamos ruins ou quanto melhor podíamos fazer. Seu mau humor aumentou considerável e eu me amaldiçoei por tê-lo provocado. O treino foi exaustivo e forçado, as horas passaram lentamente, mas eu ainda não tinha chegado a pior parte. Agora cada um estava lutando com seu parceiro e eu, que ainda não tinha nenhum, estava lutando com Lucius.

- Então se esforça mais! – ele disse entre os dentes, cada palavra dita com ódio.

As palavras me lembraram o que ele tinha me dito antes, me enchendo de raiva e me fortalecendo. Ele me chutou novamente no braço, mas dessa vez eu me desvencilhei. Eu o chutei no lado direito, mas ele impediu com seu braço. Sem perder tempo eu tentei socá-lo, mas ele segurou meu braço e começou a me puxar para ele. Eu tentei sair do golpe rodopiando em torno de mim mesma, mas ele me pegou pela cintura no meio do processo e me segurou de costas para ele, com os meus braços acima da minha cabeça e seu braço, me apertando, sobre minha cintura. Se eu não conseguia de um jeito, eu conseguiria de outro. Eu esfreguei lentamente minha cintura contra a sua, de forma até um pouco sensual. Lucius pareceu surpreso com o gesto e se distraiu. Eu liberei uma das minhas mãos da sua e acertei seu tórax com meu cotovelo fortemente. Ele se encolheu momentaneamente, eu aproveitei a situação e lhe apliquei uma rasteira. Inevitavelmente ele caiu. Todos olharam imediatamente. Eu sorri para ele, provocante.

- Da próxima vez, Lucius, não preste atenção nos meus quadris. É mais seguro. – eu disse com o mesmo sorriso no rosto, relembrando o que ele já tinha me dito um dia.

Eu ofereci minha mão para ele se levantar, mas ele dispensou com um olhar feroz. Ele se levantou rapidamente e dispensou a turma em um grito. Todos pareceram surpresos e chocados com que havia acabado de acontecer, mas estavam cansados demais para perguntar ou especular alguma coisa. O único que chegou perto foi o Jeremi. Ele observou momentaneamente Lucius pegando suas coisas e saindo pelo vão que dava para as piscinas, antes de se virar para mim.

- O que você fez com ele? – ele perguntou curioso apontando para onde Lucius tinha acabado de sair.

- O que ele merecia – eu continuei sem dar tempo de Jeremi perguntar mais – Agora eu vou pro meu dormitório tomar um banho e descansar.

- O seu dormitório que é o mesmo que o Lucius, onde ele acabou de ir. – Jeremi tentou me alertar.

- Eu já enfrentei coisas piores, não precisa se preocupar. – Eu me inclinei para ele e beijei sua bochecha.

- Mas você vai vim jantar ou não?

- Felizmente eu tenho uma cozinha do lado do meu quarto, então não.

- Você que sabe – Jeremi deu de ombros – Mas depois não reclama se você acordar com a Moira de madrugada te perguntando o que aconteceu aqui.

Ele se despediu depois disso e saiu. Eu fui para o quarto enfrentar mais um dia de briga com o Lucius.

