sexta-feira, 28 de maio de 2010

Capítulo 15 - *Vingança:

Os meus olhos ainda estavam neles. Em sua aparência fina, a graciosidade nos movimentos, seus olhos que me estudavam minuciosamente, sua postura despreocupada e seu sorriso pretensioso. É. Definitivamente ele era um vampiro. Eu poderia não ter visto muitos, quer dizer, nenhum, mas eu já tinha lido muitos livros da Anne Rice para saber como um se portava, pelo menos era assim que eu imaginava um. Seus olhos voltaram ao meu rosto. Então ficamos nos olhando, esperando quem diria as primeiras palavras. Eu fui mais rápida e perguntei o que martelava na minha cabeça.

- Como você sabe o meu nome? – perguntei meio desconfiada.

- Pelo que eu vejo – ele tentou segurar meu queixo com sua mão, mas eu me esquivei. Ele ergueu sua mão, fingindo estar na defensiva, e riu debochadamente – Seus olhos me dizem muitas coisas e uma delas é que você é uma Blind. E pelo que eu sei o único com esse dom aqui é você, Claire – ele voltou a seu posicionamento normal, se distanciando, um pouco desconfortável com as próximas palavras – Além do Lucius é claro.

Eu o olhei um pouco confusa. Victor já tinha ouvido sobre mim e, consequentemente, sobre Lucius. E algo me dizia que ele sabia muito mais do que isso. Eu continuei a olhá-lo com a mesma atitude, mas isso não o impediu de falar. Ele pareceu se divertir com o meu silêncio, como se fosse uma brecha para expressar suas hipóteses.

- Mas eu presumo que você não seja ele. Eu espero realmente que não, por que eu não me perdoaria por me sentir atraído por ele – ele deu um passo em minha direção, encurtando o espaço entre nós.

Eu bufei diante ao seu atrevimento, mas não me distanciei. Eu não consegui desviar meus olhos dos deles por um momento. Ele parecia ter auto-cofiança de mais, o que me lembrava o Jeremi, mas era de uma forma diferente, mais segura de si, mais madura. Ele me deu mais um olhar avaliativo e franziu sua testa.

- Eu não costumo ser repetitivo, mas você tem certeza de que esta bem?

Pelo seu olhar depreciativo para mim, eu percebi que deveria ter alguma coisa errada. Eu me olhei, tentando encontrar algum sinal de desordem, e percebi algo errado no meu vestido. Várias coisas erradas no meu vestido.

- Merda! – eu disse mais para mim mesma do que para qualquer pessoa que estivesse ao meu lado.

Comecei a bater a mão no meu vestido tentando tirar a sujeira que tinha se impregnado nele. Deveria ter o sujado na hora em que eu ‘sentei’ no chão, mas eu não pensei nisso na hora. Havia pequenas folhas presas ao meu redor e sua barra estava bege e marrom em algumas partes. Eu xinguei mais uma vez. Me importava se eu sujava meu vestido dessa maneira mais pelo que ele significava para mim do que por sua beleza. Foi Sura que me deu e eu não queria estragá-lo de jeito nenhum. A minha tentativa de limpar o vestido foi inútil, pareceu até piorar, espalhando e o sujando mais. Minha raiva aumentou misturando com frustração. Eu comecei a andar em direção a parte inferior do jardim, indo para a porta das piscinas.

- Eu vou trocar de vestido – eu avisei a Victor sem me importar.

Eu ainda olhava meu vestido quando andava, sem olhá-lo mais uma vez ou sem me despedir. Estava irritada demais pra me importar com alguém que eu mal conhecia. Mas ele pereceu pensar diferente.

- Eu vou com você – sua voz soou um pouco distante, mas era forte e decidida.

Isso chamou minha atenção. Eu me virei e olhei para ele. Victor já estava andando para o meu lado, determinado, como se isso fosse à coisa mais natural do mundo. Eu lhe lancei um olhar contestador, ma isso não o afetou.

- Eu acho que não é necessário – eu disse um pouco indignada com sua atitude.

Mesmo ele sendo um vampiro e designado a investigar o Instituto isso não o dá o direito de me seguir. Pelo menos que eu soubesse. Eu coloquei uma mão na cintura tentando o afastar, mas ele ainda estava vindo em minha direção. Ele parou na minha frente, um sibilo de um sorriso apareceu no seu rosto, parecendo indiferente ao meu estado e ate um pouco entediado.

- Eu não sei se você notou o meu tom de voz, mas isso não foi um pedido – ele tirou os olhos de mim e olhou para frente, apontando para o lugar onde eu estava indo – e pelo caminho que você esta indo eu prevejo que você esteja indo para as áreas das piscinas?

Foi mais uma afirmação do que uma indagação, essa última parte, tomando partido do meu silêncio, ele confirmou suas teorias.

- E pelo que eu sei o ataque do espectro foi lá – ele não havia me perguntado, mas mesmo assim eu assenti me lembrando do recente ataque – E também eu não preciso da sua permissão, mas dessa vez eu tenho uma desculpa pra te acompanhar.

Ouch! Essa doeu. O seu sorriso presunçoso estava de volta vendo minha reação. Eu não estava com paciência para discutir e mesmo se eu quisesse, ele não me deu tempo para isso. Ele começou andar a minha frente, em passos rápidos, indo em direção ao dormitório. Sua voz soou alta na noite escura.

- Você não vem? – ele continuou andando se me olhar.