O dormitório estava praticamente todo escuro, tirando o fecho de luz que saía em baixo da porta do banheiro. Lucius estava tomando banho e pelo o vapor que estava saindo pela porta, eu poderia dizer que ele esteve muito tempo ali. Eu estava louca para tomar um banho, mas eu me negava a bater na porta e pedir pro Lucius se apressar. Eu já estava toda dolorida e machucada devido ao treino, eu não queria piorar isso. Em vez disso eu fui até a geladeira e peguei um iogurte de morango. Depois fui até o meu quarto e peguei um livro que a Celina havia me emprestado. Sentei no sofá preto da sala e comecei a folhear o livro enquanto tomava meu iogurte. Três metros acima do céu. Eu já estava na metade do livro, mas já era apaixonada pela maneira que o autor escrevia. De forma diferente ele descrevia a sensação e os sentimentos dos personagens sem usar palavras diretas. Além do mais havia Step. Ele era todo sarcástico e bad boy e eu amava isso nele. Já a Babi era um pouco sem sal, sempre resistindo a suas investidas e se fazendo de pura. Mas eu entendia isso nela, se ela não fosse assim talvez ele nunca se apaixonaria por ela. Talvez se ele não fosse assim, eu não teria me apaixonado por ele. O temperamento forte sempre fez parte do Lucius, sempre foi assim. Mesmo ele exagerando suas reações e críticas, eu não poderia negar que era, por parte, de ele ser assim que eu o amava. Mas o amor é assim, mesmo com os defeitos, nós amamos e às vezes, nós amamos até os defeitos. A porta do banheiro se abriu, mas eu não tive coragem de olhá-lo. Eu vi sua sombra andar rapidamente até seu quarto e depois ouvi a porta se fechar.
Mas às vezes só o amor não basta, precisa de convívio, confiança e acima de tudo, entrega, por ambas as partes. Se dependesse disso, eu nunca teria Lucius para mim. Não se continuássemos agindo assim.

Toc-Toc – soou a porta ao meu lado. A imagem de Moira se formou rapidamente em minha mente, mas para minha surpresa e desgosto não era ela.

- Luisa? O que você ta fazendo aqui? – eu franzi minha testa diante ao fato de Luisa estar no meu dormitório.

- Você não vai me convidar para entrar? – ela entrou mesmo sem eu falar nada – Talvez você seja mais mal educada do que eu imaginava. Onde esta o Lucius?

Eu voltei a sentar no sofá e tomar o meu iogurte – Ta no quarto.

Ela começou a andar em direção ao quarto de Lucius como se isso fizesse parte da sua rotina.

- Ele ta trocando de roupa Luisa – meu tom de voz aumentou um pouco e eu pude ver um meio sorriso se formar no rosto dela.

- Nada que eu não tenha visto antes – eu não soube se ela estava falando a verdade ou só estava me provocando.

Eu fingi não ligar e peguei meu livro tentando ler. Luisa não se incomodou com a indireta e continuou a conversar.

- Então me fala uma coisa Claire... – eu baixei meu livro e prestei atenção no que ela falava – Como você derrubou o Lucius na quadra?

Eu lancei um olhar interrogativo para ela.

- No refeitório só se fala nisso – ela deu de ombros - Não que eu não confio no seu pontencial... Mentira, eu não confio no seu potencial. Então como você o derrubou?

Eu pude notar um tom curioso em sua voz. Eu pensei em não responder, mas eu tinha uma resposta muito boa para não responder.

- Muito jogo de cintura – ela me olhou confusa e eu ri da cara dela – Muito treino de manha, na cozinha, em cima da pia. Depois você pergunta pro Lucius que ele te explica melhor.

Eu não sei se ela lembrou o que eu tinha dito para ela no outro dia, mas ela não deu sinal de se lembrar. Ela sentou ao meu lado, em cima do braço do sofá e olhou para porta de Lucius, só assim eu notei sua roupa. Ela usava botas pretas de cano alto por cima de sua calça de montaria, também preta. Usava uma blusa toda bordada com paetês pratas. Seu cabelo estava solto, usava pouco blache e pouca sombra nos olhos, mas em sua boca havia um batom bem vermelho. Ela estava arrumada demais para ficar só no Instituto.

- Mas aonde vocês, você e o Lucius, vão? – eu perguntei me fazendo de desinteressada, mas não adiantou muito.

Luisa arqueou uma sobrancelha e sorriu para mim – Onde eu trabalho.

- Onde você trabalha!?Eu não sabia que executadores trabalhavam. – eu respondi, mostrando minha duvida.

- Sabe Claire, diferente de você que é sustentada pelo o Instituto, nós, os executadores, precisamos pagar nossas contas. E no meu caso minha profissão me ajuda muito como executadora. – ela disse toda orgulhosa de si.

- E onde você trabalha? – eu perguntei um pouco hesitante com medo da resposta.

- Em uma boate de stripper – ela sorriu mais ainda satisfeita com minha reação.

Em uma boate de stripper? Você vai levar o meu Lucius em uma boate de stripper? Espera aí que eu vou ali pegar uma faca... Se acalma Claire. Respira. Inspira. Respira. Inspira. Eu controlei meu nervosismo, pela décima vez no dia e me fingi tão fria como antes.

- Mais isso explica muita coisa – ela arqueou uma sobrancelha surpresa com meu comentário – Isso quer dizer que você é literalmente uma vadia.

Pela primeira vez, desde que eu conheci a Minogue, ela pareceu perder a paciência. E para piorar eu não consegui evitar rir. Ela se levantou subitamente do sofá, mas, Lucius, parecendo prever o que tinha acabado de acontecer aqui, saiu do quarto. Nós duas olhamos em sua direção e... Uau!
Ele estava usando um blazer de veludo azul marinho, mas que não estava fechado. Em baixo do blazer, uma camiseta branca com gola disfarçadamente em V. Usava calça jeans azul bem escura e um sapatênis branco com detalhes marrons. Seus olhos se destacaram mais por causa do blazer e suas bochechas estavam um pouco rosadas devido ao banho quente. Eu me senti encolher no sofá. Ele estava lindo de mais, mas ele estava assim por causa da Minogue.

- É impressão minha ou você está mais arrumado que o normal? – Luisa disparou para Lucius, que pareceu um pouco constrangido com a situação – Não precisa responder, melhor pra mim!

Luisa foi em sua direção e o analisou de cima a baixo, mas Lucius não olhava para ela e sim para mim. Seus olhos estavam cravados em mim, sérios, sem hesitar. Fui eu que baixei meus olhos ao chão, triste e ferida com o que eu via. Eu não tinha o direito de me sentir assim, se ele quisesse ficar com a Luisa, ele tinha todo o direito de fazer isso. Mas eu não mandava nos meus sentimentos. E como sempre Lucius levava a melhor sobre mim e também levava uma parte de mim.

- É melhor não esperar pela gente Claire – Luisa disse já com suas mãos segurando um braço do Lucius – A gente vai ter muita coisa pra conversar essa noite.

Eu ri debochadamente do comentário dela, mas ela não se importou. Também com um homem desses ao lado dela, o mundo poderia estar acabando que eu não notaria. Ela se despediu rapidamente e puxou Lucius em direção a porta. Lucius não disse nada, mas seus olhos estavam em mim até o último momento antes de desaparecer atrás da porta, me dizendo “Eu te avisei Claire”.
Eu me levantei do sofá com mais raiva de mim do que do Lucius e lancei o livro na porta. Por um momento eu olhei a porta, pensando em ir lá e falar umas boas pro casalzinho, mas eu pensei melhor. Eu fui até a porta e peguei o livro, ele estava um pouco amassado na lateral. Eu balancei a cabeça em negação ao o que eu tinha acabado de fazer, se eu fosse bater em alguém seria na Luisa ou no Lucius e não no livro. Fui para o meu quarto pegar minha toalha e tomar banho. E depois ir dormir, porque era a única coisa que eu poderia fazer agora.




Seus olhos azuis me olhavam fixamente. Suas mãos desenhavam o contorno do meu rosto e seus olhos me pediam, não, rogavam por mim. Eu não estava entendendo nada, mas ele precisava que eu entendesse. Ele beijou ternamente meus lábios, tirou uma parte de mim. Daqui para frente não haveria mais volta. Ele roçou seus lábios novamente aos meus, como uma pequena prece, um pedido delicado para que eu me entregasse a ele.

- Você tem fé em mim Claire? – Suas mãos ainda seguravam meu rosto carinhosamente e seus olhos transmitiam toda sinceridade e dor que eu nunca tinha visto nele – Você acredita em mim?

- Eu acredito. – eu disse em um sussurro, as palavras ditas em tom baixo refletiam sua dor e a minha fé nele, em nós.

Eu ainda encarava seus olhos azuis. Não. Não eram azuis. Suas pupilas se tornaram mais negras e a íris ficaram vermelhas, rubras. As mãos ao me redor tornaram se garras, unhas grandes e afiadas cravadas na minha pele, cortando, me ferindo, sangrando.