Eu revirei os olhos. Eu estava cansada com pessoas me dando ordens, mas ele não se importaria nem um pouco se eu começasse a falar sobre os meus sentimentos. Sustentei meu vestido com as mãos, para que eu não tropeçasse novamente, e comecei a andar ate ele. Victor pareceu perceber minha dificuldade de andar com aquele vestido gigante e diminuiu seus passos. Eu o alcancei antes de chegar à porta.

- Boa garota! – ele segurou meu braço, sem deixar me afastar dele – Mas só uma pergunta: o seu dormitório não deveria ser por ali? – ele apontou para o outro lado, alem do jardim, onde ficava a parte mais antiga do Instituto.

- Eu costumava dormir ali, mas eu mudei de dormitório – eu tentei puxar meu braço da sua mão, mas ele não me deixou.

Ele ficou confuso por alguns segundos, então riu, percebendo algo que eu não tinha a menor idéia.
- Então quer dizer que você esta no dormitório do Lucius? – ele me lançou um olhar divertido, mas eu não me indignei a responder – Mas o Lucius não perde tempo...

Ele pareceu divagar sobre algo, perdido em seus pensamentos, mas sem deixar de nos levar para o dormitório. Ele abriu a porta lateral da área das piscinas e praticamente me arrastou para dentro. Mas eu ainda tinha uma pergunta para ele.

- E você sabe que o dormitório dele é aqui... Como? – eu sorri sugerindo uma outra coisa, mas ele não se importou.

Ainda me puxando pelo braço, virou seu rosto para mim e sorriu maliciosamente.

- Digamos que eu conheci vários dormitórios aqui, em outra temporada – ele voltou olhar para seu caminho – E o do Lucius era um que eu queria evitar.

Ele não disse mais nada, me deixando imaginar o que eu queria. Então ele já esteve aqui. Mas por quê? Eu tinha certeza que ele não me responderia essa pergunta e também não estava com cabeça para isso. Eu aprecei meus passos, fazendo-o me acompanhar. Alguns casais que estavam perto da piscina nos olharam curiosos. Provavelmente um vampiro arrastando uma menina pelo braço em pleno Instituto era uma novidade para eles, mas eu estava pouco me lixando. Nós chegamos à porta do dormitório rapidamente, eu me soltei do aperto de Victor e lhe lancei um olhar furioso. Ele apenas se fez de desentendido. Eu encarei a porta novamente. Eu realmente esperava que Lucius não estivesse lá. Não mesmo. Eu girei a maçaneta querendo enfrentar logo o que eu tinha que enfrentar. Para minha sorte ele não estava lá. Eu suspirei aliviada. Victor percebeu, mas não disse nada.

- Dessa vez... – ele se sentou no sofá preto, com as pernas cruzadas em forma de quatro e os braços relaxados sobre a parte de cima do sofá, como se ele já tivesse feito isso várias vezes – eu vou esperar aqui. Pode ir se trocar.

Eu exalei exasperada e revirei os olhos. Meu Deus. Era auto-cofiança demais para uma pessoa só. Eu levantei a barra do meu vestido e fui para o meu quarto. Eu fui direto para meu guarda roupa e tirei o vestido que a Celina tinha me emprestado. Ele não parecia muito adequado para festa de hoje, mas era o único que eu tinha, alem do que eu estava usando. Eu fui para frente do meu espelho para ver os estragos que eu tinha feito no meu novo vestido. Foi então que eu percebi porque Victor insistia em me perguntar se eu estava bem. Meu rosto estava todo manchado pela maquiagem. Um borrão preto se estendia por de baixo dos meus olhos, as lagrimas haviam deixado suas marcas sobre minha pele, tirando o pó e arrastando o lápis preto sobre minhas bochechas. Meu batom vermelho estava fora da minha boca, provavelmente devido ao beijo. Aquela imagem só concretizava o que havia acontecido comigo. Eu estava arrasada, perfurada, machucada por dentro. Eu me neguei a chorar novamente. Ele não merecia. Não quando eu não sabia o motivo para tudo isso. Eu quis me trancar no quarto e ficar ali, não ver mais ninguém e apenas ficar ali. Eu repeti as palavras que estavam em meu pensamento.

- Ele não merece o meu sofrimento. Eu... Não mereço isso – eu repeti isso mais uma vez, em voz baixa.