- Claire – as palavras se dissiparam no ar.

Eu virei o meu rosto em direção onde as palavras foram ditas. Um flash. Um barulho alto diante de mim. Uma luz cegante. Então...


- AAAAAH! – eu gritei.

Meu peito arfava, minha respiração estava acelerada e meu coração batia descontroladamente. Um pesadelo, só um pesadelo – eu tentei me convencer. Eu me recostei na cabeceira da minha cama e tentei me acalmar. A respiração começou a ficar cada vez mais lenta e regular. Meus sonhos estavam cada vez mais constantes, mas eu nunca tinha tido um pesadelo, não assim. E o que aquilo significava? Ele havia me beijado, como nunca antes eu tinha me lembrado e então não era mais ele. Não me lembro das suas feições, seus traços, apenas de seus olhos. Olhos rubros. Bati meus punhos fechados sobre a cama. Se pelo menos você se esforçasse mais... As palavras vieram a minha cabeça. Se eu me esforçasse... Talvez eu não quisesse saber a verdade. Não se Lucius...

- Lucius – eu sussurrei para mim mesma, me lembrando que ele havia saído com a Minogue.

Ele não havia chegado ainda. Ou talvez sim. Eu não tinha o ouvido chegar ou talvez eu tivesse dormido minutos antes de ele chegar. Eu não sabia. Aquela curiosidade foi crescendo ate se tornar sufocante. Talvez ele estivesse se divertindo com a Minogue – eu pensei amargamente – ou talvez estivesse dormindo no quarto ao lado. Talvez não estivesse sozinho... Talvez... Talvez ela estivesse junto a ele, na cama... Eu me levantei da cama antes de terminar meu pensamento. Eu usava uma camisola branca de algodão com desenho do Snoop. Eu hesitei por um instante, então lembrei da tulipa na gaveta da minha escrivaninha. Coloquei o primeiro sapato que eu vi e fui ate a gaveta. Abri e olhei a tulipa negra que, mesmo no escuro, se destacava com o fundo branco da escrivaninha. Peguei a em minhas mãos e notei que as pétalas murchavam. Eu o amo, até os seus defeitos. E eu precisava saber a verdade. Coloquei a flor novamente em seu lugar, fechei a gaveta e fui ao corredor. A porta do quarto de Lucius não estava totalmente fechada, estava entreaberta, mas eu não ouvia nada e não via nada. Eu apalpei as paredes até chegar à porta, a empurrei lentamente sem fazer barulho e entrei em seu quarto. Um medo me invadiu gradualmente. Eu não deveria estar aqui. Mas eu ainda não podia ver Lucius ou a sua cama. Havia uma imensa estante de livros que dividia o quarto. A curiosidade foi crescendo dentro de mim. Eu já estava aqui, então não me custava nada dar uma olhada. Eu atravessei o quarto e passei a estante. E lá estava ele, dormindo profundamente em sua cama. Ele estava deitado de bruços, seus braços espalhados pela cama, mesmo no escuro eu podia ver o contorno de suas costas desnudas, mas apenas o contorno, não suas cicatrizes. Ele usava uma calça,e como eu imaginava, deveria ser de algodão. Eu sorri diante da visão, mas ainda me sentia estranhamente agoniada. Eu precisava ver seu rosto.
Eu andei hesitante ate a beirada de sua cama e enfim pude ver seu rosto encostado no travesseiro. No escuro eu não podia ver nitidamente. Então uma necessidade se instalou em mim. Eu precisava tocá-lo, senti-lo sob minha pele. Eu hesitei um pouco diante a sua visão, mas isso não me impediu de deitar a seu lado. A cama se mexeu levemente, minhas pernas se alinharam à dele, deitada de lado com o meu rosto, o encarando, encostado em seu travesseiro. Não pensei em meus atos, apenas segui meus instintos. Minhas mãos ganharam vontade própria e no próximo instante já estavam sobre ele. Eu passei meus dedos sobre o seu cabelo curto e áspero. A simples sensação de tocá-lo me incentivou. Mesmo assim minha mão tremulava. Eu desci minhas mãos até a sua nuca, suavemente, desenhando cada detalhe em minha mente. Depois subi ate chegar a sua sobrancelha, as delineei com meus dedos, uma por uma. A esquerda havia uma pequena falha, uma pequena cicatriz. Desci meus dedos e acariciei seu rosto enquanto ele dormia e eu sonhava acordada. Sublinhei seu lábio inferior lentamente, sentindo tudo que eu poderia sentir. Eu queria beijá-lo. Eu tinha que beijá-lo. Então eu o beijei, fechei meus olhos e o beijei.
Eu rocei meus lábios ao dele, tentando não aprofundar, não acordá-lo. Mas então as lembranças do seu beijo em meu sonho vieram à mente e como se entendesse minha necessidade, ele abriu seus lábios aos meus. Eu o beijei um pouco mais fugaz, em instinto o puxei um pouco para mim. Então sua língua roçou na minha, eu senti um pequeno calafrio em minhas costas. Ele estava acordado. Eu não podia enfrentá-lo, não assim depois daquele sonho, não agora. Eu soltei minhas mãos de seu rosto e comecei a me levantar, mas suas mãos me impediram. Ele segurou um dos meus pulsos e em seguida o outro. Eu arfei diante o susto. Ele estava mais acordado do que eu imaginava. Pressionou meus pulsos a cama, alinhados ao meu corpo, pressionou seu corpo contra o meu e eu pude sentir todo o seu peso. Ele não disse nada, apenas me olhava. Em retorno eu também não disse nada. Ele aproximou seu rosto do meu, encarando meus estranhos olhos. Ele apertou meus pulsos novamente e eu arfei. Então ele encarou meus lábios intensamente, eu pude ver sua boca se abrir também, respondendo ao que via. Naquele momento eu só poderia pensar em uma coisa. Me beija.