Eu passei as mãos sobre o meu rosto tentando tirar a maquiagem borrada, mas não adiantou muito. Eu lembrei de Moira e Celina, que provavelmente estavam me esperando. Jeremi estaria lá todo sorridente e insinuante e Sam estaria, como sempre, do lado de Celina e contando sobre suas teorias políticas sobre o Conselho. Eu tinha que estar lá por eles e ate mesmo por mim. Eu saí rapidamente do meu quarto e fui ao banheiro tirar minha maquiagem, sem dar tempo de Victor perguntar alguma coisa. Depois voltei ao meu quarto, tirei meu vestido sujo e o coloquei sobre a cama. Eu cuidaria dele depois. Voltei a olhar ao espelho e fui refazer minha maquiagem. Peguei a nécessaire que Celina tinha deixado no meu quarto e comecei a passar uma base clara sobre minha pele. Em seguida passei uma sombra preta em meus olhos, os contornei com lápis de olho, passei o delineador e depois passei novamente meu batom vermelho. Passei as mãos sobre meu cabelo, voltando ao aspecto natural. Tirei meu sutiã tomara que caia que não combinava nem um pouco com o decote do vestido e o coloquei dentro do meu quarda roupa. O próximo passo foi colocar meu vestido de renda preto. Com tudo terminado, eu me olhei novamente no espelho. Eu estava linda e sexy, de uma forma que eu nunca tinha visto. Meus olhos tinham ganhado mais destaque devido à sombra preta, o que os tornou mais bonitos. Eu sorri friamente vendo a imagem refletida no espelho. Essa não era eu, não essa noite. Mas eu me recusava dar uma de Bella Swan e ter uma depressão profunda depois que o Lucius tinha me rejeitado. Eu preferia curtir minha fossa com um Jacob do que esperar eternamente pelo meu Edward. Porém ainda me restava uma duvida. Quem seria meu Jacob? Eu ri uma risada seca, diante ao meu humor negro. Eu sofreria, mas no meu estilo.
Eu saí do quarto sobre o meu salto alto e com minha auto-cofiança restaurada. Victor, que parecia perdido em seus pensamentos, percebeu minha presença. Ele me deu um sorriso surpreso e estupefato. Ele, ainda sentado, se inclinou para frente e apoio seus braços sobre suas pernas abertas. Seus olhos percorreram meu corpo lentamente, olhando cada detalhe da minha extensão. Eu deveria me sentir envergonhada, mas não me senti. Se eu tinha me vestido assim era exatamente para ter esse tipo de reação. Parecia infantil, mas quem disse que não seria divertido. Eu esbocei um meio sorriso.

- Podemos ir? – eu perguntei sem dar muita atenção a sua avaliação.

Mas ele parecia não ter ainda superado minha nova imagem. Eu andei ate sua direção com a intenção de levantá-lo do sofá, mas ele foi mais rápido do que eu e em questões de segundos já estava a minha frente. Seus olhos foram do meu pescoço até a barra do meu vestido, mais precisamente minhas pernas. Dessa vez não teve como não me sentir desconfortável. Ele continuou assim por mais um tempo.

- Talvez eu tenha me enganado sobre você – seus olhos ainda dançavam sobre mim – Talvez você não seja tão entediante como eu imaginava.

Eu não sabia se considerava isso um elogio ou não. Mas vindo dele pareceu algo bom. Eu comecei a me sentir realmente desconfortável com a situação.

- Pode parar de olhar a barra do meu vestido agora, por favor – eu disse um pouco desconcertada.

Ele me lançou um meio sorriso afetado, seus olhos voltaram aos meus e eu pude ver divertimento neles.

- Não era bem a barra do seu vestido que eu estava olhando... – ele continuou a sorrir aquele maldito sorriso pretensioso, mas parou de me olhar tão descaradamente.

- Tanto faz – eu dei de ombros e tentei ir para porta.

Ele me impediu, segurando meu braço. Ele balançou sua cabeça em negativa ainda rindo.

- Se vamos passar ciúmes no Lucius... – seus olhos estavam nos meus, mostrando entender como eu me sentia – Vamos fazer isso direito.

Talvez eu tenha encontrado meu perfeito Jacob afinal. Nos ficamos assim, eu em silêncio, ele com seus olhos profundos, esperando minha resposta. Eu mal o conhecia, mas ele agia como se já me conhecesse de longa data. Mas eu suspeitava que ele agisse assim com todo mundo. Ele agia como se fosse o dono do mundo e que nada o impedia de ter o que ele queria. E da forma como ele agia e falava eu comecei a acreditar que realmente era assim.

- E quem disse que eu quero passar ciúmes no Lucius? – eu finalmente disse, novamente na defensiva, só que dessa vez eu estava curiosa em saber sua resposta.

Ele largou meu braço ao perceber que eu estava curiosa de mais pra sair do quarto e deixá-lo sozinho, mesmo sabendo que isso não aconteceria se ele não quisesse. Ele inclinou a cabeça para o lado me avaliando para saber se eu não estava fingindo meu interesse. Por fim ele pareceu rir da minha ingenuidade e deu de ombros. Minha raiva aumentou um pouco vendo que ele me tratava um pouco como criança, mesmo me achando crescida demais para olhar meu corpo com certo interesse. Isso me lembrou alguém.

- Isso é meio óbvio, você não acha? – ele deve ter visto minha expressão de dúvida. Ele pareceu surpreendido com algo, mas não deu sinal que me explicaria – Eu vi Lucius entrar com uma cara um pouco, como posso dizer... – ele olhou para o teto tentando achar a palavra certa – Aflita no ginásio depois da minha apresentação ao Instituto. E tanto eu como você sabemos que Lucius não é do tipo que se expressa muito. E alem do mais para ele perder minha volta deve ter sido por uma coisa muito importante. Então quando eu fui ao jardim e encontrei você, apenas você, agachada e chorando, eu tive certeza que alguma coisa tinha acontecido. E mais certeza ainda quando eu soube o seu nome.

Ele esperou eu digerir as palavras que ele tinha dito. Então ele sabia do meu envolvimento com o Lucius? Não que ele não tenha me dito isso indiretamente, mas para mim ele só tinha uma vaga noção disso. Bem, parece que não. Eu não disse nada a ele, com medo de dizer de mais. Eu não contava isso para muitas pessoas e não pensava em dividir meus pensamentos mais dolorosos com o investigador do Instituto. Ele era esperto de mais para não perceber que eu não falaria nada. Então ele continuou a falar.