- Sai do meu quarto! AGORA! – Lucius vociferou para mim.

Eu senti uma dor imensa dentro de mim. Eu o amava tanto e não poderia negar isso. Mas ele não parecia se importar. Ele poderia me bater que essas palavras ainda sim me machucariam ainda mais. Meus olhos se encheram de magoa e eu senti uma lagrima escorrer. Não. Não. Eu me negava chorar na frente dele. Eu saí da sua cama e fui para minha cama. Mas essa noite eu não conseguiria dormir.


******




- Que olheiras são essas Claire? Ficando acordada até mais tarde? – Moira me disse maliciosamente.

Eu ri um sorriso forçado – Eu não dormi muito bem essa noite.

Moira percebeu meu desanimo e não comentou mais nada. Antes que ela ou a Celina tentassem perguntar mais alguma coisa, eu mudei de assunto.

- Então cadê a Minogue?

Era a nossa última aula de manhã e a Luisa ainda não tinha chegado. Eu poderia imaginar o porquê, mas não diria a ninguém. Eu sou do tipo que sofre sozinha, calada. A porta da sala se abriu e a Luisa entrou. Ela tinha os cabelos amarrados, usava um óculos de sol gigante no rosto e em uma de suas mãos havia uma sacola.

- Acabou de chegar – Moira respondeu espontaneamente.

Nós nos sentamos e ela puxou uma mesa para frente, bem no centro para que todos nos víssemos. Ela espalhou os objetos sobre a mesa: um vidro com água, uma cruz, uma bíblia e uma espada.

- Bem eu trouxe esses objetos, que devem ser comuns para você – ela começou.

- E os óculos também fazem parte – e esse era o Jeremi fazendo graça.

- Não. Isso – ela apontou para os óculos – é um acidente de trabalho, que pelo jeito você, iniciante, vai demorar a entender.

Todos riram instantaneamente, mas Luisa continuou sem dar tempo para mais piadas. Ela apontou para cada objeto enquanto identificava cada um.

- Eu trouxe água benta, uma cruz, uma bíblia e uma espada. Todos sabem que cada objeto tem um significado importante para se matar um demônio. Água benta não mata, mas pode queimar a pele de um. Uma cruz, se não estiver ungida e abençoada, não tem função nenhuma, mas ao contrario pode machucar seu oponente. A bíblia tem um papel mais importante, expulsar espectros ou exorcizar um humano dominado, que vocês devem se lembrar bem em ‘O exorcista’. Um pouco realista, mas não chega aos pés de um verdadeiro exorcismo. E o mais importante: a espada.

Ela levantou agilmente e encostou em sua mão, mostrando-a.

- A espada é um dos mais ‘novos’ instrumentos, utilizados na Idade Média e reutilizado atualmente. Mas não fomos nós que começamos essa moda. O livro de Enoque, que a Helena já deve ter citados para vocês, não mostra apenas a origem dos anjos caídos na terra ou sua história com a humanidade. Também mostra como matá-los. Com medo que o Livro caísse em maus erradas, o livro foi concedido ao alto conselho, constituídos pelos mais antigos anjos. Não se sabe muito como ou quando, mas o livro foi roubado e entregue a Corte Negra. Alguns suspeitam que foram os humanos que roubaram, mas a hipótese mais forte é que os anjos, as próprias Dominações, por motivos ocultos, roubaram o livro e deram a Corte. Depois disso foi apenas questão de raciocínio. Se os anjos caídos já foram anjos e a única forma de matá-los era a decapitação, não seria muito diferente para um anjo. Outra coisa que o livro revelava era que a força de uma dominação estava concentrada em um pequeno músculo involuntário, o coração. As coisas pioraram um pouco mais depois disso, muitos anjos foram mortos por decapitação e principalmente com seus corações arrancados. Em alguns lugares acreditasse que ao comer o coração de uma Dominação se ganha podres inimagináveis. Mais ta aí um mito que eu não estou disposta a comprovar.

Luisa parou por um momento para observar a reação de cada um, todos estavam suspensos e curiosos. Ela, então, continuou.

- Da mesma forma que se mata um anjo caído se mata um vampiro. Como eu disse na outra aula a cinco tipos de criaturas que se originaram dos anjos, o vampiro é um deles. Diferentes dos vampiros de hoje em dia, que se transformam com transfusão de sangue entre o humano e o vampiro, os vampiros se originaram de uma forma um pouco diferente. Não foi por Caim ter matado seu irmão ou por ser sétimo filho entre seis mulheres, é sim um filho entre um anjo caído e um humano. Muitos anjos caíram devido ao amor que referiam ter por um humano, amaldiçoados por sua escolha, eles eram destinados a terra e os humanos que se entregassem a um anjo caído, também eram amaldiçoados. Nesse caso, a humana que tivesse um filho com um anjo caído estaria destinada a morrer no parto, enquanto isso seu filho andaria apenas nas trevas, se alimentaria do sangue de seus iguais, sua pele seria tão branca como um morto - vivo. Em compensação eles herdariam a força do papai. Seriam tão rápidos e fortes como eles, eram imortais, e para melhorar, com o passar dos anos desenvolveram poderes que poderiam subjugar um humano facilmente, apenas com a força da mente. Essas criaturas se tornaram até mais perigosas que a própria Corte Negra, mas diferentes deles, o Alto Conselho fez um acordo com os vampiros de neutralidade, em que um não atacaria o outro. Só em alguns casos, é claro, quando um vampiro ou anjo desobedece a esse tratado, nós executadores entramos em ação.

Ela sorriu amistosamente e continuou.

- Agora matar um demônio é um pouco mais complicado, mas isso eu vou falar só nas próximas aulas. Agora vocês estão dispensados. – Luisa começou a devolver seus objetos à sacola enquanto os alunos foram se levantando gradualmente.

Eu só queria sair dali e não ver mais sua cara. Queria que o dia passasse rapidamente e que eu pudesse deitar em minha cama e dessa vez dormir.



Eu mal consegui comer no refeitório, também não conversei muito. Minha mente estava vagando entre o que eu tinha sonhado ontem e o que ocorreu comigo e com Lucius. O pior foi enfrentar uma aula dupla com Jace e Lucius a tarde. Mas Lucius tinha preparado uma surpresinha pra mim no final do treino.