- Muito típico do Lucius alias, mas não é disso que eu estou falando... – ele me olhou nos olhos de forma sedutora e intensa – Nós poderíamos fazer um acordo?

- Um acordo? – eu disse surpresa e muito desconfiada.

Ele acenou com a cabeça lentamente – Sim, um acordo. Eu te daria o que você mais quer nesse momento. Eu tenho certeza que ele não ficaria nem um pouco feliz ao me ver com você. E em troca você me ajudaria a encontrar as informações que eu quero.

- Encontrar?

- Há coisas na sua mente Claire... – ele levou sua mão ao meu braço, me acariciando, tentando passar segurança em suas palavras – que são muito valiosas pra mim.

- O que eu ganharia realmente com isso? – eu disse um pouco ofendida. Não é como se fazer ciúmes no Lucius fosse tão importante como minhas lembranças.
- Alem de mim... – ele apertou meu braço, mostrando a força de suas palavras. Mas em seu rosto ainda tinha a mesma feição desinteressada e sedutora de antes – Você faria Lucius sofrer da mesma maneira que ele esta te fazendo agora. Vingança. Você não sabe como isso pode revitalizar uma pessoa – ele deve ter visto que eu não fiquei muito feliz com a proposta e se adiantou – Mas isso ainda é uma coisa pra você pensar. Hoje eu só ofereço minha companhia. Aceita?

Eu o olhei um pouco hesitante. Ele se aproveitou da minha reação para fazer um trocadilho idiota.

- Eu não mordo Claire – ele arqueou uma sobrancelha e completou o sábio comentário – Não quando não me pedem. Mas eu tenho certeza que você me pedira um dia.

Seu sorriso convencido estava de volta. Eu revirei os olhos, mas aceitei seu braço estendido e o segurei com minhas mãos. Eu tentei esclarecer as coisas.

- Isso nunca vai acontecer – eu disse um pouco zangada com sua certeza.

- Isso é o que você me diz agora, mas eu não vou discutir isso com você - ele finalizou vendo minha expressão indignada – Eu espero que você esteja preparada para chocar a grande sociedade hoje à noite.

Ele piscou para mim e riu divertido com suas palavras. Eu não entendi muito o que ele quis dizer com isso, mas isso foi antes de chegar ao salão.





Foi como um déjà vu. A porta do refeitório foi aberta lentamente, tentando não chamar atenção, pelo menos eu tentava não chamar tanta atenção, já Victor parecia não se importar. Mas dessa vez os iniciantes não estavam sendo apresentados e minha entrada com o Victor pareceu à coisa mais interessante que iria acontecer depois disso. Olhos estalados se voltaram para nós e as pessoas começaram a cochichar umas com as outras. Não que eu esperasse outra reação, mas eu não esperava essa reação exagerada. Enquanto nós andávamos ate uma mesa perto do palco às pessoas pareciam chocadas com algo, eu não sabia se era o fato de eu estar com um vampiro ou pelo tamanho de meu vestido ou ambos. Eu decidi ignorar os olhares, eu já estava estressada de mais para me preocupar com que as pessoas iriam pensar. Victor arrastou uma cadeira para que eu sentasse e em seguida ele sentou ao meu lado na mesa redonda.

- É como se eu tivesse feito algo errado ou tivesse matado alguém – eu comentei com ele me refirindo aos olhares.

- Mas você esta fazendo algo errado garotinha. Você fez pior do que matar alguém, você esta andando com um morto vivo – ele se inclinou para mim com se fosse contar um segredo – eu não duvidaria nada se um membro do Conselho chegasse aqui para conferir se eu não perfurei seu lindo pescoço.

Passado exatamente vinte minutos as palavras do Victor se concretizaram. Um dos membros do conselho, Samuel, foi em nossa direção com um olhar reprovador para Victor. Victor pareceu se divertir com a situação, mas no fundo eu sabia que ele não estava tão relaxado como aparentava. Sua postura relaxada se tornou um pouco dura e seus dedos começaram a trombetear sobre a mesa. Samuel parou entre mim e Victor, suas asas brancas abertas e esplendorosas, mostrando toda sua presença.

- Victor – o seu olhar duro foi para Victor.

- Samuel – Victor disse em um tom frio.

- Claire – ele se direcionou a mim.

- Samuel – eu disse em tom respeitoso.

- Eu espero não estar interrompendo nada, estou? - ele olhou de mim para Victor.

Victor sorriu para ele de forma forçada e depois olhou para mim – Bem essa é minha deixa para fingir que eu preciso de uma bebida.

Ele se levantou e se voltou a olhar Samuel.

- Eu espero que o meu pedido em relação as bebidas foi atendido.

- Claro Victor – essas palavras foram ditas com certo desprezo.

- Que pena. Eu esperava usar a Claire mais uma vez para saciar minha sede – ele bateu em um dos ombros do Samuel.

Para Victor isso podia ser algum tipo de brincadeira, mas não para mim.

– É bom rever você Samuel.

- Também Lefroy.

Tanto eu quanto Victor sabíamos que isso não era uma verdade, mas etiqueta é etiqueta, mesmo para o Conselho. Seus olhos duros e opressores foram para mim. Eu senti uma grande necessidade de me explicar.

- Samuel, Victor só estava brincando – eu disse um pouco sem graça.

- Eu sei que ele estava brincando. Ele gosta de me provocar, só isso – ele sentou ao meu lado e por um instante pareceu que ele olhou meu pescoço, mesmo dizendo que sabia que era brincadeira.

Eu já o tinha visto no palco, mas assim de perto suas feições pareceram mais perfeitas. Ele aparentava ser mais velho, aproximadamente uns quarenta anos. Seus olhos eram verdes, seu cabelo castanho escuro era um pouco cacheado e curto, ainda tinha um pouco de barba, mas era bem feita, eu via algumas linhas envolta de sua boca enquanto ele sorria para mim. Ele usava um smoking preto e sapatos sociais. De alguma forma ele era bonito, mas a sua presença tão confiante e segura me deixava um pouco desconfortável.

- Eu vou ser breve Claire. – ele ainda tinha um sorriso no rosto, mas suas palavras foram fortes – Eu preciso que você confie em mim ou no Conselho para qualquer coisa que aconteça com você. Pode confiar em nós assim como você confia na Sura. Seria muito gratificante se você fizesse isso.

As palavras foram ditas em tom calmo, mas foi um baque para mim. Todos pareciam esperar algo de mim, até o Conselho. A forma como ele me tratou me fez sentir mais pressionada do que o normal. Se eles queriam tanto que eu dissesse algo, porque eles não explicavam as coisas? O que tinha acontecido? Isso se eles realmente sabiam de algo. A cada dia eu chegava à conclusão que isso dependia mais de mim do que de qualquer outra pessoa. Eu me perguntei se minha irmã tinha alguma coisa a ver com isso, porém eu tinha certeza que ele não me daria às respostas que eu queria. E mesmo que me dessem eu não tinha coragem de falar o que eu tinha visto, não para um membro do Conselho. Isso poderia ser importante, mas Bianca era minha irmã e se eu fosse encontrar respostas seria sozinha.

- Claro Samuel, eu confio em vocês – eu me vi mentindo. Eu não queria mais suspeitas ao meu redor.

- Que bom que é assim – ele me ofereceu um sorriso agradecido e por alguns instantes em me senti culpada, mas isso passou rapidamente. Ele se levantou e eu repeti o gesto – Foi um prazer te conhecer, oficialmente, Claire.

- O prazer foi meu Samuel

Nós nos despedimos. Ele levou minha mão a sua boca e a beijou. Eu acenei em respostas e o deixei ir. Eu sentei na cadeira novamente e cruzei minhas pernas inconscientemente. As coisas estavam ficando cada vez mais sérias. O que eu achava que era apenas uma coincidência começou a fazer mais nexo agora. Não deveria ser coisas sem sentidos. Deveria ter alguma ligação nisso. Mas que ligação?

- Aceita? – Victor apareceu ao meu lado sem que eu percebesse e me tirou dos meus pensamentos.

Ele se sentou ao meu lado, ainda com a taça na mão me oferecendo, enquanto na outra mão havia sua própria taça. Eu considerei que minha taça deveria ter vinho ou suco de uva, já que o liquido era roxo. Já a do Victor não era bem um vinho. O liquido tinha uma cor vermelha, um pouco escuro, eu considerei ser Martini vermelho ou alguma bebida, mas pela espessura eu sabia que não era. Era sangue. Eu peguei minha taça e deu um gole, percebendo que não tinha apenas suco de uva.

- Vodka? Você não esta tentando me embebedar não ne Victor ou esta? – eu perguntei.

- Eu achei que depois de enfrentar o Samuel você precisava de uma dose. E não precisa se preocupar com a parte de te deixar bêbada. Eu não preciso desse tipo de artimanha para conseguir o que eu quero – ele abriu os braços, mostrando seu corpo – ou você acha que eu preciso?

Eu o olhei, mas dessa vez mais detalhadamente. Na luz clara do salão a pele dele era mais branca que o normal, por isso seus olhos azuis ganhavam certo destaque. Seu corpo era grande e extenso e eu poderia jurar que embaixo desse terno haveria músculos modestos contornando seus braços e pernas. Eu tinha que confessar que não gosto muito de homens com cabelos compridos, mas nele parecia bom. E não era só isso. Havia aquela estranha confiança nele que nos deixava confortável com sua presença e impressionantemente querendo mais.
É. Definitivamente ele não precisava desse tipo de artimanha. Ele abriu um sorriso depois da minha avaliação. Eu não precisava falar para ele o que eu tinha achado, os meus olhos já falavam por mim.

- É. Foi o que eu pensei – ele colocou seus cotovelos sobre a mesa e bebeu mais um gole do seu líquido viscoso.

- Me diz uma coisa Victor, o que exatamente você veio investigar no Instituto?

Ele virou sua cabeça em minha direção, parecendo um pouco mais sério.

- Inicialmente eu vim investigar o ataque que aconteceu com você. Não teria como um espectro entrar no Instituto, não em uma terra sagrada. Isso significa que alguém o invocou ou as forças da Corte esta mais próxima do que nós imaginamos. Mas isso são só suspeitas, ainda.

- E você esta me falando isso por quê?

- Você é uma parte importante nessa equação Claire. Eu preciso ser sincero com você se quero que você participe disso – ele me olhou nos meus olhos dessa vez. Ele foi sincero como ninguém antes foi. Eu o apreciei por isso.

- E é só isso?

- Você acha que é só isso?

Não, definitivamente eu acho que não. Tinha algo nele, nos seus olhos que me diziam que não era só isso. Mas ele não me falaria sobre isso hoje. Novamente eu fui interrompida por uma certa amiga.