- Aonde você vai? – Lucius me inquiriu.

- Eu vou pro meu quarto – eu apontei para o lado das piscinas, fazendo menção ao dormitório.

- Treino extra hoje – ele me explicou.

- Sério? – eu o olhei com os braços cruzados e vi sua expressão dura – Eu to cansada demais pra isso.

Eu dei as costas para ele e comecei a andar em direção ao vão na parede de vidro, mas em segundos ele já estava na minha frente.

- Eu não estou brincando Claire – ele soou ameaçador.

- Nem eu – respondi sem hesitar.

Eu tentei passá-lo, mas ele me impediu pondo seu corpo em frente ao meu.

- Saí da minha frente Lucius – eu disse ainda um pouco calma, mas ele não se movei – Saí!

Eu bati em seus ombros com minhas mãos espalmadas. Ele riu da minha tentativa. Isso só me fez piorar.

- Saí! Saí! SAÍ! – eu ia bater novamente em seu ombro, mas ele segurou meu pulso.

Eu o encarei, com raiva, ódio, magoa – Eu te odeio Lucius.

Eu soletrei cada palavra. Ele apenas sorriu ainda mais, me provocando.

- Me odeia?! – ele inclinou sua cabeça em minha direção, se aproximando lentamente, me dando tempo de reagir.

Então eu o fiz. Virei minha cabeça em outra direção, mas ele não parou. Seu nariz roçou minha pele, do meu maxilar até as têmporas do meu rosto. Ele parou momentaneamente, cheirando minha essência. Eu me senti arrepiar em seu contato, queimar. Meus olhos teimavam em se fechar por um momento. Eu tentei puxar minha mão das suas, mas ele ainda me segurava. Sua mão se espalmou sobre minha cintura, em baixo da minha regata, fazendo minha respiração acelerar. Ele se aproximou da minha orelha e sussurrou:

- Claire você não me odeia. Você pode odiar essa situação, mas definitivamente você não me odeia. – ele ficou ali por um tempo, eu me aproveitei e encostei minha boca próxima a sua orelha.

-Não, eu não te odeio - sussurrei calmamente - Eu me odeio... Por te amar tanto – admitindo a mim mesma a pura verdade. Ele se separou de mim como se eu tivesse o esbofeteado. Eu o encarei por alguns segundos.

- Eu vou pro meu quarto agora – dessa vez ele não disse nada.

Eu dei as costas para ele e fui embora a passos rápidos. Eu sabia, tanto quanto ele, que as coisas não seriam mais como antes.

7 comentários:

  1. Caps gigante, mas mega importante! ;*

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  2. Adorei , o cap !!! teorias e duvidas surgindo ,coisas sendo esclarecidas , to adorando a história , posta mais !!

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  3. Cap fantástico...muitas informações importantes e reveladoras. Qd tem mais??? Que vício!

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  4. Caraca, adorei!! Esse capitulo foi bastante revelador (e como foi!)
    Necessito de mais!

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  5. Posso falar ??! OKEY !

    AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAHHHHHHHHHHHHHHHHHH

    O LUCIUS PEDIO E LEVO !! HAHAAA !!

    E agora Foi confirmado !!"! Luiza "Vadia" Minogue É LITERALMENTE UMA VADIA -putinha corna .. vc escolha- e Wow eu acho que ela ta de oculos Pq levo um Soco do Lucius ;D E amei a parte Final que a Claire fala "Não, eu não te odeio ...Eu me odeio... Por te amar tanto " E dps sai como se nada tivesse acontecido .. tipo ela fala isso como se nao fosse nada e deixo ele la pensando .. Beem como eu disse O LUCIUS PIDIO E LEVO !!

    Indo na comu. falar mais !! ;D

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  6. Kyara qndo tem mais caps!?
    naum consigo parar ler.... seu livro eh muito bom
    a MINOGUE eh muito vaca viu? acaba com ela Claire e o Lucius fofo fikou todo mexido ....
    quero maaaaaaaais....

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  7. meninas quarta/quinta eu posto maaais! ;*

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