- Onde você estava Claire? – Moira esbravejou para mim.

Eu me assustei inicialmente. Victor nem se importou. Eu voltei meu olhar mais sério para ela.

- É bom te ver também Moira.

- Bom me ver? Eu e a Celina estamos procurando você iguais umas loucas. Ainda por cima o Jeremi me deu a elza falando que ia te achar e ate agora nada. E você me aparece aqui sentada com um estranho... – Moira se voltou para o ‘estranho’ para apontá-lo para mim, mas acabou ficando sem palavras ao saber quem era.

Eu sorri para ela vendo sua cara trágica. Ela esperava todo mundo menos ele.

- Victor, essa é minha amiga Moira de Carvalho – eu me virei para Moira – Moira este é meu novo amigo Victor Lefroy.

Victor não perdeu a oportunidade e puxou a mão da Moira rapidamente. Ele ainda a olhava ao beijar sua mão.

- O prazer é meu – ele disse com a mão da Moira entre seus dedos e com a voz mais baixa e sedutora.

Cara, ele era muito bom nisso. Moira ficou em silêncio por bastante tempo, sendo ela foi praticamente um milagre. Talvez ela tivesse tempo para todo esse show, mas eu não.

- Então onde esta a Celina?
- Celina? – ela franziu a testa – Ah! Celina. Eu não sei. Eu acho que ela foi procurar no seu quarto ou alguma coisa assim.

- Acho melhor então nós acharmos ela – eu me levantei e levei minha taça comigo – Você se importa Victor?

Ele se recostou na cadeira, relaxado – Pode ficar tranqüila Claire, a imagem de ver você partir não vai ser tão chocante quanto te ver se distanciar com esse seu vestido de renda.

Eu exalei. Ele exagerava de vez em quando, mas parecia fazer parte dele.

- Certo – eu o dei uma última olhada antes de me virar para Moira – Vamos?

- Eu acho que a Celina pode se cuidar sozinha Claire. A gente podia se sentar aqui e fazer companhia pro seu novo amigo...

Eu me recusei a escutar o resto. Enquanto Moira ainda falava eu a empurrei para o meio do salão.

- Também não precisa ser tão rude. Eu só queria conhecer seu novo amigo – ela deu ênfase à última palavra me incriminando – Eu toda preocupada por que você tinha sumido com o Lucius indo pro jardim e quando te encontro você esta com Victor Lefroy! Agora eu sei por que você demorou tanto...

- Você me viu sair com o Lucius?

- E quem não viu! Vocês estavam todo ‘chamego’ no meio do salão, só faltavam se pegar ali na frente de todo mundo. Então você sai para o jardim e ele ainda vai junto e quando volta ta todo afobado e apressado para alguma coisa. E você some.

- Ele sai do salão? – eu perguntei preocupada sem me importar com as acusações.

- Sim e não voltou mais.

Eu senti meu coração se apertar. Ele tinha saído do salão, talvez ate do Instituto.

- Mas ainda tem mais – Moira pegou minha taça abruptamente e bebeu – o Jeremi, minutos depois de o Victor ser chamado ao palco, falou que ia te achar e depois sumiu. Me deixou ali sozinha, de vela com o Sam e a Celina.

Ela bebeu mais um gole da ‘suco’ e parou do nada.

- Espera aí. Isso é Vodka? – ela me olhou surpresa.

- É. Foi Victor que me deu – Moiro arqueou a sobrancelha e sorriu maliciosamente – Foi apenas uma bebida Moira!

- Começa assim. Só uma bebida, só um encontro, só um sexo casual...

- Sexo casual? – uma mulher a perguntou.

Moira empalideceu ao ouvir aquela voz.

- Mãe! O que a senhora esta fazendo aqui?

Se não fosse pela situação eu já estaria rindo horrores. A mão da Moira tinha os mesmos traços que a Moira. Sua pele era morena, seus olhos eram negros, seus cabelos presos eram tão negros como os dela. Havia algumas rugas, mas se não fosse isso elas poderiam ser consideradas irmãs. Mas diferente do vestido de seda da Moira, sua mãe usava um vestido longo e solto no corpo, sem marcá-lo, com a apenas alguns bordados no bojo do vestido prata.

- Celina estava procurando por você então eu resolvi ajudá-la e vim te dizer que ela esta na nossa mesa com seu pai e a mãe dela.

- A claro! – ela disse um pouco desconfortável.

A mãe da Moira desconfiada da postura da filha começou a chegar mais perto e lhe lançou um olhar interrogativo.

- Eu espero senhorita Carvalho que isso na sua mão seja apenas suco de uva e não vinho – sua voz saiu baixa e dura.

- Mas esse copo não é meu, mãe. É da Claire – ela disse antes que sua mãe fizesse mais estremo e bebesse para provar um pouco.

- Me desculpa senhora Carvalho, eu mandei a Moira segurar para mim por um momento – eu entrei no jogo da Moira.

Ela pareceu desconfiada no começo, mas desistiu no final.

- Eu que peço desculpa por não ter me apresentado – ela sorriu e ofereceu sua mão – Adélia de Carvalho.

Eu apertei sua mão em retorno e sorri para ela – Claire Bauer.

- Eu já ouvi muito sobre você na última vez que eu encontrei a Moira. Então você realmente uma Blind?

Não era nem um pouco estranho à mãe da Moira saber sobre isso. A maioria dos familiares que estão aqui sabiam sobre o dom de seus filhos. Durante o processo de ceder o dom ao feto, o anjo resignado à família explicava toda a situação: o dom, sua função no mundo e o porquê de serem escolhidos. Para alguns seria uma loucura, mas todos que tiveram eventuais encontros com seu arcanjo tinham uma fé inabalável. Isso ajudava muito na hora da escolha dos pais.

- Sim. Eu sou uma blind, senhorita Carvalho – eu assenti.

- Me desculpa te perguntar assim, mas é tão raro encontrar um, pelo menos é o que todos dizem – ela riu um pouco sem graça devido seu atrevimento.

- Eu só a perdôo se você me deixar chamá-la de Adélia.

- É claro que pode! Mas agora eu acho que devemos voltar à mesa. Vamos?

- Mãe pode ir na frente. Eu e a Claire já vamos.

Adélia se despediu de nós rapidamente e nos explicou onde ficava a mesa. Um momento depois de ficarmos sozinhas, Moira se voltou revoltada.

- Sua puxa saco!

- Você tinha é que estar me agradecendo por isso. Ou você queria explicar pra sua mãe sobre o ‘sexo casual’? – eu lhe lancei um olhar reprovador.

- Convencida!

- Chata!

Nós ficamos assim, sem nos falarmos. Eu não agüentei muito tempo.

- Afinal o que a gente ta fazendo aqui?

- Procurando alguém! – ela disse um pouco emburrada.

- O Jeremi vai voltar não se preocupa.

- Você acha que eu to procurando o Jeremi? Eu to é procurando o Irial!

- Você ainda não o viu?

- Não. Nem ele, nem a vaca da Minogue. Isso não é nem um pouco bom – sua cara amarrada aumentou.

- Talvez a Celina tenha os visto. – eu sugeri.

- Talvez...

E em um piscar de olhos Moira nos levou para a mesa onde estava sua mãe. Na mesa estava Celina, Adélia e o que eu suspeitava ser o pai da Moira e a mãe da Celina. Nós nos sentamos e cumprimentamos mutuamente. O pai da Moira era do exato jeito que ela já tinha me descrito. Alto e com um pouco de barriga, tinha um bigode grande e preto. Ele era um pouco mais claro que a Moira e sua mãe. Usava terno, o que o deixava mais sério e um chapéu de cowboy. Ele era vendedor de gado no seu estado e pelo que Moira tinha me contado tinham bastante dinheiro.
A mãe da Celina estava mais distante, tinha os traços delicados, seus cabelos eram loiros e mais claros. Seus olhos eram verdes e sua pele era bem clara. Usava um terninho bege, bem discreto. Eu sabia onde Celina tinha herdado tanta beleza. Mas diferente de Celina que tinha vida em seus traços, a mãe dela estava definhando em seu próprio mundo. Ela era uma das raridades que eu tinha falado. Ela um dia acreditou em tudo isso, mas depois que o pai de Celina, seu marido, as abandonou depois de ter a Celina, tudo isso desmoronou. Se a Celina continuou no Instituto foi por pedido dela e do próprio Instituto. O dom dela era muito raro para ser descartado. Mas eu não sabia muito sobre isso, Celina não gostava de falar sobre isso.
Adélia fez questão de nos apresentar.
- Claire esse é o meu marido, Mário de Carvalho – eu acenei para ele em reconhecimento – e essa é minha grande amiga Mirian Fleury.

Eu a cumprimentei com um aceno de cabeça e ela fez o mesmo.

-Onde esta o Sam? – Moira mudou de assunto.

- Em algum lugar com os pais deles – ela lançou um olhar à multidão – mas meus pés estão cansados de mais para eu procurar ele.

- Você achou o Jeremi? – eu perguntei me lembrando dele.

- Não, mas eu encontrei alguém – ela apontou com a cabeça para um canto do salão. Em um canto um pouco escuro e distante estava duas pessoas que pareciam bem intimas. Normalmente eu não reconheceria quem era, mas pelas suas asas eu sabia bem quem era. Irial. E ele não estava sozinho, Luisa estava com ele. Na penumbra eu não sabia se eles estavam abraçados ou só conversando, mas isso já foi o suficiente para tirar a Moira do sério.

- Eu preciso ver isso mais perto – ela se levantou subitamente.

Conhecendo bem a Moira, se nossas suspeitas estivessem certas, ela não olharia somente. Provavelmente ela faria um escândalo sem se importar se sua mãe ou pai estavam lá. Celina também a conhecia tão bem como eu. Então nós nos levantamos rapidamente e fomos atrás dela. Ela era mais ágil e para minha infelicidade o Victor resolveu aparecer nesse exato momento.

- Claire! – ele exclamou entre a multidão – te encontrei.

- Que bom – eu tentei me mover para frente, mas ele não deixou.

Celina que era mais esperta ultrapassou Victor e foi em direção a Moira. Eu o encarei bravamente tentando o afastar. Ele já tinha desfeito o nó da sua gravata e na sua mão tinha outro copo com sangue.

- Eu vim te avisar que estou indo, isso esta me entediando...

- Ta bom Victor – eu disse abafada.

Vendo minha pressa e onde Celina estava indo ele pareceu perceber algo.

- O que aconteceu? – ele pareceu se interessar.

- Eu to tentando impedir a Moira, aquela minha amiga, de bater em um instrutor.

- Instrutor? – ele voltou a olhar para trás e deve ter visto de quem eu falava – Você esta falando do Irial e da... Minogue? – ele pareceu realmente surpreendido – A Minogue esta aqui?

- Você conhece a Minogue?

Ele sorriu para mim divertido, como se tivesse redescoberto seu brinquedo antigo. Ele pegou minha mão e começou a me puxar em direção a Moira e a Celina. Mas diferente do que eu pensava, ele as passou, deixando as discutindo sobre algo, e foi em direção ao casal. Cara isso não me parecia bom.
Subitamente ele virou seu rosto para mim e parou de prestar atenção no caminho.

- Me observe – ele simplesmente me disse, com aquele sorriso sapeca de volta.

Então, como num filme, Victor esbarrou em Luiza e derramou sua ‘bebida’ vermelha sobre o vestido estilo tubinho ocre. Os mais próximos observaram a cena e ficaram chocados com a cara de pau do Victor.

- Mil desculpas senhorita, eu não tinha percebido que você estava aqui – ele disse com as ‘melhores das intenções’.

Isso foi uma mentira e uma das grandes. Luiza estava chocada de mais para responder alguma coisa. Eu? Eu não sabia se eu ria ou gargalhava. Se eu tinha alguma coisa contra o Victor, eu não tinha mais. A partir de agora eu só poderia amá-lo.
Mas meu bom humor foi diminuindo ao ver que Irial não tinha achado as coisas tão engraçadas como eu. Sua postura tinha mudado, ele parecia estar preparado para atacar a qualquer minuto. Suas asas delongadas estavam abertas e agitadas. Ele não pareceu se importar se o Conselho estava ali ou não. Afinal Victor era um vampiro. Mas foi a própria Luisa que pegou a dianteira e começou a andar em direção a Victor.

- Victor... – ela disse seu nome com desprezo – a última vez que eu te vi eu estava quase te matando, vampiro.

Victor sorriu aquele sorriso convencido de sempre. Parecia ser sua marca.

- Engraçado, porque a última lembrança que eu tenho de você não era essa. Pra ser mais exato eu lembro que você gritava o meu nome. Na minha cama.

No começo eu pensei que ele se referia alguma batalha, mas depois dessa última declaração eu vi que não era bem o tipo de ‘luta’ que eu imaginava. A tensão ficou mais eminente. Todos estavam em silêncio. Luisa parecia pensar em fazer ou falar algo. Eu vi seu punho fechar e como um pressentimento eu sabia que ela estava disposta a lutar com ele. Mas Victor foi mais rápido dessa vez.

- Eu espero que você não faça o que você esta pensando. Não na frente do Conselho – sua voz soou como uma ameaça.

Bem parecia que eu não era a única a odiar a Minogue.

- Tem prataria o suficiente aqui para eu estacar seu coração, Victor – o seu tom foi baixo, mas ameaçador.

- Eu não duvido disso. Mas, tanto eu como você, sabemos que você não seria capaz de me matar – sua feição relaxada se tornou mais dura e perigosa. Pelo jeito ele não gostava muito de ameaças.

- Mas eu sou.

Meu coração gelou nesse momento. Eu reconheceria essa voz em qualquer lugar ou situação. Eu não esperava vê-lo tão cedo. Eu não esperava vê-lo hoje. Talvez eu esperasse nunca mais vê-lo. Mas eu sabia, no fundo, eu sabia que ele não tinha se despedido do Instituto, mas sim de mim. Ele tinha desistido de mim. Então todo o esforço de me manter forte se foi. Eu queria desesperadamente sair dali.

- Onde você estava? – Luisa esqueceu momentaneamente da briga com o Victor.

- Eu estava com o Jeremi.

- Com o Jeremi? – esse comentário me pegou desprevenida.

Eu me virei para ele, me esquecendo dos meus sentimentos. Mas seus olhos estavam na Luisa. Ele andou para ela e parou ao seu lado, cumprimentando Irial e Luisa. Ele mal olhou para Victor ou para mim.

- Parece que ele teve algum problema familiar e teve que sair do Instituto por algum tempo.

- Mas hoje a noite?

- E você só o avisou agora? – ela parecia um pouco decepcionada.

Eu e Luisa perguntamos, mas lógico ele resolveu responder só a Luisa.

- Eu tinha coisas a fazer.

- Eu imagino que coisas você estava fazendo – Victor olhou diretamente para mim.

Então todos me olharam, até Irial que parecia não entender nada, me olhou. Eu fiquei ali sem fala. Victor me usaria como arma para atingir Lucius eu sabia disso. Mas eu não ficaria ali o tempo suficiente para isso. Eu senti a minha máscara começar a cair. Eu tinha que sair dali imediatamente.

- Com licença – eu disse abruptamente sem me importar.

Por milésimos de segundos eu vi os olhos de Lucius em mim. Mas então eu já tinha ido. Eu fui para Moira e Celina e me despedi, dizendo que estava com dor de cabeça. Elas ainda estavam distraídas com os recentes fatos e não se importaram de eu ir. Momentos depois eu percebi que Victor me acompanhava, mas eu não disse nada. Nós ficamos em silêncio até chegarmos ao meu dormitório. Por fim eu me virei para Victor.

- Não precisa fingir que se importa Victor – eu o ataquei verbalmente.

- Eu não vou fingir. Eu só espero que isso não afete nossa relação. – ele disse secamente.

- Não. Isso não vai afetar nossa relação, porque eu... eu aceito o seu acordo, o nosso acordo.

8 comentários: